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2 de dez. de 2024

MANIFESTO POESIA DE CADA DIA


No Pão de Açúcar 

De Cada Dia

Dai-nos Senhor

A Poesia

de Cada Dia.

("Escapulário" - Oswald de Andrade, Pau-brasil, 1925.)


A poesia existe nas expressões cotidianas. No Bom Jesus dos Navegantes. No Pôr do Sol visto da Orla ribeirinha em sintonia com a paisagem maravilhosa de nosso Rio. Sim. Tem poesia no mundo. No canto da torcida quando o seu time é campeão. Na cantoria da lavadeira ou do agricultor. Na alegria de um menino que sonha em ser jogador e ganha uma bola de futebol ou de uma menina que sonha em ser cantora sertaneja e ganha um violão. 

Poesia não é só estética, não é estática e não se aprisiona. A poesia é uma das expressões mais singelas, livres e naturais que temos. Poesia é inexata, ilógica, abstrata, fantasiosa, não é útil, pois não é prática, a poesia não são as quatro operações básicas, ela não tem tamanho, não se mede, não se calcula, a poesia é infinita e não está só nos livros. Tem muita poesia no mundo. 

Nas ruas, nos bares, nas praças, nos campos, nas escolas, universidades, nos olhos de uma criança, na palavra amiga, nas declarações de amor, na natureza, nos muros da cidade. 

A poesia é para todos. Chega de poesia para a burguesia! 

Estou farto de poesia para poetas, poesia para críticos, poesia para especialistas. Poesia não se explica! Poesia se sente tal como o amor. Ela não é só métrica, rima e figuras de linguagem, não se resume a ficar preso a uma só perspectiva. Não. A poesia é expressão, ela vai além, é o nosso sentimento posto para fora em versos. Muitos se prendem à forma, esquecendo-se do conteúdo e veem a poesia como uma fórmula matemática que precisa ser estudada e memorizada. Mas não. Eu conheço poetas, homens e mulheres, que nem escrevem. Mas quando abrem a boca pra falar, eu ouço poesia. Literatura popular!

Tem poesia nas favelas, nas feiras, nas procissões. Seja na boca de um doutor de Literatura ou na boca de um comerciante vendedor de batatas, lá está ela! Eu quero a poesia do povo. A poesia de cada dia.

“Nós não lemos e escrevemos poesia, porque é bonito. Nós lemos e escrevemos poesia, porque pertencemos a raça humana e a raça humana está cheia de paixãoMEDICINA, DIREITO, ENGENHARIA, são ambições nobres, necessárias para manter a vida, mas poesia, beleza, romance, amor, é pra isso que ficamos vivos.” (John Keating, Sociedade dos Poetas Mortos, 1989)

Muita gente me diz que não gosta de Literatura como se a literatura só estivesse ligada aos livros. Eu digo “meu amigo, teu problema é com a leitura e não com a literatura.” 

Você gosta de ouvir Racionais? Gabriel O Pensador? Charlie Brown Jr? Já ouviu Renato Russo? Djavan? Belchior? Raul Seixas? Gosta de Alceu Valença? Zé Ramalho? Marisa Monte? Cássia Eller? Ana Carolina? Seu Jorge? Cazuza? Já dançou ao som do Tim Maia? 

Eu poderia ficar aqui o dia inteiro a mostrar pra você que Literatura não diz respeito só ao livro, mas a gente pode encontrar na música, no teatro, no cinema, numa conversa de bar.

Tem poesia no mundo e a gente precisa não só admirá-la, mas também senti-la.

Não vivemos sem ela como também não vivemos sem sonhar. Difícil viver neste mundo sem qualquer contato com a poesia. É uma necessidade nossa, este contato com algum tipo de fabulação. Assim como todos sonham de pé ou deitados, com os olhos abertos ou fechados, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo da fantasia.  

Tenho uma certa suspeita de que todos nós somos poetas. A criação ficcional ou poética está presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito, desde uma anedota, HQ 's, notícia, canção popular, moda de viola, até o samba carnavalesco, frevo e maracatu. A poesia se manifesta universalmente desde o devaneio amoroso no ônibus até a atenção fixada na novela da TV, no videoclipe, ou na leitura seguida de um romance.

