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Mostrando postagens de junho 10, 2012

Sangue vermelho

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O menino no sangue, o menino no asfalto era um menino antes que um carro bêbado o atropelasse. As pessoas passam, olham; umas torcem a cara. É horrível! Outras torcem o nariz… Mas o corpo do menino está lá no sangue, no asfalto. E ninguém pensou no blindado de esperança de que ele se revestia não o fez intacto da morte. Quando penso no sangue daquele menino que, talvez, quisesse ser padre, Penso também no sangue da prostituta que não queria ser prostituta, no vendedor de livros que não queria ser vendedor de livros , no vagabundo ambulante que sonhara uma vida digna, e não pode nem sustentar a si mesmo. Dói-me todos os seus sonhos extraviados. Dói-me todos os seus sonhos extraviados. Por isso abraço e beijo a puta no lado mais escuro da esquina. Dou a ela a minha compreensão e lhe faço carícias que ninguém vê. Por isso divido o meu cigarro com o bêbado, com o mendigo, e dou ao menor mais que a humilhante moeda. Dou a eles a minha compreensão. Havia uma mulher que tinh

Sem etiqueta

Esta roupa que uso não é minha. É da terra, da morte, da vida. Esta roupa não está em nenhum manequim ou em alguma vitrine, por isso não posso comprar, por isso me constrange. Ela está emprestada. E só posso devolvê-la apodrecida. A ferrugem nasceu comigo atrapalhando o entendimento. Por isso a roupa, que não é minha, continua apodrecendo na vitrine. Cadernos, 03/12/97.