A Carne mais barata do Brasil

(Pobres e os ossos. Por Duke.)


Dormi de barriga vazia 

e acordei com fome. 

Levantei e fui até a cozinha; 

procurei por comida no armário… 

estava vazio, 

Abri a geladeira, não tinha nada 

Só gelo, só gelo. 

Decidi sair e fui até o comércio 

Saí de mãos vazias, 

Igual eu vim ao mundo, 

De mãos abanando. 

Eu passei pela rua do açougue 

e vi escrito em letras grandes 

"A carne mais barata do mercado é a carne pobre" 

Uma paráfrase, uma paródia? 

Não consegui lembrar; 

Estava faminto, tremendo 

Nervoso, já quase desmaiando. 

Mas fiquei surpreso com a fila de gente 

Pensei: Esse povo todo pra comprar carne? 

Eu estava enganado. Eles não foram comprar, 

Foram pedir, assim como eu; 

Estavam famintos, passando mal 

Estavam envergonhados, constrangidos; 

Mas a fome que é obscena 

Já dizia um pensador...  

Se era pra eu sentir vergonha, não senti; 

Diante de tanta gente na mesma desgraça 

Eu senti foi medo e quase caí em desespero 

E se não sobrar pra mim? 

E se não sobrar pra mim? - eu me perguntava.

Então corri, furei fila e comecei a gritar: 

Moço, um pedaço de carne, por favor! 

Moço, um pedaço de carne, por favor! 

O açougueiro me questionou: 

Você vai querer de qual? 

Tem de boi, de porco e tem a carne mais barata do Brasil 

Eu já fui respondendo: 

Eu não tenho dinheiro, eu só tenho fome 

Me dê a mais barata, me dê a mais barata! 

E o homem me olhando com um olhar penoso 

e sem graça, me disse: 

Moço, só tem osso 

Moço, só tem osso. 


Poesia satírica publicada na Antologia "Brasil Errante" disponível na Amazon

(https://a.co/d/gVCt2lG)

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