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19 de set. de 2024

Bate-papo: E. E. Dona Santa Bulhões


Fui convidado  pela professora Geovana Rezende Martins, da Escola Estadual Dona Santa Bulhões, município de Porto Real do Colégio, Alagoas. Indicação do Professor e amigo Flávio Hora. Obrigado a ambos. 

No horário marcado, às 14:00 horas, lá estava eu.

A professora me fez entrar, me apresentou para seus alunos. Era para um bate-papo sobre leitura, livros e carreira literária.

Na sala, esquadrinhei o ambiente, fiz um breve resumo de quem era e dei espaço para que o alunado pudessem interagir. A interação inicial foi tímida, mas pouco a pouco vieram as perguntas uma após outra e passei uma hora com eles.

Falei para eles sobre o tema de cada livro citado.

Falei-lhes da importância das leituras, classificando-as em leitura do mundo, leitura dos livros e leitura de si como os elementos fundamentais de uma formação plena para a convivência social. 

Também falei da importância de eles se apropriarem do saber através das leituras.

O bate-papo foi agradável.

Alunos  cordiais e educados. Muito obrigado pelas palavras de carinho.

Parabéns a professora  Geovana.

Parabéns aos demais profissionais.

Obrigado.

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14 de jul. de 2023

O 5° Evangelho: O evangelho de Jesus

O Blogue do Ron Perlim tem a grata satisfação de entrevistar o escritor E. Lopes sobre o livro O 5º Evangelho. Mas antes, vamos conhecer mais sobre o  nosso  convidado:

E. Lopes

Erasmo Silva Lopes nasceu em 1970 na cidade de Propriá, Estado de Sergipe. Desde muito jovem, adquiriu o habito pela leitura vasculhando a estante da sua casa, onde continha diversos livros, como a Bíblia, dicionário, Enciclopédia Ilustrada, As Plantas Curam, gibis etc. Gosto esse pela leitura que foi fluindo para filosofia e religião. Dessa forma, a leitura da Bíblia foi se tornando em estudo da Bíblia. E ao estudar a Bíblia, os quatro Evangelhos lhe chamaram a atenção. Nesse momento iniciava em sua mente o desejo de organizar aqueles evangelhos. Daí, surgiu a ideia para escrever O 5º Evangelho. Erasmo Sillva Lopes estudou na Faculdade de Filosofia de São Bento, passou pelo CCP (Centro de Cultura de Propriá) e é membro da APLCAD (Academia Propriaense de Letras, Ciências, Artes e Desporto).


Ron Perlim: Como nasceu o livro “O 5º Evangelho”?

E. Lopes: O 5º Evangelho nasceu da observação que fiz dos quatro evangelhos, a saber, o de Marcos, Mateus, Lucas e de João. Percebi que os quatro evangelhos repetiam algumas passagens de Jesus, mas que ao mesmo tempo, cada evangelho tinha algo que os demais não continham. Sendo assim, comecei a analisar que tais evangelhos, quando lidos em sequência, poderiam causar uma certa confusão na mente do leitor, pois não foram escritos na mesma sequência, enquanto ao mesmo tempo com pontos repetitivos. E isso acontece porque se trata de quatro autores, escrevendo, cada um, a partir da sua perspectiva; um autor enfatizou os milagres de Jesus, outro, os ensinamentos... A partir daí, comecei a organizar esses quatro evangelhos, tornando-os num só, ajustando a cronologia e retirando o que se repetia. Porém, quando comentava com outras pessoas sobre a obra que eu estava preparando, algumas delas me perguntavam se haveria alguma novidade, se haveria algo de Jesus que elas já não soubessem. E tais questionamentos foram fundamentais para que o 5º Evangelho fosse, de fato, os quatro evangelhos lapidados, mas que contém mais da vida de Jesus, do que os quatro evangelhos juntos.

Ron Perlim: Do que trata ou fala seu livro?

E. Lopes: O livro trata de um Jesus humano, mas que vai, aos poucos, se tornando divino. De um lado mostra que alguns fatos tidos como milagres não o foram, porém, incrivelmente, mostra um Jesus mais grandioso do que os demais evangelhos. Fatos mesmo do nosso cotidiano dos quais Jesus passou, e da forma como ele os vivenciou, faz com que o leitor muitas vezes se inclua naquela cena, se envolva, se coloque do lado de Jesus em um episódio, se coloque no lugar de Jesus em outro.

