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5 de nov. de 2014

A cadeira de balanço de Sophós

Sophós estava na companhia de alguns conhecidos, mas seus pensamentos estavam dispersos. Cutucado por alguém, não deu importância. Levantou-se, cumprimentou a todos e se foi. Alguns fizeram mal, resmungando entre si.

Em casa, sentou-se na cadeira de balanço. Pensava:


"Não me adapto ao meio. O meio que é meu e que está fora de mim. Eu diferente, indiferente as faces que me roubam. Roubam os instantes pequenos, deixando-me só. A luz dos meus olhos percorrem sobre letras flutuantes e o vento alisa as folhas uma nas outras, numa brilheza. A folha amarela cai dentro de mim, porque ali não é a sua última fase.

Eu caminho suspenso e nada encontro. Todas as formas possíveis, todas as falas e palavras estão contidas e variadas nas cores de mim. Eu caminho, não numa estrada; mas por dentro de mim e por todas as partes e tropeço em uma interrogação.

Eu não vejo nada dentro de mim, a não ser eu. Unicamente eu, puro e original. O mundo de fora que espere, na porta, em silêncio e nos desencontros. Não sou culpado, e a culpa para mim é tolerar o absurdo.

Amanhã estarei outro dia e serei cheio de sol. Estarei no sono e estarei com os olhos abertos para mim".

E permaneceu bastante tempo ouvindo o cricrilar, o coaxar das suas reflexões, do seu jeito de ser naquele momento...
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1 de jul. de 2013

Casal a quatro


— Já leu a Bíblia?

— Desde quando você se interessa pela Bíblia, aliás, por qualquer livro? Eu nunca o vi lendo livro algum ou comprando. Que interesse súbito é esse por leitura?

— Todas as pessoas tem o direito de mudar. Já ouviu falar em Augusto Cury?

— Já! O que tem ele?

— Estava conversando com Mateus e ele citou esta frase: “Só não muda de ideia quem não tem ideia”. Pensei nela e resolvi mudar muitas coisas da minha vida. Entendi que a gente precisa excluir ideias e colocar outras no lugar. O que não pode é tá o tempo todo com os mesmos pensamentos, opiniões. Por isso, resolvi ler a Bíblia.

— Deu para filosofar, foi home?

— Não! Apenas estou repensando o que sou, vigiando o que há dentro de mim, as coisas que me vem de fora e buscar o equilíbrio para mim e os que convivem comigo.

— Interessante seu ponto de vista, mas não se detenha muito nessas coisas, pois, não quero perdê-lo para Sofia. (Risos).

— Você não me perderá para ela. Seremos um casal a quatro. Afinal de contas, Sofia entrou em minha vida de forma sutil e bela.

— Eu não me importo desde que eu seja a primeira em tudo.

— Não posso garantir a primogenitura, pois, ela sempre porá uma questão que irá consumir meu tempo.
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26 de fev. de 2012

Espiando da janela

I
 Porque uma coisa é sentir a vida, outra, é você vivê-la, apalpá-la. Tarefa difícil e constrangedora. Não é uma coisa dada de graça. É para os que crescem e não para os que se entretêm só com este mundo.
 II
Não é difícil está em uma janela. Difícil é enxergar por ela o corre-corre, o dia-a-dia da cabeça.
III
Não chamarei de coisa viva aquilo que apresenta movimento (obs.: os carros, as plantas, etc.)... Devemos entender que na multidão de movimentos há os instantes roubados, calados e colados dentro de um corpo que precisa fugir. Também há os vivos que não são luminosos. Mas, eles têm luz.

Ah, luz! 

Não se encontra batendo em portas ou percorrendo caminhos. Há uma necessidade de se congelar. Alguma coisa fugiu de mim. Não foi um pássaro, não foi um olhar ou um carro. Foi um sonho, um pensamento que se esqueceu de lembrar.
 IV

Eu tenho pensado e até falado na compreensão. E só tenho acumulado sofrimento, dificuldade: sofro quando me falta palavras para expor a compreensão, sentimento que emana de dura sensibilidade e de uma cabeça crescida.

Às vezes me perco e torno-me um inútil, quando me sobrevêm a dificuldade, a fraqueza íntima de não poder com singeleza passá-la para outro eu.


