Prosa poética

Velas Náufragas

Diego Mendes Sousa A obra "Velas náufragas" (Editora Penalux, 2019) de Diego Mendes Sousa é um epilírico dividida em duas partes: "Alma litorânea" e "Coração costeiro". Herdeira da "Mensagem" do poeta po…

A bola

A bola rola fora do coração. A bola boia no espaço. É levada pelo vento e se enrola. Eu olho quando elas sobem vestidas de claridade. As bolhas. E se transfiguram em moscas volantes. Bola. Bolha. Mosca. Acima da minha venta. E fui out…

Pra você

Eu poderia dizer todas as coisas do mundo, vasculhar os dicionários e neles selecionar todos os vocábulos para expressar os meus sentimentos. Eu poderia materializar a minha alma, o que ela viu vê e pensa a seu respeito. Ah, quantas cois…

Outros olhos

* Eu vi dentro dos meus olhos outros olhos. Eles estavam lacrimejados. Aqueles olhos tinham neblina e estavam fatigados dos dias. Aquela carne se mostrou frágil perante mim. O meu espírito não se conteve. A minha face transfigurou-se em fo…

Beijando a flor

Em frente da minha casa há um jardim. Nele, um beija-flor beija as flores todas às tardes. Todos os sábados, em frente da minha casa, uma garota colhe  flores. Houve uma semana que ela, o beija-flor e as flores se encontraram. O be…

Sabor de acerola

Hoje eu ri. Mas a noite não é minha. Foi dela. Quando a vi, meu corpo se inquietou. Teria tantas coisas para dizer a ela. A voz, no entanto, se embargou.  Sem solução, chupei acerola e procurei nas sementes um sabor para mim. …

O vai, o vem

A brisa é suave. As pessoas não vão e não vem sem as preocupações das metrópoles. Os pardais pipilam misturados aos roncos de alguns motores. Vão, vem e não se sabe a importância de cada um, o sentido por aqui, a permanência passageira. …

Malinações do vento

Ele vem tonto e com cara de bento. Lá, em sua morada, o mundo não pára nem brinca. Enfadado do cata-vento, saiu das hélices e foi parar nos galhos, nas ruas e nas saias. De saia em saia, o malino menino sem aljava ou seta aprontava com as gar…

Um pouco do tempo

O tempo de doação e de anjo está se expirando. O tempo de compreensão mais lúcida está se aproximando. O tempo mal aproveitado e disperso está se organizando. O tempo feito de dor e angústia está amadurecendo. É o meu tempo, nada mais que …

Sem etiqueta

Esta roupa que uso não é minha. É da terra, da morte, da vida. Esta roupa não está em nenhum manequim ou em alguma vitrine, por isso não posso comprar, por isso me constrange. Ela está emprestada. E só posso devolvê-la apodrecida. A ferrugem na…

Rascunho II

Sentado na cadeira, mudo. A tristeza, riacho nos sulcos da face, descia sem rumo. Ondas se agitavam, Limitando-se aos grãos. Quando verem a máscara da tristeza, notai  a expressão do eu em meio à pressão, Sem fonemas, palavras, mas com ruga…

A estátua de carne

Eu me construo  de mundos diferentes.  E me encontro com breves explicações vagas, balbuciadas de várias bocas, contribuindo apenas para o caos.  Eu – uma estátua de carne úmida – ouvia fonemas fracos como redemoinhos nos meus tímpanos. Acon…

Miserável foi o amor

Eu irei me recolher no meu próprio sofrimento E me calar para o amor. Não irei me refugiar no silêncio mais frio e baço dos teus olhos feito menino pidão E procurar no chão por uma formiga. Não irei me oprimir. Se o meu mundo estiver…

Mover e mover

Era café e leite no assento da praça Com carícias e beijos afogueados Sob o sol fatigante Envolvidos e abafados no tempo. Noutra parte o mundo se movia Com as palavras, com os pés, Com os gestos, a respiração, o riso E o coração. O mu…

Face dupla

Olhai a cara das palavras e verás que as suas letras pulam, mudam de lugar Penetre no mundo delas dos sonhos e verás a variedade das cores. Mas cuidado porque existem palavras que encolhem e outras esvaziam o coração e outras…

Rascunho 1

Vai dos meus olhos e deles vêm a onda chamada amor Quebrando-se delicadamente nos meus pés… Acontece que Posêidon revoltado estar, Agitando-se e agitando as ondas desse mar E muitos  rostos púberes não sabem nada-r Do frágil desamor Do…

Retrato

Vi a minha face dentro do espelho. Mas quando virei o rosto Eu a perdi no esquecimento. Passo por uma rua inclinada e a vejo numa soleira. Dei-lhe um riso contido, mas ela não percebeu. Sigo adiante e percebo meus pés pi…

O problema do amor

O problema do amor é que as pessoas o fantasiam. O problema do amor é que as pessoas criam imagens e perspectivas do objeto amado. Elas nunca se preparam para a dor. Nunca se preparam para a decepção, como se o amor fosse um estado de graça …

Urbano coração

Agonia nos cantos da casa, nas esquinas das ruas, nos ângulos do mundo. O mundo anda, corre, embriaga-se, cambalea no espaço sem rumo;  humilhando corações humanos que não são mecânicos. E os homens, meninos, saem pelados pelas ruas; corr…

Os dias nunca se repetem

Eu sou nas coisas E me debruço nas linhas tortas das mãos. Eu sou no mais porvir, que é acordar com o mundo, tentando com toda força renascer; pôr  uma película neste planeta para que o rumo incerto que ele tome seja melhor com os sóis. Estou…

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