Saiba Mais:

O 5º Evangelho é a compilação completa dos ensinamentos de Jesus, em 3 volumes, acompanhados de seu exemplo ímpar, que nos servem como luz e guia para nossa conduta. Nessa obra, descobrimos que Jesus é o Senhor não apenas da Terra, mas de todo o vasto universo. Ele veio para nos apresentar o Pai e nos convidar a fazer parte desse Reino espiritual, em uma fraternidade espiritual como filhos de Deus, salvos pela fé. Agora fica evidente que essa salvação representa uma jornada nova e maravilhosa no Reino espiritual, em que um ser se torna cada vez mais espiritualizado de mundo em mundo, até alcançar a perfeição e se tornar semelhante ao Pai Celestial. Essa perspectiva se estende pela eternidade. Este trabalho utiliza citações da tradução em língua portuguesa de O Livro de Urântia.

Para adquirir o livro, basta clicar na legenda da imagem e você será direcionado para o site da Amazon.

O 5º Evangelho



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16 de nov. de 2022

Palestra: O escritor no Baixo São Francisco - breve resumo

 

 Iniciaremos a nossa palestra compreendendo o conceito de Baixo São Francisco, não na divisão do CBHSF (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco), mas na administrativa dos estados de Alagoas e Sergipe, pois, esta divisão leva em conta características políticas, geográficas e culturais.

Nascer e se criar numa região desta, onde há predomínio da pobreza não é fácil, muito menos em pensar na publicação de livros e na venda deles, mesmo diante de tanta tecnologia e facilidade. Quando iniciei a minha escrita, ouvia muitas coisas: “coisa de pobre”, “quer ser intelectual”, “também tenho coisas escritas”, “foi você mesmo que escreveu?” e por aí vai. A maioria vinha com desestímulo, mas foram coisas que nunca me abateram, muito menos me fez desistir.

Tem gente que escreve para doar os livros para amigos e parentes que, muitas das vezes nem leem. Eu nunca escrevi um livro com esse objetivo, mas com a intenção de venda. Não é pelo valor, não é por mesquinhez; é pela valorização, trabalho e também em protesto a uma ideia tola que o escritor ribeirinho tem que doar seus livros em detrimento dos outros. Também porque ser escritor é uma profissão, como outra qualquer (CBO 2615-15).

Aqui, lembro-me que certa vez fui oferecer um livro de prosa poética, que se chama Agonia Urbana para uma professora e ela me respondeu, dizendo: “Eu leio Drummond, Cecília, Mário Quintana e outros que há na escola”, desdenhando. É claro que não era obrigada a mim comprar o livro, mas veja como se deu o caso. Eu olhei para ela, ri e sai. Nesse mesmo ano, ganho o prêmio Alina Paim; promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe. Aquela professora, ao me ver, ficou descabreada; pois sabia da premiação.

Nem por isso eu desisti de vender os meus livros, nem de escrever, nem de oferecê-los. Segui meu caminho literário.

Publicar em nossa região não é fácil. Geralmente a baixa autoestima desestimula e muitos desistem, alegando múltiplas razões, as mais conhecidas são: desvalorização e a falta de tempo. Além disso, não há na região; por parte do setor público o interesse em promover esse tipo de atividade tão nobre, transformadora quando bem compreendido porque não mais se acredita nos jovens e crianças.

Ser escritor no Baixo São Francisco, dependendo do que se escreve, não é somente encantamento e orgulho para os seus; pode se tornar desagradável. E para isso irei citar como exemplo três livros, de minha autoria, que deixou pessoas incomodadas: Laura, que é uma novela infanto-juvenil que recria os contos da região, incomodou uma ex-professora minha que ao lê-lo e me encontrar na rua disse: “Não tem vergonha de escrever uma coisa daquelas sobre a igreja”, aí ela se referiu à lenda da Mula-sem-cabeça; o segundo foi o livro Viu o home? Onde abordo a dinâmica eleitoral que acontece todos os dias com ou sem eleição. Teve gente que riu, teve gente que criticou; não uma crítica literária, mas porque se viu em muitas das personagens já que o livro trata da compra e venda de votos.