Aracaju, janeiro de 2002.
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9 de out. de 2011

Sophós e o chinelo de dedo

Estava Sophós observando as nuvens se tornarem farrapos e o sol cagando para o mundo. Neófito apareceu, dispersando as suas reflexões. Sophós permaneceu em silêncio, intensificando a palidez da face dele. Sem desistir, principiou este diálogo:

— Sophós, estava eu pensando a respeito da palavra crente e resolvi perguntar a Aurélio. Ele me mostrou vários significados, mas foi o de sentido religioso que mais atraiu a minha atenção. Você, o que diz a respeito disso?

— Ora Neófito, a gente deve ouvir a opinião dos outros, acreditar nela ou duvidar. Quando a gente duvida, devemos procurar outras opiniões. Nessa busca a gente rejeita ou aceita ideias previamente estabelecidas. Recomendo que sempre esteja atento ao que se passa em sua cabeça e que sempre duvide, busque as opiniões, investigue e formule as suas próprias. Analisemos, por exemplo, a palavra crente: se ela for precedida de um determinante será substantivo, significando aquele que acredita. Mas quando essa palavra qualifica o sujeito de uma oração, trata-se de uma pessoa piedosa, religiosa. Esse é o significado mais comum, usual. Mas quando se pensa na dimensão dessa palavra, notamos que até os descrentes é crente naquilo que eles acham que seja verdadeiro, excluindo de suas crenças os conceitos religiosos. Fundamentado na anterioridade, defino que crente é qualquer pessoa que crer em algo, alguma coisa, livre de ideias e conceitos preexistentes, tomando como instrumento de suas análises a compreensão do conhecimento e o contexto em que ele estar inserido.

— O que seria a compreensão do conhecimento? Essa ideia para mim é nova. Nunca ouvi antes!

— Vivemos a exposição do conhecimento. Ela é diversa e abundante. Ocorre que essa exposição é mal aproveitada, melhor dizendo, compreendida porque a maioria das pessoas assimila horizontalmente determinadas partes do conhecimento simplesmente para lhes atender necessidades imediatas, sem pensar filosoficamente no conhecimento que se esconde nas palavras. Quando uso a expressão compreensão do conhecimento me refiro ao desprendimento do discurso ideológico, da busca da compreensão da leitura vertical para que as pessoas assimilem e formulem as suas próprias opiniões; tornando-se críticos ante a variedade de leituras as quais estamos submetidos.

— Sophós, escute este fato: estava outro dia, na pracinha que fica defronte a igreja matriz e certo senhor olhou para o filho e lhe disse duramente: “Rapaz, tire esta barba, porque você tá parecendo um marginal.” Diante dessa narrativa, há ou não a compreensão do conhecimento?

— Todo discurso para ser compreendido deve ser analisado levando em conta o contexto. Se você atentar diligentemente para este pai, notará que ele se apropriou de um discurso para expressar o amor que sente pelo filho.

— Não posso concordar com você porque esse filho há de viver aquelas palavras frustrante e ficará revoltado, triste, cabisbaixo e poderá perder o afeto, feição natural pelo pai, extravasando a sua revolta por aí.

— Neófito, a insipiência vista por um insipiente cria violência. Literalmente a expressão é dura, porém observe: para esse pai, o homem sem barba é o homem de bem, aceito pela sociedade. O homem barbudo se assemelha com os marginais. O que o pai fez foi uma comparação, tentando impor sua autoridade sobre seu filho. Isso ocorreu porque não houve diálogo com esse filho. Se o filho estiver ao mesmo nível de ignorância do pai; certamente existirá conflitos externos e internos. Todavia, o pai exprimiu amor, zelo, carinho de uma maneira desordenada. A fala daquele pai demonstra duas coisas:

1ª – O pai se utiliza de um discurso pronto, acabado, que ele aprendeu em sua juventude e dele não se desprendeu. Para ele o querer impositivo é a maneira de opinar sobre determinados assuntos ou solucionar problemas, deixando de lado o diálogo;

2ª – Estar claro na fala dele a ausência da compreensão do conhecimento porque não se buscou compreender as consequências que aquela fala poderia trazer.

