25 de jul. de 2008

Céu plúmbeo


O céu estava plúmbeo. No outro lado do rio, uma nova croa apareceu; entristecendo os corações dos ribeirinhos. Uma canoa passou melancólica e solitária.

Desci a rampa do porto das lanchas. Dentro de uma delas, olhei no visor do celular. Estava atrasada cinco minutos. Foi dado partida no motor. A lancha saiu de ré, auxiliada por um caibro roliço.
Diante de mim, vestido à Caruaru, um jovem de uns vinte e cinco anos tentava nos esconder a face e os olhos sob a aba do boné branco. Era como se ele estivesse nos escondendo algo, receando que a gente desconfiasse ou descobrisse.

A brisa suave e fria batia nossas faces e as águas, as poucas e cansadas águas do pobre Chico receberam as primeiras gotas do céu. O vento, malinando sobre a face das águas, formavam pequenas marés. A lancha se balançou e uma senhora, no fundo, estava aflita. Próximo a ponte, apesar da distância, notávamos a imensa ilha com currais que servem para pequenas criações de gado bovino. Ilha esta que antes não existia, mas que agora faz parte da vida dos ribeirinhos. Os assoreamentos surgem como um câncer.

E a lancha, sem saber, transportava a tristeza dos meus olhos para o outro lado do rio, onde iríamos parar num outro porto que nos receberia com um bueiro de esgoto.
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23 de jul. de 2008

Por que tenho que ler


Ler é um ato homólogo ao de pensar, só que com uma exigência de maior complexidade, de forma crítica e desautomatizada. Quem não sabe pensar mal fala, nada escreve e pouco lê.

Eliana Yunes.

Ler não é simplesmente deslizar os olhos sobre letras, orações, parágrafos e páginas. É assimilar, compreender. Não é apenas visualizar com a mente o objeto lido. É interiorizar conhecimentos e se tornar um ser mais, como nos ensina o educador Paulo Freire. “Ser mais” é ter consciência crítica. É participar do mundo e de suas transformações. Quem lê organiza e reorganiza ideias, fortalece o senso crítico e através dele opina, interage com o mundo ao qual está inserido.
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22 de jul. de 2008

Meninos de algodão

Pense nos meninos rotos
Que sonham com bolas douradas
Pensem nos raimundos
Que sonham com algodão doce
Pensem, pensem


Olhem quanto doce branco há no céu
Olhem para os meninos
Que não tem céu

Pensem na bola que rola
Nas bolas douradas de sorvete
Que bóiam no céu

Olhem para o raio do mundo
Meninos no corpo, mas pés no chão

(LIMA, Ronaldo Pereira de Lima. Agonia Urbana. Rio de Janeiro, CBJE, 2008)
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Fragmentos


O rádio toca, os carros passam. 

Debaixo do teto as pessoas conversam, a lagartixa aparece na parede branca. A cozinheira faz à comida...

 A família janta. As formigas bebem água.

Sem causa ela briga, irrita-se. As formigas se cumprimentam.

Enquanto escrevo, uma delas passa sobre as minhas palavras.

A pequena não sabe ler. Isso deve ser considerado.

A família, ainda na mesa, palita os dentes e

O mosquito rouba  sangue.
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