O escritor no Baixo São Francisco para ser publicado na maioria das vezes paga do seu próprio bolso, de forma independente ou através de editora prestadora de serviços. Raramente se vê o governo municipal ou a iniciativa privada fazer isso. Conheço um cordelista de uma cidade próxima que, na noite de lançamento dos seus cordéis, se viu obrigado a doar seus livretos porque os seus convidados ele estava a doar. Por isso, não se deve manter o ato de doar seu trabalho. Quando se faz isso, mantém-se o vício, o desestímulo e a vaidade de muitos que querem apenas a pecha de “intelectuais”, estarem em alguma academia e aparecer.

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8 de abr. de 2020

O espaço do texto

Jorge de Sá
A construção de um texto equivale à construção de uma casa: cada frase, cada silêncio onde reside a significação a ser descoberta pelo leitor é uma espécie de quarto onde o cronista guarda os seus segredos e a sua solidão. Além disso, ao construir cada texto (considerado, aqui, como sinônimo de peça autônoma, relato que vai do título à última linha), o Autor está construindo a sua casa interna, procurando discriminar cada aposento e estabelecendo as leis que governarão o seu universo. Essa construção conduz a um texto maior – e que se faz sem palavras, pelo silêncio do discurso -, que nada mais é do que a compreensão do que somos, para melhor prosseguirmos em nossa viagem existencial.


Assim, em “Manifesto”, Rubem Braga se dirige aos operários da construção civil, afirmando:

Nossos ofícios são bem diversos. Há homens que são escritorese fazem livros que são verdadeiras casas, e ficam. Mas o cronista de jornal é como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmanche, e vai”.

Ora, o cronista de jornal também é um escritor, e também ele deseja escrever algo que fique para sempre. A crônica, é uma tenda de cigano enquanto consciência da nossa transitoriedade; no entanto é casa – e bem sólida até – quando reunida em livro, onde se percebe com maior nitidez a busca de coerência no traçado da vida, a fim de torná-la mais gratificante e, somente assim, mais perene.

SÁ, Jorge de. A Crônica. São Paulo: Ática, 2007. p.17.



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30 de abr. de 2019

Machado de Assis ao leitor

Machado de Assis

AO LEITOR

Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na
qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. 

Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Brás Cubas.
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2 de ago. de 2018

Como escreve Ron Perlim


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Ron Perlim é escritor, especializado em Educação Matemática, colaborador da Revista Obvious.

 
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu me acordo às seis. Tomo suco de um limão com água morna. Depois, vou ler. Feita a leitura, tomo café e em seguida vou trabalhar.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não precisarei qual é a melhor hora para mim. A escrita em mim pode vir a qualquer hora. É espontânea. Se necessário, paro o que estou fazendo para anotar o que me vem à cabeça.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando jovem na escrita, eu escrevia todos os dias. Isso acumulou muita matéria bruta. Então, eu tenho muita matéria bruta para ser trabalhada. Quase todos os dias eu reviso esse material, mas isso não me impede de escrever novos textos. Atualmente reviso um novo livro para a Penalux.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A escrita em mim surge primeiro com um tema ou uma ideia. Isso acontece por meio de percepções num diálogo, numa leitura, numa observação das coisas e outros recursos. Exemplo disso é o livro A menina das queimadas, nascido de alguns diálogos com a minha sogra. Já o livro O povo das águas simplesmente me veio e eu o tomei para mim. Há textos que ficam prontos, exigindo apenas pesquisas pontuais. Há outros que necessitam de uma pesquisa mais aprofundada. Eu nunca pesquiso primeiro para depois escrever. Eu escrevo primeiro. Depois, pesquiso.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação é um processo natural na escrita. O que não pode é o prolongamento excessivo dela. Com projetos longos ou curtos, sempre bate a ansiedade. Ela é mais intensa quando começamos na estrada literária. Com o tempo, isso se incorpora de forma natural em nosso cotidiano. Para concluir meus projetos, me mantenho sereno e objetivo.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei dizer a quantidade, mas são muitas. Para mim, revisar é editar o texto e isso dá um trabalho danado. Quando eu parto para essa parte, me lembro de Graciliano e o conselho que ele deixou quando compara o ato da escrita com ofício das lavadeiras em Alagoas. Quem primeiro lê meus textos é a minha esposa ou alguém da revisão gramatical.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Como disse, a minha cabeça não tem hora para a escrita. Se surgir uma ideia para um livro, eu anoto onde estiver e me utilizo dos recursos viáveis, desde um pedaço de papel, papelão, passando por guardanapos, celulares, tabletes, notebooks etc. Eu não permito que a ideia vá embora. Outro dia eu estava no carro. Aí, me veio a ideia de escrever uma crônica. Sem papel por perto, o que fiz? Peguei a caneta e rabisquei a ideia principal no para-sol.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As minhas ideias são releituras das leituras do mundo e dos livros. O único hábito que tenho, se isso pode ser chamado de hábito, é estar atento ao ir e vir das coisas, das pessoas, dos animais e através disso percebê-las.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos?
Eu iniciei a minha escrita em cadernos escolares. Quando eu observo o que escrevia com o que escrevo atualmente, vejo um abismo muito grande e o amadurecimento da minha escrita, fruto de muita prática.