Atentos nas idéias, foram pegos de supetão pelas lágrimas da filha de Neófito que, ao se aproximar do pai, desmaiou. Mais tarde Sophós soube que a esposa dele havia falecido.
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22 de mai. de 2011

A compreensão do conhecimento

 
"A vida sem reflexão não merece ser vivida"
Sócrates

 Estive pensando estes dias nas incertezas que me vêm à cabeça sem que eu espere ou queira. As incertezas da Ciência, do Céu, do inferno e da Política. Pergunto a mim o que faço aqui, neste mundo que perdeu a graça diante das minhas retinas fatigadas pela incompreensão do homem pelo homem.

Os meus pés dormem dentro do tênis ou sapato. Às dores o acompanham, os passos pisam com força as calçadas. O meu peito não precisa de clichês para expressar os infortúnios, as pegadinhas que estão na vida e dela fazem parte. 

Sei que depois do cansaço a gente se depara diante do espelho e vemos o quanto somos ínfimos, atrasados, doentio. Eu gosto do espelho porque ele revela a cada dia que as pessoas se vão, que outras virão. Que por trás deste vai e vem há esqueletos. Todos, um dia, perderemos o sorriso, os dentes, a alegria. Apenas nos restarão as quedas e as farmácias. A gente busca coisas, nomes, soluções para os problemas; mas a vida chega em um ponto e para.

O mundo anda conturbado, arrotando, vomitando todo tipo de violência. Não cabe a gente se curvar ao entretenimento açucarado enquanto o mundo cambaleia por aí, principalmente no campo político. Esse é um período em que Sócrates nos convida a vivermos a compreensão do conhecimento.

Sinta-se convidado a conjugar o verbo viver para que a vida tenha reflexão.
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7 de mai. de 2011

III - A incompreensão

O meu medo, talvez o maior de todos, é de ser incompreendido. A incompreensão é um dos sentimentos mais injustos que alguém pode sofrer. É uma das formas de oprimir o semelhante. Quando se é incompreendido, a alma se torna frágil, dando aos seres espaço para outros sentimentos.

A incompreensão é um modo de não aceitar o outro, as fraquezas do outro, causando deste modo; frustrações, perda, dor. Quem assim age, sempre tende a domar, a impor regras e modelos. Não quer aceitar as pessoas como elas são. Egoísta, a incompreensão é um dos males atuais da humanidade. Ela impede o crescimento pessoal, os sonhos, o sucesso... as relações e trata os homens com indiferença.

A incompreensão não tem ouvidos, tem ordem. Não tem palavras, tem ordem. Não tem olhos, é míope. Não tem mãos para tocar, sentir a vida; tem violência. Não tem alma, tem uma solidão seca, desértica, devastadora.
A incompreensão isola os homens e destrói o espírito de solidariedade. Cada vez mais os homens se isolam em si e afastam-se uns dos outros. A solidão é uma das características atuais mais presente nas pessoas. A não compreensão de um ser para outro só atrapalha nas boas relações que deveriam existir entre os seres.

Maldita seja a incompreensão.

Malditos aqueles que se afeiçoam por ela.
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1 de mai. de 2011

