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A pequena e a grande corrupção

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Em um de seus livros, Plínio de Arruda Sampaio disse que  [1] há dois tipos de corrupção, a grande e a pequena; mas que as duas são igualmente perniciosas e imorais, mas que não podem ser combatidas da mesma maneira. A grande corrupção, mencionada por Plínio, é a que aparece no estardalhaço midiático envolvendo governos federal, municipal, estadual, distrital, políticos, servidores, particulares e heróis que não são de gibis, mas dos que somente enxergam a corrupção do outro. Não é objeto deste artigo destaca-la, pois, a grande mídia se encarrega de fazê-la; utilizando-se da  opressão publicitária , mexendo com os sentimentos alheios, fazendo muita gente acreditar em meias verdades. Foi assim com Lula, a prisão coercitiva e agora com a pirotecnia do powerpoint de Dallagnol. Irei, no entanto, me ocupar da  pequena corrupção,  especificamente aquela que está entrelaçada ao contexto eleitoral, seja em campanhas ou em mandatos. Ela é ignorada pela grande mídia, pelo Judiciário e

Os especialistas em suicídio

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Tenho lido com certo desconforto “especialistas” que aparecem nas redes criticando de forma agressiva e desumana pessoas que cometeram suicídio ou estão depressivas. Pessoas que se comportam dessa forma são insensíveis, tolas, prepotentes. Não desenvolveram a empatia, nem fizeram leituras aprofundadas dessa melancólica condição humana. Ninguém é suicida de um dia para o outro. Tudo tem uma origem, um meio e um fim. As causas que levam uma pessoa ao suicídio são complexas, envolvem muitos aspectos da história psicossocial dela. Quando você ouvir ou ler coisas negativas tratando desse assunto, não seja um ventríloquo, nem dê importância para elas. O melhor caminho é compreender. E só se compreende estudando, perguntando a quem de fato se dedica ao tema. Eu, que não sou especialista, nem me atrevo a ser nas redes; li a   Inteligência Multifocal do Dr. Augusto Cury e ampliei o meu entendimento sobre o suicida. As pessoas que se acham, que se sentem uma fortaleza, que vo

Pássaros do entardecer

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Hoje estive com Saracura, da Academia Sergipana de Letras, para discutirmos sobre o seu novo livro, "Pássaros do Entardecer" (título provisório). Um cheio de belas histórias dos migrantes itabaianenses, simbolizado pelo "caixão de Europas". Uma leitura humorada e ao mesmo tempo, séria. Recomendo! Saracura e a família Marron Revendo trechos do livro "Pássaros do Entardecer".

Clara e o cais

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Eu me levantei do batente de casa , peguei o boné, b otei-o na cabeça e s aí. Quando ia na calçada da vizinha, ouvi uma voz fraca perdida e os fonemas se que espalhavam a o vento. Era Clara que evocava o meu nome . Assim que se aproximou , cumprimentou-me com um sorriso. A boca, a vermelha da de batom e as pestanas arqueadas, estavam abertas para a vida e o amor . Peguei em sua mão. Era cetinosa. Convidei-a para tomar sorvete. Ela topou, sem objeção. Depois do sorvete, ela se ia rebolando. Os seios, túmidos, arrancavam olhares dos curiosos. Faceira, ia solta pela rua. Os cílios dos curiosos só pararam de pousar depois que ela sumiu completamente na esquina da rua. E da esquina ela foi na ponta dos pés toda clara para a beira do cais. Ela gostava de ver as ondas. Neste dia, Clara saiu para o amor e não para as ondas . O amor que fica no cais. Mas nesta noite a bela se apagou. Ninguém sabe quem roubou a sua luz . Lembro-me da doçura de Clara quando mexia com os meus

A entrevista

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Eu toquei a campainha. Ninguém veio me atender. Então, notei que a porta estava entreaberta. Entrei silente, dei alguns passos e avistei o professor Lorenzo numa confortável poltrona. De face serena, degustava com ímpeto o cigarro e um livro. Nem se importava com a minha presença. Após alguns minutos, disse: — O que o traz aqui? — As suas teorias, professor. — O que quer saber? — Sua opinião sobre o s últimos acontecimentos políticos? — Ora, os últimos acontecimentos políticos refletem uma sociedade que não sabe escolher. De uma população eleitoral dualista e doente. — O senhor poderia ser mais claro sobre o que seriam essas “escolhas ruins” e essa “população dualista e doente”? — É claro! A população eleitoral escolhe de forma ruim quando mercadeja o voto ou quando vota com raiva e por picuinha. Não leva em conta a vida pregressa dos candidatos, nem se dar conta que eles são empregados eletivos, inscritos na Previdência Social. É dualista porque exige é

Assim que ele se foi, eu também me fui

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Uma criança de cabelos crespos, sem camisa e de short preto sacudiu o meu braço, me pediu moedas, fazendo-me abrir os olhos. Aquela criança barriguda, de braços finos, descalça e com uma remela no olho direito; fez-me perceber pela primeira vez a face nua de alguém. Tive ternura e aversão, mas continuei a monologar, me esquecendo por alguns instantes dela. O menino não desistiu de mim, nem se dobrou a minha indiferença. Era um filho da rua que resistia a um homem que não estava num de seus melhores dias, sem saber quem era. Não dei o que ele me pediu, mas aquela voz falida me entrou pelos olhos. Fiquei envergonhado porque estava sem dinheiro, fazendo-o esperar. Assim que percebeu, saiu me olhando de soslaio, me achando estranho ou louco, quem sabe. A minha estranheza tinha nome, idade, tamanho. Isso ele nunca saberia. E a minha estranheza, com o passar dos dias, tomava outro rumo. Assim que ele se foi, eu também me fui.

O autor fala de sua obra: O povo das águas

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Como nasceu o livro O povo das águas? O livro O povo das águas simplesmente me veio, não como uma inspiração divina, mas como uma releitura dos mitos e lendas que povoaram a minha infância e a real situação do Rio São Francisco. Vê-lo perecer pelo assoreamento é melancólico. Quando a ideia me veio, pensei: como reagiria o povo do rio? Então, pensei numa revolução. Pensei nos mitos e lendas como pessoas diferentes que, por saberem o histórico de violência das pessoas preferiu um humano para falar-lhes em seu nome. Do que fala o livro? O livro O povo das águas conta a história de dois mundos: o mundo do povo do rio, representado pelo conselho das águas presidido pelo Nego d’Água na Pedra do Meio e o mundo humano, representado pelo pescador Cíbar. Esses mundos se encontram quando o conselho permite o encontro da Mãe d’Água com Cíbar. Esses mundos têm situações de opressão semelhantes porque ambos dependem do Velho Chico para sobreviverem. É claro que esse encontro causa espa