O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria o seguinte: não se envergonhe de seus textos primeiros, como fazem muitos escritores, afinal de contas, era uma criança que engatinhava com as palavras e brincava com elas. Saiba que escrever não é um dom.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?
Montar uma biblioteca na cidade onde nasci e através dela promover a importância da leitura e dos livros para a vida das pessoas, especificamente das crianças. Nosso país é carente de boas bibliotecas, principalmente nas cidadezinhas.

Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um livro que fale do homem e a sua condição como espécie doente e atrasada.

Fonte: https://comoeuescrevo.com/ron-perlim/. Acesso em 02 de agosto de 2018.
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17 de fev. de 2018

O que é um bom livro?


Mário Sérgio Cortella
Mas, o que é um bom livro? A subjetividade da resposta é evidente. No entanto, é possível estabelecer um critério: um bom livro é aquele que te emociona, isto é, aquele que produz em ti sentimentos vitais, que gera perturbações, que comove, abala ou impressiona. Em outras palavras, um bom livro é aquele que, de alguma maneira, te afeta e impede que passa adiante incólume.

A emoção do bom livro é tão imensa que se torna, lamentavelmente, irrepetível. Álvaro Lins, crítico literário pernambucano (...) fez uma reflexão no Notas de um diário de crítica que expressa uma parte dessa contraditória agonia: "Ah, a tristeza de saber, no fim da leitura de certos livros, que nunca mais os leremos pela primeira vez, que não se repetirá jamais a sensação da primeira leitura, que não teremos renovada a felicidade de ignorá-los num dia e conhecê-los no dia seguinte".

CORTELLA, Mário Sérgio. Não nascemos prontos!: provocações filosóficas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
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18 de jun. de 2017

Isso não é um filme americano


Nesta entrevista, que se encontra no final do livro Isso não é um filme americano, Lourenço Cazarré aborda males da sociedade brasileira que estão bem enraizados e que veio com toda a força nestes últimos dias. Males como a cultura da violência, desemprego, interferência da mídia na vida dos cidadãos e o desejo de vingança. O autor fala um pouco desses temas na entrevista que segue: 

A violência, tema do livro, está no centro das discussões sobre o Brasil de hoje. O que você quer dizer com a expressão "cultura da violência"?


Numa sociedade em que impera a cultura da violência, as pessoas resolvem seus conflitos aos murros, na facada, à bala. É isso que se vê em muitos filmes norte-americanos. A cultura da violência impera, por exemplo, nos desenhos animados que nossas crianças assistem. Neles, as agressões são ininterruptas e gratuitas; a morte é banalizada, vulgarizada. No Brasil, a violência se expande porque - entre várias outras causas - não temos um bom sistema  judiciário, nem uma política eficiente. Acho que já ultrapassamos, há muito, o limite do suportável. existe hoje, entre os brasileiros, a consciência de que estamos vivendo uma verdadeira guerra civil, com milhares de mortos por ano. A formação desta consciência pode ser o primeiro para a diminuição do problema. A sociedade precisa se organizar para exigir dos administradores públicos que enfrentem as muitas causas da violência.

Existe um personagem do livro, o policial Fujiwara, que acha que os criminosos deveriam ser executados. Você pensa que a pena de morte é uma solução para o problema da criminalidade?

Tenho uns trinta argumentos contra a pena de morte. Fico aqui com apenas quatro: a vida humana é um valor que tem de ser preservado sempre; temos os inevitáveis erros judiciários, que condenarão inocentes; a pena de morte é uma vingança do Estado contra um homem que cometeu um crime, e com vingança não se faz justiça; finalmente, está provado que pena de morte não reduz a criminalidade.
Mas, quando criei Fujuwara, não levei minhas idéias em conta. Como milhões de brasileiros acuados pela violência, ele acha que matar bandidos é uma solução.

