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Rascunho 1

Vai dos meus olhos e deles vêm a onda chamada amor Quebrando-se delicadamente nos meus pés… Acontece que Posêidon revoltado estar, Agitando-se e agitando as ondas desse mar E muitos  rostos púberes não sabem nada-r Do frágil desamor Do mártir úmido De um coração incolor. No peito está sepultada a bomba em fibras pulsantes de uma Hiroshima… Destruiu a luz, roubou a flor e, por fim, matou a boba no cogumelo atômico do amor. Rascunhos, 1999.

A compreensão do conhecimento

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  "A vida sem reflexão não merece ser vivida" Sócrates   Estive pensando estes dias nas incertezas que me vêm à cabeça sem que eu espere ou queira. As incertezas da Ciência, do Céu, do inferno e da Política. Pergunto a mim o que faço aqui, neste mundo que perdeu a graça diante das minhas retinas fatigadas pela incompreensão do homem pelo homem. Os meus pés dormem dentro do tênis ou sapato. Às dores o acompanham, os passos pisam com força as calçadas. O meu peito não precisa de clichês para expressar os infortúnios, as pegadinhas que estão na vida e dela fazem parte.   Sei que depois do cansaço a gente se depara diante do espelho e vemos o quanto somos ínfimos, atrasados, doentio. Eu gosto do espelho porque ele revela a cada dia que as pessoas se vão, que outras virão. Que por trás deste vai e vem há esqueletos. Todos, um dia, perderemos o sorriso, os dentes, a alegria. Apenas nos restarão as quedas e as farmácias. A gente busca coisas, nomes, soluçõ

Cãomício

Ele reuniu o povo como numa procissão. Ao invés de imagens, carregavam bandeiras, bandeirolas e adesivos estampados nos peitos. O povo assim estava distribuído: aqueles que recebiam uma “ajuda” semanal, os comissionados, os mensaleiros, os que financiaram a campanha e financiam, os covardes e os que são comprados para acompanhar o grupo político. Eles acenavam para aqueles que nas portas ficaram, simpatizantes ou não, daquela euforia, daquele calor apimentado de fofoca, intriga, hipocrisia, interesses comerciais e pessoais. Inesperadamente uma senhora deixou o bordado na cadeira, correu na direção do candidato, querendo apenas pegar em sua mão e lhe desejar toda a sorte do mundo. Acontece que um dos cabos eleitorais atravessou na frente dela, um cãomício embaraçou-a; mas ela insistiu, furou a barreira e o abraçou, dizendo: — Meu filho, com a graça de Deus e Nossa Senhora; o senhor vai ganhar! Surpreso, embaraçado, riu; mas o riso veio pálido, estranho. Sua face pedia que alguém a afast

III - A incompreensão

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O meu medo, talvez o maior de todos, é de ser incompreendido. A incompreensão é um dos sentimentos mais injustos que alguém pode sofrer. É uma das formas de oprimir o semelhante. Quando se é incompreendido, a alma se torna frágil, dando aos seres espaço para outros sentimentos. A incompreensão é um modo de não aceitar o outro, as fraquezas do outro, causando deste modo; frustrações, perda, dor. Quem assim age, sempre tende a domar, a impor regras e modelos. Não quer aceitar as pessoas como elas são. Egoísta, a incompreensão é um dos males atuais da humanidade. Ela impede o crescimento pessoal, os sonhos, o sucesso... as relações e trata os homens com indiferença. A incompreensão não tem ouvidos, tem ordem. Não tem palavras, tem ordem. Não tem olhos, é míope. Não tem mãos para tocar, sentir a vida; tem violência. Não tem alma, tem uma solidão seca, desértica, devastadora. A incompreensão isola os homens e destrói o espírito de solidariedade. Cada vez mais os homens se i

II - A compreensão

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  Abraço a compreensão e a quero sem receios. Sei que ela abre a mente e o peito. É uma espada que me faz lutar com mais precisão. Me fortalece, reveste o meu âmago de coisas novas e boas. Me apaixonei por ela desde o dia que os meus olhos  estavam avermelhados de dor. Foi ela quem os abriu. Desde quando bocejava, molhava os cílios, que ela veio gentil e pôs a mão sobre mim. A compreensão me quer até que eu me ache. Não se deve está preso ao dicionário aquele que busca clareza ou explicação para a compreensão. A sua significação é vasta como é a vida. Não é em algumas páginas ou palavras que ela se restringe, limitando-se a conceitos vagos. À busca incessante dela causa dor e angústia porque as primeiras dificuldades aparecem em nós. É preciso vencê-las através do equilíbrio e quando nós estivermos vencidos a nós mesmos, teremos que vencer aqueles que estão lá fora, muitas vezes insensíveis e cruéis até com eles próprios. A falta dela é motivo para a fuga, muitas vezes

O amor morreu?

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Amor surge a cada dia e ele não me comove. O amor de ontem, sem vento, sem dia. Apenas pequeno e sem Grécia não me move. O amor que um dia sonhou por mim, hoje me é estranho e sem nome. O amor que eu não quero entre as minhas pernas, nem nos meus lábios. O amor precisa reviver, pois, está semimorto no meio do caminho. Estive estes dias consultando o Silveira Bueno. No meio de tantas, me deparei diante de uma que se tornou desbotada pelo uso midiático– o amor -. Estava lá, negrito, frio, sem flecha, aljava, Grécia, sem que alguém o despertasse. Parei um pouco nele, nestas paradas de Sofia, abri a página e o olhava como se o mesmo estivesse vivo, me comunicando alguma coisa. Tive a impressão que ele queria saltar da página e, por coincidência, escreveram-no de vermelho no Mini Aurélio. Comparei as cores e percebi a dualidade do espírito: vida ou morte. [1] Entendi que ele quer vida nova, ideia nova. Ele, o amor , quer sair das telenovelas, dos comerciais. Está cansado daqu

Lamentações sem Jeremias

Reclamam deles. Apontam com os dedos das mãos seus defeitos e falhas, mas aceitam o comércio eleitoral como elemento “cultural” da sociedade brasileira. Reclamam das Leis, da violência, do Judiciário (instituição dual), do setor público, mas elegem larápios e gatunos. Reclamam em casa, nos assentos, nas escolas, nas repartições e onde houver aglomerado humano. E estas miseráveis picuinhas se repetem todos os dias, a cada ano, a cada pleito e nada se conserta (Só a decisão do STF que tornou a ficha embranquecida). E continua essa incrível contradição das reclamações e do escambo eleitoral.