Todos nós gostamos de literatura e estamos envolvidos com ela seja através de criações de toque poético, ficcional ou dramático, leituras de fábulas, histórias em quadrinhos ou livros clássicos, pinturas, apresentações teatrais, dança e música. 

É esta a poesia que eu quero: A popular. A poesia de cada dia.

Autor: Ruan Vieira

Referências:  Semana da Arte Moderna, 1922. Sociedade dos Poetas Mortos, 1989.

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22 de jun. de 2024

São João no Nordeste

 


São João no Nordeste

É cultura e tradição

Tem muita festa da boa 

Pra gente curtir e rir à toa

Ao som do Rei do Baião


No São João do Nordeste

Tem brincadeira e emoção

Corrida de saco, cabo de guerra, tiro ao alvo

Pescaria, pular fogueira, estourar balão 

O que não falta é alegria pra completar a diversão


Nós aqui do Sertão,

Se deixar, dança noite e dia 

E cantarola de hora em hora

“Viva São João, Viva São Pedro

Viva, viva, viva, Maria!” 2x


Ao som do forró Pé de Serra

Triângulo, Sanfona, Xote e Baião

Ouvindo Flávio José, Elba Ramalho,

Aldemário, Dominguinhos, Gonzagão

O que não falta é música boa pra dançar no São João 


E no São João do Nordeste

Também tem comida de montão

É rapadura, pamonha, canjica, bolo típico, mandioca

Pé de moleque, milho assado e cozido, cocada e paçoca

O que não falta é comida, deixe de reclamação!


Se você estiver sem par

Arranje logo, gota serena!

Que é pra curtir o Arraiá

Beber, comer, conversar

Dançar agarradinho com uma linda morena


Pois isso aqui é Nordeste

E dele eu não abro mão 

Terra de mulher bonita e cabra da peste

Não tem comparação

Quem tá fora, quer entrar; Mas quem tá dentro, não sai não!


E viva o São João!


Ruan Vieira

(Poema escrito em homenagem ao meu Nordeste celebrando a melhor época do ano: o São João)

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28 de mar. de 2024

Alô, Princesa do São Francisco (Poesia)


Propriá do São Francisco continua linda

Propriá do Velho Chico continua sendo

a Princesinha de Sergipe, Urubu de Baixo


Alô, alô, Bairro América

Aquele abraço

Alô torcida do América

Aquele abraço


Alô, alô, Opará

Aquele abraço

Alô, alô, Propriá

Aquele abraço


Bom Jesus dos Navegantes continua sendo

Principal atração turística

que encanta a massa

Juntando gente fina, por onde ele passa 

Continua alimentando

a fé de um povo guerreiro


Alô, alô, gente fina 

Povo guerreiro

Alô, alô, Santo Antônio

Nosso padroeiro 

Alô, alô, seu Pimpolho

Velho palhaço

Alô, alô, Dona Rosinha

Aquele abraço


Alô, moça da favela

Aquele abraço

Todo mundo da Capela

Aquele abraço

Todo mês de fevereiro

Aniversário

Alô Filarmônica Santo Antônio

Aquele abraço


Meu caminho pelo mundo

Eu mesmo traço

Meu Sergipe já me deu

Ginga e compasso

Quem sabe de mim sou eu

Aquele abraço

Pra você que me esqueceu

Aquele abraço

Alô, Princesa do Francisco

Aquele abraço

Todo povo ribeirinho

Aquele abraço.


(Poema-paródia da música “Aquele abraço” de Gilberto Gil, escrito, por Ruan Vieira, no 05.02.2024, em homenagem ao aniversário de 222 anos da cidade de Propriá/SE)

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8 de dez. de 2023

A Carne mais barata do Brasil

(Pobres e os ossos. Por Duke.)


Dormi de barriga vazia 

e acordei com fome. 

Levantei e fui até a cozinha; 

procurei por comida no armário… 

estava vazio, 

Abri a geladeira, não tinha nada 

Só gelo, só gelo. 

Decidi sair e fui até o comércio 

Saí de mãos vazias, 

Igual eu vim ao mundo, 

De mãos abanando. 

Eu passei pela rua do açougue 

e vi escrito em letras grandes 

"A carne mais barata do mercado é a carne pobre" 

Uma paráfrase, uma paródia? 

Não consegui lembrar; 

Estava faminto, tremendo 

Nervoso, já quase desmaiando. 