II - A compreensão

 
Abraço a compreensão e a quero sem receios. Sei que ela abre a mente e o peito. É uma espada que me faz lutar com mais precisão. Me fortalece, reveste o meu âmago de coisas novas e boas. Me apaixonei por ela desde o dia que os meus olhos  estavam avermelhados de dor. Foi ela quem os abriu. Desde quando bocejava, molhava os cílios, que ela veio gentil e pôs a mão sobre mim. A compreensão me quer até que eu me ache.
Não se deve está preso ao dicionário aquele que busca clareza ou explicação para a compreensão. A sua significação é vasta como é a vida. Não é em algumas páginas ou palavras que ela se restringe, limitando-se a conceitos vagos.
À busca incessante dela causa dor e angústia porque as primeiras dificuldades aparecem em nós. É preciso vencê-las através do equilíbrio e quando nós estivermos vencidos a nós mesmos, teremos que vencer aqueles que estão lá fora, muitas vezes insensíveis e cruéis até com eles próprios.
A falta dela é motivo para a fuga, muitas vezes de forma dramática. Compreender não é simplesmente ouvir, olhar o problema alheio com dó ou piedade religiosa, mas penetrar na dimensão humana, sentir os conflitos e tomá-los como seus.
A sua falta tem causado grandes males. A relação funcional é um deles. Por causa dessa relação as pessoas se cansam fáceis umas das outras. Com gestos simples não conseguem ocultar os dissabores, as angústias. O mundo evoluiu, a ciência se multiplicou e a cada dia o homem se coisifica. Os seres humanos se toleram e a falta de compreensão “espalha-se no ar”. Olhos de ressaca, mentes alienadas, esperança sem vôo. O egoísmo prevalece, o individualismo impera.
Os seres são levados por “ondas” do consumo, da soberba. Desprezam-se e as conveniências aparecem sem receios, cinicamente. Os homens correm feitos loucos na vida selvagem que o Capitalismo lhes impõe todos os dias e na sua mesa lhe falta afago, compreensão, diálogo. Os homens andam meio perdidos porque ninguém quer levar o fardo um do outro, por isso, vivem se cansando uns dos outros.
Tem-se pregado o amor. Tem-se pregado a solidariedade. Tem-se pregado homem e ciência, máquinas e tecnologia. Mas não se tem pregado a compreensão. Todas estas coisas para nada servem, a não ser atiçar, atirar os homens nas paixões, afogá-los nas armas, droga, consumismo, guerras, busca desenfreada pelo poder.
É preciso. É urgente que se pregue a compreensão para resgatar o homem, tirá-lo do estado de máquina e dinheiro. É preciso pensar em um mundo melhor.
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23 de abr. de 2011

O amor morreu?


Amor surge a cada dia e ele não me comove. O amor de ontem, sem vento, sem dia. Apenas pequeno e sem Grécia não me move. O amor que um dia sonhou por mim, hoje me é estranho e sem nome. O amor que eu não quero entre as minhas pernas, nem nos meus lábios. O amor precisa reviver, pois, está semimorto no meio do caminho.
Estive estes dias consultando o Silveira Bueno. No meio de tantas, me deparei diante de uma que se tornou desbotada pelo uso midiático– o amor -. Estava lá, negrito, frio, sem flecha, aljava, Grécia, sem que alguém o despertasse. Parei um pouco nele, nestas paradas de Sofia, abri a página e o olhava como se o mesmo estivesse vivo, me comunicando alguma coisa. Tive a impressão que ele queria saltar da página e, por coincidência, escreveram-no de vermelho no Mini Aurélio. Comparei as cores e percebi a dualidade do espírito: vida ou morte.
[1]Entendi que ele quer vida nova, ideia nova. Ele, o amor, quer sair das telenovelas, dos comerciais. Está cansado daquelas cenas sem paladar. Daquelas cenas que só estimulam a carne. Não precisamos desta escravidão, desta falsa consciência. Precisamos fazer todas as coisas de forma natural, vindo espontaneamente da natureza.
As pessoas buscam um modelo para o amor, uma forma, fôrma de amor, imposta por uma determinada classe, deslocando as pessoas de sua realidade. É a indústria do sexo, do amor. Ao invés de amor como sexo, fantasia de sexo é preferível fazer sexo com compreensão num todo, percebendo as coisas, vivendo-as sem hipocrisia, medo, receios.
O que há é o hábito de amor, estimulado pelos interesses pessoais e financeiros, imitativo, vaidosos, midiático; baseado no estímulo do sexo como objeto de consumo, nada mais. Por causa desse cultismo ao sexo sarado, o namoro e o casamento se desmancham facilmente.
A compreensão é a forma verdadeira do amor, livre, sem pressão; onde as pessoas se partilham, onde vê no outro a sua metade, sem vícios; solidificados nos bons sentimentos, como sinceridade, afago, carinho, etc... As pessoas deveriam abraçar a compreensão, abandonando a indústria do amor.
O amor é um sentimento que tem vencido o tempo. É vivido de modo diferente em cada época e por diferentes culturas. Ele, também, aparece em outras formas de sociedade. O grilo, por exemplo, possui três canções para o Amor. A primeira é para informar que está “namorando” a grila; a segunda é para dizer ao colega que ele tá “na área” e a terceira para copular.
Portanto, somente o amor como forma de compreender o outro e o mundo que os envolvem é capaz de se livrar daquela falsa consciência.




[1] Estar biologicamente comprovado que o sexo é uma necessidade prazerosa, que faz bem a saúde física e mental.

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