Céu plúmbeo


O céu estava plúmbeo. No outro lado do rio, uma nova croa apareceu; entristecendo os corações dos ribeirinhos. Uma canoa passou melancólica e solitária.

Desci a rampa do porto das lanchas. Dentro de uma delas, olhei no visor do celular. Estava atrasada cinco minutos. Foi dado partida no motor. A lancha saiu de ré, auxiliada por um caibro roliço.
Diante de mim, vestido à Caruaru, um jovem de uns vinte e cinco anos tentava nos esconder a face e os olhos sob a aba do boné branco. Era como se ele estivesse nos escondendo algo, receando que a gente desconfiasse ou descobrisse.

A brisa suave e fria batia nossas faces e as águas, as poucas e cansadas águas do pobre Chico receberam as primeiras gotas do céu. O vento, malinando sobre a face das águas, formavam pequenas marés. A lancha se balançou e uma senhora, no fundo, estava aflita. Próximo a ponte, apesar da distância, notávamos a imensa ilha com currais que servem para pequenas criações de gado bovino. Ilha esta que antes não existia, mas que agora faz parte da vida dos ribeirinhos. Os assoreamentos surgem como um câncer.

E a lancha, sem saber, transportava a tristeza dos meus olhos para o outro lado do rio, onde iríamos parar num outro porto que nos receberia com um bueiro de esgoto.

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