Mas fiquei surpreso com a fila de gente 

Pensei: Esse povo todo pra comprar carne? 

Eu estava enganado. Eles não foram comprar, 

Foram pedir, assim como eu; 

Estavam famintos, passando mal 

Estavam envergonhados, constrangidos; 

Mas a fome que é obscena 

Já dizia um pensador...  

Se era pra eu sentir vergonha, não senti; 

Diante de tanta gente na mesma desgraça 

Eu senti foi medo e quase caí em desespero 

E se não sobrar pra mim? 

E se não sobrar pra mim? - eu me perguntava.

Então corri, furei fila e comecei a gritar: 

Moço, um pedaço de carne, por favor! 

Moço, um pedaço de carne, por favor! 

O açougueiro me questionou: 

Você vai querer de qual? 

Tem de boi, de porco e tem a carne mais barata do Brasil 

Eu já fui respondendo: 

Eu não tenho dinheiro, eu só tenho fome 

Me dê a mais barata, me dê a mais barata! 

E o homem me olhando com um olhar penoso 

e sem graça, me disse: 

Moço, só tem osso 

Moço, só tem osso. 


Poesia satírica publicada na Antologia "Brasil Errante" disponível na Amazon

(https://a.co/d/gVCt2lG)

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10 de nov. de 2023

Discurso, História, Ideologia e sua relação com a linguagem


Em seu livro Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos, (2015); Eni P. Orlandi, nas primeiras páginas, apresenta reflexões acerca da linguagem, além disso, efetua observações no que se refere aos impactos que os fatores externos (sociais) podem gerar para o discurso. Somos seres complexos e falhos por natureza, consequentemente, a linguagem, assim como nós, está sujeita a equívocos. Como estamos inseridos em uma sociedade composta por diversos indivíduos, iremos nos deparar não só com diferenças culturais, inclusive, variadas formas de pensar, mas também com semelhanças; com histórias e ideologias, com outros. Podemos notar ou não, mas temos uma forte ligação com a linguagem, uma vez que fazemos parte dela e ela de nós. Logo, se pensarmos em neutralidade numa sociedade tão diversificada com indivíduos que estão inseridos na história e também são interpelados pela ideologia, iremos notar uma demarcação ou até mesmo uma tendência pessoal de significar o mundo e isso se mostra na linguagem. Nas palavras da autora: "Estamos sujeitos à linguagem, a seus equívocos, sua opacidade. Não há neutralidade nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos." (p. 7).

Diferente da Linguística, que trata das questões linguísticas considerando a interioridade, a Análise de Discurso (AD) trata dessas questões considerando a exterioridade. Enquanto para a primeira o que interessa é o sistema linguístico e não o falante, para a segunda o que interessa é um objeto que envolve não só a língua, mas também o falante. Se a primeira desconsidera o falante, consequentemente não há interesse na história do mesmo. A linguagem é trabalhada como se fosse abstrata, existe porque existe e nela mesma. Neste sentido, passa a também ser transparente. Mas, segundo a autora, há espessura, há opacidade na linguagem. A Análise de Discurso trata a linguagem em um sentido material, pois leva em conta não só a língua, mas também a história e a ideologia. Logo, não considera a linguagem como abstrata nem tampouco neutra. Segundo a linguista: "A primeira coisa a se observar é que a Análise de Discurso não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando (...)." (p. 14). Por lidar com o homem falando, com a língua no mundo etc., dizemos que a Análise de Discurso não se prende, não se fixa, porque os sentidos mudam, há sempre sentidos outros que, muitas das vezes, vêm de outros lugares. "As palavras falam com outras palavras. Toda palavra é sempre parte de um discurso. E todo discurso se delineia na relação com outros: dizeres presentes e dizeres que se alojam na memória." (ORLANDI, 2015, p. 41).

