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A besta

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A vida nada mais é do que uma coisa bestializada, onde tudo se resume em cansaço e vaidade. Tudo que buscamos, tudo o que adquirimos se resume na velhice e na dor. Quantas e quantas são as pessoas que possuem vários bens, poder, luxo diverso, se vangloriam disso e em suas casas não há almas para habitar. O que existem são almas escuras pela dor e pelo sofrimento. Tudo o que a gente constrói é simplesmente para nos livrar do tédio da existência. Há momentos que paro e noto a coisa besta diante de mim, diante das minhas retinas fatigadas: a besta humana, estúpida, inacabada. A besta que acha que é inteligente, que cria a fome, a bomba, às injustiças, a violência, as desigualdades sociais, os transtornos diversos da vida. Toda essa bestialização se intensifica a cada dia, a cada instante na busca feroz pelo poder, na busca desenfreada pelo dinheiro; originando todo tipo de sentimento ruim: o egoísmo, a maldade, a intolerância, a incompreensão... Mesmo diante de tantos e

O vilão

Estou cursando uma pós-graduação. Nos encontros, debatemos assuntos voltados para a área de educação e, nesses debates, incluímos a política. Neste ponto, as opiniões discorridas me faz pensar no fazer político deste país.  A visão política neste âmbito é deturpada porque o sistema político e a maneira de se fazer política são vistas de cima para baixo, reforçando a ideia de que a Política é a grande vilã da sociedade.  Usam-se muito as expressões “dinheiro nas cuecas, nas meias; todos calçam 40”,e assim por diante. E elas vêm carregadas de revolta, sempre seguida de uma opinião midiática, catada da tv, dos jornais e revista on-line ou impressos.  Raramente se fala na compra e venda de votos que acontece em todas as esferas do sistema. Preferem a acidez da crítica. O comércio eleitoral não é analisado nas células do Estado, mas na esfera midiática. Isso não é bom.  De nada adianta os alaridos das esquinas, dos assentos, das lágrimas.  De nada servem as trombetas da mídia quando se faz

O problema do amor

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O problema do amor é que as pessoas o fantasiam. O problema do amor é que as pessoas criam imagens e perspectivas do objeto amado. Elas nunca se preparam para a dor. Nunca se preparam para a decepção, como se o amor fosse um estado de graça permanente. O problema do amor é que as pessoas o idealizaram e esqueceram que ele é concreto. E por ser concreto é incompreendido. O problema do amor é que ele é dual. Digo, não é único; torna-se único É de carne e osso. Não é só carne, só osso. São duas carnes, dois ossos. Esse é problema do amor. LIMA , Ronaldo Pereira de. Agonia Urbana. Rio de Janeiro: Litteris Ed: Quártica, 2009.

O troco

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Esquentou, durante toda a manhã, a cabeça por causa da miserável burocracia pública; aborrecendo-se principalmente com as infelizes informações desencontradas que o punha em um estado de nervos paranóico. Após toda essa coisa medíocre, seguiu para uma agência bancária. Nela, esperou na fila com o estômago doendo, a alma e os pés. Somente uma daquelas figuras envelhecida, ouvindo em um celular e cantando aquelas músicas de camelôs piratas o fez rir. Ao chegar sua vez de ser atendido, a bancária nem olhou em sua face. Pediu-lhe o boleto, pôs na máquina para fazer a leitura do código de barras, disse-lhe o valor (que ele já sabia) e o esperou pagar. Com o dinheiro em mãos, calou-se, deu a ele o comprovante de pagamento e chamou o próximo cliente. Sem sair da fila, disse: — Moça, o troco! — Só são R$ 0,20. — Moça, meu troco. Já paguei impostos demais nessa repartição e nem água tem para beber. Quero o meu troco! — Mas eu não tenho aqui! — Mas eu quero o meu

No alto do Cariri

O carro de som convocava, em nome do candidato, eleitores para mais um roteiro eleitoral. As caras saiam estampando adesivos nos peitos e bandeiras, seguindo para o lugar onde costumavam se reunir.  No posto, os caminhões, caminhonetas, vans, ônibus, micro-ônibus e motos iam se amotoando para receber ordens de gasolina. Enquanto eram abastecidos, havia bebida, euforia, batuque, aperto de mãos, vitória certa. Abastecidos, partiram pela BR-101. Das janelas dos ônibus, micro-ônibus, carros populares, caminhões e caminhonetas, eles carregavam estandartes com alegria, regojizo, paixão que, para mais tarde, tornar-se-iam um tormento, uma frustração. Chegaram ao seu destino. Os eleitores desceram, foram por uma senda, atravessaram um riacho de águas da cor da terra, subiram uma ladeira empolgados e eufóricos com a campanha, entraram pela única cancela do povoado; espalhando-se pela pequena rua de barro. No lado direito da rua, a uns cinco metros; havia uma casa de taipa cercada por estacas e

Biana

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Uma boca tão linda Mas cancerígena Uma pele tão suave Mas cheia de fumaça Às mãos tão macias Mas cheias de nicotina A roupa que era tão Mas tão cheia de fumaça A vida cheirando a câncer A fumaça.

Urbano coração

Agonia nos cantos da casa, nas esquinas das ruas, nos ângulos do mundo. O mundo anda, corre, embriaga-se, cambalea no espaço sem rumo;  humilhando corações humanos que não são mecânicos. E os homens, meninos, saem pelados pelas ruas; correm, cansam-se, morrem e explodem de pressão. Por isso, chora, chora Meu irmão no urbano coração. Cadernos, 1996 .