M.J. bordava redendê na sala de estar quando a vereadora Alícia surgiu sorridente. Pediu licença, entrou e disse:
— Recebi seu recado.
— Obrigado por ter vindo. Sente aqui, apontando para o sofá. Quer uma aguinha, um cafezinho?
— Não. Obrigado
Sem firulas, M.J. foi direto ao assunto:
— Sabe o que é, mulé; minha menina se operou e tá precisando de medicamentos aí. Já fui no posto de saúde e você sabe como é: nunca tem nada. Por isso, recorro a você. O que você pode fazer por mim?
— A senhora tá com a receita?
— Tô!
— Vá pegar pra eu dar uma olhada.
E ela foi num pé e voltou n’outro. Alícia pegou a receita das mãos dela, olhou, olhou novamente, coçou a cabeça com a caneta e disse:
— Vou vê o que posso fazer. Saiu e entrou no carro sem olhar para trás.
Só que o “vou vê” nunca mais deu as caras.
Por sorte, M.J. guardou uma fotocópia da receita, entregue a outro parlamentar que levou o casso para o prefeito. Este se prontificou em solucionar o problema, ganhando o afeto e a fidelidade eleitoral dela.
As eleições se aproximaram e com elas os jingle, o pede pede .Alícia iniciou sua campanha. Bate palmas numa casa, n’outra até chegar na de M.J. Esta a reconheceu de longe.
Alícia queria abraçá-la, mas M.J. esquivou-se, pegou o balde d’água que estava no canto e deu-lhe um banho, tendo o prazer de estragar o vestido novo e a maquiagem.
Mesmo banhada, Alícia não perdeu a pompa. E ouviu silente as duras críticas que lhe eram proferidas. Quando percebeu que ela se acalmara, pediu perdão, abraçou-a e improvisou uma desculpa esfarrapada, molhando em seguida a mão dela.
Feito isso, saiu às pressas. Precisava se recompor.
M.J. ficou na porta achando graça de sua façanha. Olhou para a filha e disse:
— Vô muito votar nessa galega falsa. Só porque encheu o rosto de botox, acha que tá com tudo. Tá pensando o quê? Que me esqueci do que ela fez com a gente? Tá muito enganada!
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