Sendo assim, a Análise de Discurso também muda e faz isso junto com o mundo. Nessa movência, problematiza as áreas vizinhas como, por exemplo, a Linguística, que está presa, já definiu seu objeto (sistema linguístico) e se restringiu a ele. No caso da AD, o objeto de estudo é o discurso. Mas não nos referimos à fala; já que, independentemente, se tratamos da oralidade ou da escrita, o que interessa são os efeitos de sentidos entre os locutores. Isto é o discurso. Tal palavra traz em si a ideia de curso, de percurso, de movimento. Conforme Eni Pulcinelli, "o discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando" (p. 13). Como não somos pares, mas sim ímpares, estamos sujeitos à linguagem e a seus equívocos; se pensarmos em uma comunicação perfeita estaremos fugindo da realidade, já que até mesmo os sentidos são vários e não são exatos. Numa comunicação onde temos aquele que fala e aquele que ouve, não temos somente transmissão de informações, mas também temos sentidos presentes nesse processo. Portanto, há um jogo de significação presente não só naquele que fala, não só no discurso, mas também naquele que ouve. Neste contexto, a Análise de Discurso trabalha a relação língua-discurso-ideologia, uma vez que a linguagem se materializa na ideologia, o discurso é a materialidade específica da ideologia e a materialidade específica do discurso é a língua.

Louis Althusser, em seu livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado (1998), no capítulo antepenúltimo, nos leva a refletir acerca da interpelação que a ideologia faz para com o indivíduo. Nós nascemos em um mundo marcadamente ideológico, portanto, de certa maneira, acabamos por fazer parte desse acontecimento e, consequentemente, acabamos por significar-se e significar o mundo. Por exemplo, nós possuímos um nome e isto já é fundamental neste mundo, porque faz parte de nossa identidade, não nos referimos só ao documento, mas a quem somos. Isto é tão forte, no entanto, não notamos. Suponhamos que alguém lance a pergunta "Quem é você?" em determinado lugar para mais de uma pessoa. Terá alguma delas que irá responder "Sou Fulana(o)!". Vai dizer o próprio nome. Isso não ocorre por acaso, há uma motivação que leva uma pessoa a responder A ou B e isto faz parte do processo de significar-se. A Análise de Discurso não quer saber quem é o sujeito da frase, ela quer saber quem é esse sujeito no mundo, quer saber o que, por exemplo, leva tal pessoa a dizer seu próprio nome diante da pergunta: "Quem é você?". Bem, se nos tirarem o nome, se não perdermos parte de nossa significação, nós a perderemos toda. De acordo com Althusser (1998, p. 94), "a categoria de sujeito só é constitutiva de toda a ideologia, na medida em que toda a ideologia tem por função (que a define) «constituir» os indivíduos concretos em sujeitos". Ou seja, em sujeitos concretos. Entretanto, antes de virmos ao mundo, somos abstratos. Só passamos a ser concretos quando chegamos ao mundo. Mas ainda, segundo o autor, somos "sempre-já sujeitos", até mesmo antes de nascermos; “os indivíduos são sempre-já sujeitos… Que um indivíduo seja sempre-já sujeito, mesmo antes de nascer, é no entanto a simples realidade (...)” (p. 102).

Se voltarmos ao tempo em que éramos só uma ideia ou um desejo de um casal, neste momento, somos abstratos. Mas se avançarmos um pouco para a fase de gestação e depois de geração, neste momento, passamos a ser concretos, justamente por estarmos no mundo, em uma família, por já termos um nome e um gênero. Estes últimos já são pensados antes mesmo de virmos ao mundo. O que quebra a expectativa é justamente quando, por exemplo, espera-se gênero X e vem Y. Mas, independente de qual venha, já se desenha um caminho para se percorrer, já se pensa em quais roupas vestir, a cor do quarto, os brinquedos, as amizades etc. É um "sujeito-já" mesmo. Pensando em linguagem, já nascemos em um contexto marcado por ela também. Tal pessoa nasceu em tal país que possui tal língua, consequentemente essa pessoa irá aprender essa língua. Mas por que aprende essa língua e não outra? Porque há uma espécie de programa, isso recai na história, recai na ideologia, recai na língua, recai no sujeito. Nós não temos o discurso, ele é que nos tem. Não temos a ideologia, ela é que nos tem. Nisto fazemos sentido, mas estes não são determinados pela nossa vontade. Eles fazem sentido porque estamos inscritos na língua e na história. Segundo Orlandi, “(...) embora se realizem em nós, os sentidos apenas se representam como originando-se em nós: eles são determinados pela maneira como nos inscrevemos na língua e na história e é por isto que significam e não pela nossa vontade” (p. 33). Isto nos leva a refletir sobre determinada coisa e não outra fazer sentido para nós. De certa forma, faz sentido porque estamos naquilo e aquilo está em nós. A palavra "sorte", por exemplo, não vai significar a mesma coisa para uma pessoa sortuda e para uma azarada, nem tampouco "azar" vai significar a mesma coisa para ambas.

