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Bisonho literário

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Desde os 18 anos de idade que rabisco alguns versos, aventuro-me na crônica e contos. Venho nesta teima: das linhas dos cardenos, das pontas das canetas para o Word e os dígitos. Essa teima já me rendeu três livros, três antologias, alguns textos publicados na imprensa local e péssimas frustrações. A primeira delas ocorreu em 2003. Por meio de um jornal, desses que se intitulam literário, denominado   Jornal Cultural Mensageiro   conheci uma “editora” denominada   Opção 2.   Ela oferecia serviços de impressão com tiragem mínima de 50 exemplares. Ao ler o anúncio, meu entusiasmo literário emergiu. Com posse do dinheiro em mãos para pagar a edição do livro, convidei mais escritores do município para participarem da   Minicoletânea de Escritores Colegienses.  Os textos ficaram sob a minha responsabilidade. Eu os “organizei” e os enviei para essa “editora”. Ora, eu era um noviço no assunto. Não conhecia a dimensão jurídica, muito menos comercial a que estar sujeita a publi

Vendedor de livros

Pião atendia alguns clientes e demonstrava euforia, muitas vezes forçada, tão comum entre os vendedores. Ele me avistou, acenou com a mão e disse: — Pião, quer alguma coisa? — Não Pião. Por enquanto não! Tenho algo para mostrar a você. — O que é? Este livro de minha autoria. Ele será muito útil para os seus filhos, pois, como eles estudam; irão precisar. — É, Pião, eu não enxergo quase nada sem óculos. Mas como o Pião sempre tá por aqui; vou ajudá-lo. Não custa nada demais ajudar um amigo. Dito isso, foi à gaveta, tirou R$ 10,00 e pagou o livro. Saí e parti para outro estabelecimento, desta vez uma miniperfumaria. O proprietário, quando me viu, foi dizendo: — Depois vou lá para acertamos aquele negócio. — Ora, não se preocupe. Quando você puder, apareça. Mas não vim aqui falar deste assunto. Estou aqui para lhe oferecer este livro de minha autoria, que lhe falei outro dia. — É, deixe-me ver. Eu o observava, enquanto ele folheava o livro. Depois,

Rascunho 1

Vai dos meus olhos e deles vêm a onda chamada amor Quebrando-se delicadamente nos meus pés… Acontece que Posêidon revoltado estar, Agitando-se e agitando as ondas desse mar E muitos  rostos púberes não sabem nada-r Do frágil desamor Do mártir úmido De um coração incolor. No peito está sepultada a bomba em fibras pulsantes de uma Hiroshima… Destruiu a luz, roubou a flor e, por fim, matou a boba no cogumelo atômico do amor. Rascunhos, 1999.

A compreensão do conhecimento

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  "A vida sem reflexão não merece ser vivida" Sócrates   Estive pensando estes dias nas incertezas que me vêm à cabeça sem que eu espere ou queira. As incertezas da Ciência, do Céu, do inferno e da Política. Pergunto a mim o que faço aqui, neste mundo que perdeu a graça diante das minhas retinas fatigadas pela incompreensão do homem pelo homem. Os meus pés dormem dentro do tênis ou sapato. Às dores o acompanham, os passos pisam com força as calçadas. O meu peito não precisa de clichês para expressar os infortúnios, as pegadinhas que estão na vida e dela fazem parte.   Sei que depois do cansaço a gente se depara diante do espelho e vemos o quanto somos ínfimos, atrasados, doentio. Eu gosto do espelho porque ele revela a cada dia que as pessoas se vão, que outras virão. Que por trás deste vai e vem há esqueletos. Todos, um dia, perderemos o sorriso, os dentes, a alegria. Apenas nos restarão as quedas e as farmácias. A gente busca coisas, nomes, soluçõ

Cãomício

Ele reuniu o povo como numa procissão. Ao invés de imagens, carregavam bandeiras, bandeirolas e adesivos estampados nos peitos. O povo assim estava distribuído: aqueles que recebiam uma “ajuda” semanal, os comissionados, os mensaleiros, os que financiaram a campanha e financiam, os covardes e os que são comprados para acompanhar o grupo político. Eles acenavam para aqueles que nas portas ficaram, simpatizantes ou não, daquela euforia, daquele calor apimentado de fofoca, intriga, hipocrisia, interesses comerciais e pessoais. Inesperadamente uma senhora deixou o bordado na cadeira, correu na direção do candidato, querendo apenas pegar em sua mão e lhe desejar toda a sorte do mundo. Acontece que um dos cabos eleitorais atravessou na frente dela, um cãomício embaraçou-a; mas ela insistiu, furou a barreira e o abraçou, dizendo: — Meu filho, com a graça de Deus e Nossa Senhora; o senhor vai ganhar! Surpreso, embaraçado, riu; mas o riso veio pálido, estranho. Sua face pedia que alguém a afast

III - A incompreensão

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O meu medo, talvez o maior de todos, é de ser incompreendido. A incompreensão é um dos sentimentos mais injustos que alguém pode sofrer. É uma das formas de oprimir o semelhante. Quando se é incompreendido, a alma se torna frágil, dando aos seres espaço para outros sentimentos. A incompreensão é um modo de não aceitar o outro, as fraquezas do outro, causando deste modo; frustrações, perda, dor. Quem assim age, sempre tende a domar, a impor regras e modelos. Não quer aceitar as pessoas como elas são. Egoísta, a incompreensão é um dos males atuais da humanidade. Ela impede o crescimento pessoal, os sonhos, o sucesso... as relações e trata os homens com indiferença. A incompreensão não tem ouvidos, tem ordem. Não tem palavras, tem ordem. Não tem olhos, é míope. Não tem mãos para tocar, sentir a vida; tem violência. Não tem alma, tem uma solidão seca, desértica, devastadora. A incompreensão isola os homens e destrói o espírito de solidariedade. Cada vez mais os homens se i

II - A compreensão

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  Abraço a compreensão e a quero sem receios. Sei que ela abre a mente e o peito. É uma espada que me faz lutar com mais precisão. Me fortalece, reveste o meu âmago de coisas novas e boas. Me apaixonei por ela desde o dia que os meus olhos  estavam avermelhados de dor. Foi ela quem os abriu. Desde quando bocejava, molhava os cílios, que ela veio gentil e pôs a mão sobre mim. A compreensão me quer até que eu me ache. Não se deve está preso ao dicionário aquele que busca clareza ou explicação para a compreensão. A sua significação é vasta como é a vida. Não é em algumas páginas ou palavras que ela se restringe, limitando-se a conceitos vagos. À busca incessante dela causa dor e angústia porque as primeiras dificuldades aparecem em nós. É preciso vencê-las através do equilíbrio e quando nós estivermos vencidos a nós mesmos, teremos que vencer aqueles que estão lá fora, muitas vezes insensíveis e cruéis até com eles próprios. A falta dela é motivo para a fuga, muitas vezes