Outro tema abordado no seu livro é o papel dos meios de comunicação na sociedade moderna. A atuação da imprensa é decisiva na história. Como você acha que a mídia interfere na vida das pessoas?

A imprensa interfere, o tempo todo, na nossa vida. No carro, ouvimos rádio. Em casa, vemos tevê. No trabalho, olhamos a internet. Nas bancas, centenas de revistas nos dizem o que devemos comer e vestir e até o tipo de ginástica que temos de praticar. A vida moderna, superagitada, enfraqueceu os nossos laços de família e com os amigos. Pouco falamos de nossas vidas, acabamos discutindo mais os personagens de telenovela. Ora, como é praticamente impossível escapar dessa influência sufocante, devemos tentar escolher os melhores veículos. Se pudesse indicar um remédio para reduzir esse mal, eu diria: leiam livros, leiam os grandes mestres da literatura.

CAZARRÉ, Lourenço. Isso não é um filme americano.  São Paulo: Ática, 2002.
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21 de mai. de 2017

Em que classe de autor você se enquadra?


Também se pode dizer que há três tipos de autores: em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. Essa classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há os que pensam enquanto escrevem. Eles pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro lugar, há os que pensaram antes de se pôr a escrever. Escrevem apenas porque pensaram. São raros.
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SCHONPENHAUER, Artur. A Arte de Escrever. Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 57
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15 de nov. de 2016

O que é preciso para ser um bom poeta?



Vou resumir o que disse no capítulo “Formação do Poeta”, inserido em Vigília Poética: O poeta nasce com uma especial intuição; alimenta-se de sensibilidade; caminha pela imaginação; domina o sentimento; aperfeiçoa-se com o artesanato; joga com a inteligência; enriquece com a cultura; e atinge a maturidade através de uma peculiar concepção de vida. Assim, é de supor-se que, na formação do poeta, possuidor de graça intuitiva, se equilibram sensibilidade, imaginação e sentimento, a influxos de artesanato (consciência técnica profissional), inteligência, cultura e personalidade.

STEEN, Edla Van. Viver e escrever: volume 3. 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p.195.


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29 de out. de 2016

O escritor e a sua participação política e social de seu país

Você acredita que o escritor deve participar da realidade política e social de seu país? E essa participação não criaria uma espécie de conflito para o escritor de ficção? 

Na Idade Média, a arte estava estreitamente ligada a religião, porque a vida era essencialmente religiosa. Hoje vivemos uma época essencialmente política. Sempre digo que até o gesto de se colocar um selo num envelope é um gesto político. Logo, a arte, seja qual for, não pode se distanciar desse universo. Tem que estar impregnada dele e de suas preocupações. Para escrever, o escritor reflete sobre a realidade do mundo onde vive. Refletindo é compelido a lutar de algum modo. Creio que o conflito se estabelece quando esse modo deixa de ser uma escolha para se tornar uma ordem.


STEEN, Edla Van. Viver e escrever: volume 3. 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p.158.
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12 de out. de 2016

Que é um conto? Um romance? Uma novela?


Que é um conto? Um romance? Uma novela?

Começarei pela novela, que é um conto grande e não um romance pequeno. Deixe-me falar aqui que é um dos meus gêneros prediletos e um dos menos exercidos não só no Brasil como no mundo. Há poucas obras-primas, como Morte em Veneza, nesse tipo de literatura. Comecei pela novela, ao publicar Um Gato no Triângulo, em 1953, e há mais novelas que contos em o Pêndulo da noite. No livro Soy Loco por ti, América, há uma novela, “A Enguia”, que considero um dos meus trabalhos de maior embalo. Mas a pergunta é o que é um conto, uma novela, um romance? Ora, o conto é um samba, rock, tango, fado ou bolero. A novela é um prelúdio ou rapsódia. O romance é um concerto ou sinfonia. Como o conto, a novela tem um único tema, a mesma linha melódica, e prende-se à descrição de fatos. O romance pode conter vários temas, em contraponto, e o autor dele participa livremente, comentando, discutindo o comportamento dos personagens e expondo suas idéias ou avançando conclusões.


STEEN, Edla Van. Viver e escrever: volume 3. 2 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 46-47
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