Concluindo, todos nós, de certa forma, somos colocados na posição sujeito; neste caso, sujeitos do discurso. Por exemplo, eu, enquanto indivíduo ao escrever, sou um sujeito-autor; eu, enquanto indivíduo que ler, sou um sujeito-leitor; eu, enquanto indivíduo que analisa, sou sujeito-analista etc. Quem faz isso conosco é a ideologia. Até mesmo se pensarmos nos preconceitos que circulam na sociedade, notaremos que não nascemos já preconceituosos, mas que por estarmos inseridos em um mundo já de preconceitos, iremos nos deparar várias e várias vezes com eles diante de nós ou em nós. Dizer-se não preconceituoso equivale a negar estar na ideologia quando, por exemplo, acusa o outro de estar nela. Althusser (1998, p. 101) chama a atenção para essa "denegação prática do caráter ideológico'', que ele diz ser um dos efeitos da ideologia. Para a Análise de Discurso interessa essa ideologia materializada na linguagem. Somos afetados pela língua e pela história. Sendo assim, todo discurso é marcadamente ideológico.

Bibliografia

ALTHUSSER, L. P. A ideologia interpela os indivíduos como sujeitos. Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. pp. 93-104.

ORLANDI, E. P. Análise de discurso: Princípios e Procedimentos. 2. ed. Campinas: Pontes, 2000. I. O Discurso E II. Sujeito, História, Linguagem pp. 15-52.

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19 de set. de 2023

Preconceito Linguístico ou Social?


Ainda hoje há aqueles que tratam a língua como um objeto à parte, que tem vida própria; esquecendo-se de considerar os indivíduos que a utilizam. Para que uma língua exista, é preciso que existam seus falantes. Muitas línguas indígenas, por exemplo, morreram com os seus falantes ao longo do tempo, outras sobreviveram e ainda estão ativas, pois ainda há falantes que se utilizam dessa língua. Apesar de Saussure, linguista genebrino, focar seus estudos na língua e fazer pouco caso dos indivíduos, ele dizia que a linguagem possui duas faces e que ambas se correspondem e uma não vale senão pela outra. Ou seja, subentende-se que há sim uma certa relação entre o indivíduo e a sua língua, pois, esse individuo, a partir da fala, vai se remeter à língua, pondo em prática a sua capacidade de se utilizar dela. A partir do uso individual de cada um, e vale destacar que cada falante tem um modo particular de fala, é que surge no meio social formas variadas de comunicação, dizeres ou expressões comuns a um ou a um grupo de indivíduos de determinado lugar. Neste ponto de variação da fala e de um modo particular que cada indivíduo tem de fazer uso de sua língua, surge um certo preconceito que, não é só linguístico, mas também social.

O Brasil é um país multirracial e diverso, não só em raça ou cultura, mas também em língua e em variações linguísticas. Pessoas que moram na zona rural não falam como as que moram na zona urbana e dentro da própria zona urbana encontram-se variações de fala. Fatores como o geográfico e o social evidenciam essas variações. Porém, apesar de hoje já se ter esse conhecimento, o preconceito ainda persiste e cada vez ganha mais força. Alguns sulistas, por exemplo, têm preconceito para com os nordestinos. Mas esse preconceito não é só em relação aos aspectos fonético-fonológicos, mas também porque se refere aos nordestinos, num ponto de vista também social e até socioeconômico, não apenas linguístico. Pessoas de classe alta que gozam da oportunidade de usufruir de uma boa educação e tornam-se alfabetizadas e letradas têm preconceito para com os analfabetos e "não-letrados". Partindo de um olhar para o grau de escolaridade ou nível de alfabetização, o preconceito ganha mais força quando se trata de um pobre. Um indivíduo de classe alta ou média que comete erros gramaticais passa despercebido, mas um pobre que comete, por exemplo, os mesmos erros que esse indivíduo, é tachado de usuário “incompetente da língua”. Muitas das vezes o que importa não é o que se fala, mas quem fala. É de quem está partindo a fala. Logo, comparando-se um rico e um pobre numa situação comunicativa, certamente o preconceito se dirige para o último, os elogios e prestígio para o primeiro.

De acordo com o linguista britânico James Milroy: “Numa época em que a discriminação em termos de raça, cor, religião ou sexo não é publicamente aceitável, o último baluarte da discriminação social explícita continuará a ser o uso que uma pessoa faz da língua”. Há um certo sentimento de superioridade da parte dos letrados em relação aos pouco letrados. Isso se dá por conta do pensamento de que há um jeito certo de falar e de que para se falar corretamente só a partir da gramática. Esse pensamento evidencia uma confusão que até hoje muito se faz entre língua e gramática. É comum que enxerguem na norma o guia para a língua. Todavia, é o contrário, a língua é quem guia a gramática, não o inverso. Um pobre que mora na zona rural ou urbana e que não frequentou a escola, não deixa de ser um usuário da língua. Ele pouco teve ou não teve acesso a gramática, mas ainda assim consegue construir frases com sujeito, com verbos, com predicado, complemento etc. Há elementos morfológicos presentes em sua fala. Porém, isso não é levado em conta e uma pessoa analfabeta tem menos prestígio. 

A sociedade alimenta os preconceitos, seja de raça, gênero, como também o linguístico, o social. Contudo, até mesmo o analfabeto não deixa de ter uma relação com a língua. Esta está em atividade tanto na fala de um erudito quanto na fala de um analfabeto. Ela faz parte de cada indivíduo. O preconceituoso não tem essa concepção e também não leva em conta a história de nosso país, a miscigenação presente, as desigualdades sociais também pertinentes e as variações linguísticas recorrentes. Este assunto é só mais um assunto de escola que não tem importância, apesar de estar presente no ensino em sala de aula, pouco se dá atenção a esse assunto. Não se tem um ensino que vá de encontro ao preconceito e aos mitos. Pelo contrário, o ensino ainda é arcaico e influencia na criação de mitos, de preconceitos. É preciso uma reformulação geral na sociedade, no ensino e principalmente na mente de cada pessoa.

Texto dissertativo-argumentativo escrito a partir da leitura prévia do livro A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira / Marcos Bagno.

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4 de jun. de 2023

Uma homenagem à Propriá em forma de Poesia

 


Estrela Formosa
Autor: Ruan Vieira 

Fundada em 7 de fevereiro de 1802
Às margens de um Rio sagrado
Vivendo da pesca e do plantio do arroz
A cidade foi crescendo por todo lado

Com teu belo Rio a embelezar
Trazendo turismo e muita riqueza
Foi-se nascendo a tímida Propriá
Que doravante viria a ser Princesa

A princesinha do São Francisco!
Assim ela ficou conhecida; 
Pela beleza da tua Orla, do teu Rio 
Jamais há de ser esquecida

Cidade do Bom Jesus 
Da Catedral e da alegria 
Da fé que nos conduz
No caminho da harmonia

Cidade do Velho Chico 
Com Santo Antônio padroeiro 
Princesinha do São Francisco 
Repleta de um povo guerreiro

Filha de Sergipe, a famosa
Nos encanta a tua luz a brilhar
Da natureza, o teu céu cor de rosa
Faz de ti mais bela, Propriá

Quem te conhece, há de se lembrar
De como tu és formosa;
Quem por aqui passa, quer ficar
Nesta cidade maravilhosa:
Salve! Salve! Propriá.

(Poema escrito em 05/02/2023 em homenagem à cidade de Propriá, celebrando os seus 221 anos em 07/02/2023)
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29 de abr. de 2023

Resenha do Livro "Preconceito Linguistico: o que é, como se faz?"


O livro “O preconceito linguístico: o que é, como se faz” aborda, de modo geral, uma temática social que, inclusive, nomeia a obra. Apesar de um teor teórico e normativo a respeito do português brasileiro, o autor buscou criar um material acessível, com uma linguagem mais simples e entendível, visando leitores letrados e pouco letrados. Importante intelectual brasileiro, Marcos Bagno, tem inúmeras publicações sobre a língua falada no país, como “A língua de Eulália”, “Gramática de bolso do português brasileiro", entre outras. Além de professor e escritor, é também linguista e doutor em filologia. Em o “Preconceito linguístico: o que é, como se faz”, publicado em 1999, Bagno retoma questões sociolinguísticas de maneira mais imersiva em comparação a seu outro livro, “A língua de Eulália” de 1997. Essa obra publicada em 1999 está vinculada aos estudos linguísticos, mais específico sociolinguístico, sobre o português, trazendo uma visão crítica sobre a gramática, sobre os gramáticos e apresentando uma visão mais ampla sobre o uso da língua por seus falantes. 


O livro está dividido em quatro capítulos que, dividem-se em tópicos que se relacionam e se remetem ao tema que intitula o capítulo. Por exemplo, no capítulo um, os tópicos estão relacionados e se remetem ao tema do capítulo. Da mesma forma, todo o texto se remete ao tema geral do livro. No capítulo um, intitulado “A mitologia do preconceito linguístico”, o autor apresenta o conteúdo a ser visto e depois expõe oito mitos sobre o português falado no Brasil, onde enumera cada mito, do um ao oitavo, e os nomeia com frases corriqueiras ditas por estudiosos ou por alunos, a respeito da língua portuguesa, como por exemplo, “Brasileiro não sabe português/ “Só em Portugal se fala bem português”, “Português é muito difícil”, “O certo é falar assim porque se escreve assim”, entre outras. 


No discorrer dos mitos, Bagno vai discutir, por exemplo, acerca da visão estreita de intelectuais que pensam na existência de uma “unidade linguística” ou de uma “homogeneidade da língua”, não considerando as questões geográficas e sociais que evidenciam o “alto grau de diversidade e variabilidade” do português brasileiro. O autor também vai destacar que muito se compara o português de Portugal com o do Brasil e vai expor trechos de materiais publicados por intelectuais, onde há falas de forma preconceituosa sobre o uso do português brasileiro. Ele também apresenta dados estatísticos, faz distinções gramaticais entre o português europeu e o brasileiro e vai salientar sobre a falta de um olhar social e até geográfico da parte dos especialistas que não se atentam para as variações linguísticas que ocorrem de uma região para outra e também não se atentam para a situação que permite ou não que um indivíduo se torne mais letrado. De modo geral, no primeiro capítulo, Marcos Bagno vai comentar sobre questões importantes que podem influenciar na aprendizagem de um falante da língua e vai expor os mitos recorrentes na sociedade a respeito da língua portuguesa que evidenciam a existência do preconceito linguístico. 


No capítulo 2, a priori, o autor vai justamente apontar que os mitos transmitidos e perpetuados na sociedade são resultado de um mecanismo, o “círculo vicioso do preconceito linguístico” que é composto por três elementos: a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos. O linguista ainda mostra como se forma essa tríade, apontando que começa com a gramática que vai parar num livro didático que vai ser utilizado no ensino. No capítulo três, Bagno fala sobre a desconstrução desse preconceito, a começar por exemplo pelo reconhecimento de que o problema existe e o que deve ser feito para combatê-lo, neste sentido, mudar de atitude e olhar com outros olhos para o ensino do português. No capítulo quatro, o autor disserta sobre o preconceito para com a linguística e para com os linguistas, destacando que mais se encara a linguagem a partir da gramática tradicional do que pela linguística moderna. Resumidamente, ele comenta sobre o estilo de ensino arcaico fundamentado numa metodologia ultrapassada e faz críticas construtivas aos falares sobre o português. Na introdução do livro, Bagno nos chama a atenção para a sua comparação, onde a gramática é um igapó e a língua um rio, ou seja, a gramática é uma poça de água parada às margens da língua, já esta é o rio em movimento. 


Na contracapa há um comentário publicado numa revista que salienta sobre a confusão que muito se faz entre língua e gramática e enaltece a separação muito bem feita pelo Marcos Bagno em seu livro. É uma obra excelente e muito informativa. Ela realmente diferencia e esclarece o que é gramática e o que é língua. Resumindo, faz o leitor enxergar a linguagem por outros ângulos, um fator que o diferencia de tudo que já vimos ou ouvimos um dia sobre a língua portuguesa, principalmente na escola. Não é uma obra excludente, mas sim inclusiva. Destaca o papel do linguista nos estudos acerca da linguagem e combate o preconceito. Recomendo a leitura. 


Por Ruan Vieira 

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21 de fev. de 2023

Ruan Vieira - Libertos pela poesia

Ruan Vieira, poeta.

Hoje o Blogue do Ron Perlim tem a satisfação de publicar a entrevista com Ruan Vieira que recentemente lançou o livro Libertos Pela Poesia. Vamos saber mais sobre o autor:

Nascido em Aracaju/SE, no dia 09 de setembro de 2001; Ruan Vieira, nome artístico de Clenisson Ruan dos Santos Vieira, é um poeta, contista e cronista. Graduando no curso de Letras Vernáculas na Universidade Federal de Sergipe (UFS), passou quase toda a sua infância e adolescência escrevendo cartas de amor, composições e poemas, além de alguns contos e artigos de opinião. Em 2018, participou de dois eventos culturais em Propriá, cidade na qual reside com sua família. Com a poesia “Sonhar”, ficou em 3° lugar e levou um troféu para casa, em sua primeira participação em um concurso literário. No mesmo ano, participou de um evento comemorativo em homenagem aos 300 anos da Paróquia local, ganhando em 1° lugar o seu segundo concurso e levando para casa o prêmio, um cheque de mil reais. Ainda em 2018, teve a oportunidade de conhecer o também poeta Mário Feijó, natural de Florianópolis, o qual se tornou um amigo.

Aventurou-se na produção de contos após leituras de Machado de Assis, posteriormente criou micro histórias, tendo escrito uma sátira em 2019 sobre a sociedade brasileira. Foi membro da equipe de autores da Revista Literatura Errante e, em 2022, uma das vozes do Podcast “Literatura Já! ”. Possui alguns textos (na maioria, poemas) publicados no Instagram e em Revistas Digitais (como na LiteraLivre). Já participou de algumas Antologias Poéticas como “No fim tem Poesia” de 2021, publicada em formato digital pela Editora Taba Cultural; “Retrospectiva 2021”, "Poesia Fora do Eixo'' de 2022, “Poesia Instagramável” - 2022 e “Poetas do Ano” - 2022, publicadas pela Editora Toma Aí Um Poema, respectivamente; Antologia “Vozes Que Se Encontram” - 2022, publicada pela Editora Tenha Livros. Em meados de 2021, escreveu um conto de terror que compõe a antologia "Horror em Domicílio" publicada, em 2022, pela Literatura Errante. Ainda neste ano, realizou um sonho que alimentou por quase vinte anos e publicou seu primeiro livro de poemas pela Editora Toma Aí Um Poema. Em dezembro de 2022, foi notificado que seu poema inscrito para a Seleção Poesia Brasileira - “Poetize 2023”, foi classificado para compor a Antologia de mesmo nome (Poetize 2023) pela Vivara Editora Nacional. Em seus quase dezesseis anos de poesia, já produziu mais de mil textos. 

Perfil oficial do autor: https://www.instagram.com/libertospelapoesia/

Como nasceu o livro “Libertos pela Poesia”?

LIBERTOS PELA POESIA, além de ser o nome da página do autor no Instagram, também é o nome de seu projeto pessoal voltado para a divulgação de suas poesias. Para ele, a poesia, além de tocar nos sentimentos, também toca nos pensamentos. Ela liberta. O livro nasceu de um sonho pessoal em querer eternizar alguns de seus escritos.

Do que trata ou fala seu livro?

Nesta compilação poética, o autor reuniu algumas poesias que transmitem as impressões e sentimentos do eu-lírico sobre a vida, sobre o mundo, sobre a existência, sobre o amor, natureza e a morte. São poesias com um teor reflexivo, lírico e filosófico.

Saiba Mais

O livro "Libertos pela Poesia" é o primeiro a ser publicado pelo poeta. Apesar de ainda não ter sido lançado em um evento presencial, algo que o autor pretende fazer em 2023, o livro já está à venda no site oficial da Editora: https://loja.tomaaiumpoema.com.br/libertos-pela-poesia-ruan-vieira

Ruan Vieira, mesmo tendo nascido na capital, considera-se também filho de Propriá, pois passou quase toda a sua vida na Princesinha do São Francisco. Em 2022, chegou a participar de uma Antologia (já mencionada) com um poema em homenagem à cidade.

Em janeiro de 2023, participou do XXXIV Encontro Cultural realizado na cidade de Propriá, no primeiro "Concurso de Poesia Falada Profa. Conceição Vieira" com a declamação do poema "Esse Céu do meu Sertão" e ficou entre os premiados, ganhando o prêmio de 1000R$ na 3° colocação. 

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