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Clara e o cais

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Eu me levantei do batente de casa , peguei o boné, b otei-o na cabeça e s aí. Quando ia na calçada da vizinha, ouvi uma voz fraca perdida e os fonemas se que espalhavam a o vento. Era Clara que evocava o meu nome . Assim que se aproximou , cumprimentou-me com um sorriso. A boca, a vermelha da de batom e as pestanas arqueadas, estavam abertas para a vida e o amor . Peguei em sua mão. Era cetinosa. Convidei-a para tomar sorvete. Ela topou, sem objeção. Depois do sorvete, ela se ia rebolando. Os seios, túmidos, arrancavam olhares dos curiosos. Faceira, ia solta pela rua. Os cílios dos curiosos só pararam de pousar depois que ela sumiu completamente na esquina da rua. E da esquina ela foi na ponta dos pés toda clara para a beira do cais. Ela gostava de ver as ondas. Neste dia, Clara saiu para o amor e não para as ondas . O amor que fica no cais. Mas nesta noite a bela se apagou. Ninguém sabe quem roubou a sua luz . Lembro-me da doçura de Clara quando mexia com os meus

A entrevista

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Eu toquei a campainha. Ninguém veio me atender. Então, notei que a porta estava entreaberta. Entrei silente, dei alguns passos e avistei o professor Lorenzo numa confortável poltrona. De face serena, degustava com ímpeto o cigarro e um livro. Nem se importava com a minha presença. Após alguns minutos, disse: — O que o traz aqui? — As suas teorias, professor. — O que quer saber? — Sua opinião sobre o s últimos acontecimentos políticos? — Ora, os últimos acontecimentos políticos refletem uma sociedade que não sabe escolher. De uma população eleitoral dualista e doente. — O senhor poderia ser mais claro sobre o que seriam essas “escolhas ruins” e essa “população dualista e doente”? — É claro! A população eleitoral escolhe de forma ruim quando mercadeja o voto ou quando vota com raiva e por picuinha. Não leva em conta a vida pregressa dos candidatos, nem se dar conta que eles são empregados eletivos, inscritos na Previdência Social. É dualista porque exige é

Assim que ele se foi, eu também me fui

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Uma criança de cabelos crespos, sem camisa e de short preto sacudiu o meu braço, me pediu moedas, fazendo-me abrir os olhos. Aquela criança barriguda, de braços finos, descalça e com uma remela no olho direito; fez-me perceber pela primeira vez a face nua de alguém. Tive ternura e aversão, mas continuei a monologar, me esquecendo por alguns instantes dela. O menino não desistiu de mim, nem se dobrou a minha indiferença. Era um filho da rua que resistia a um homem que não estava num de seus melhores dias, sem saber quem era. Não dei o que ele me pediu, mas aquela voz falida me entrou pelos olhos. Fiquei envergonhado porque estava sem dinheiro, fazendo-o esperar. Assim que percebeu, saiu me olhando de soslaio, me achando estranho ou louco, quem sabe. A minha estranheza tinha nome, idade, tamanho. Isso ele nunca saberia. E a minha estranheza, com o passar dos dias, tomava outro rumo. Assim que ele se foi, eu também me fui.

O autor fala de sua obra: O povo das águas

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Como nasceu o livro O povo das águas? O livro O povo das águas simplesmente me veio, não como uma inspiração divina, mas como uma releitura dos mitos e lendas que povoaram a minha infância e a real situação do Rio São Francisco. Vê-lo perecer pelo assoreamento é melancólico. Quando a ideia me veio, pensei: como reagiria o povo do rio? Então, pensei numa revolução. Pensei nos mitos e lendas como pessoas diferentes que, por saberem o histórico de violência das pessoas preferiu um humano para falar-lhes em seu nome. Do que fala o livro? O livro O povo das águas conta a história de dois mundos: o mundo do povo do rio, representado pelo conselho das águas presidido pelo Nego d’Água na Pedra do Meio e o mundo humano, representado pelo pescador Cíbar. Esses mundos se encontram quando o conselho permite o encontro da Mãe d’Água com Cíbar. Esses mundos têm situações de opressão semelhantes porque ambos dependem do Velho Chico para sobreviverem. É claro que esse encontro causa espa

Feira Cultural em Porto Real do Colégio

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Anita O escritor Ron Perlim esteve na I Feira de Cultura da Escola Municipal Centro Educacional Professor Ernani de Figueiredo Magalhães, em Porto Colégio do Colégio realizada nos dias 02 e 03 de outubro de 2018 . O evento foi organizado pela direção, coordenação, orientadores, professores e alunos, em parceria com a secretaria de Educação e Prefeitura Municipal. O autor visitou todas as salas expositoras. A que mais chamou a atenção dele foi a sala que continha as obras dos artistas colegienses, onde ele se incluía. Havia obras de Rôndone Ferreira, Orlando Santos, Múcio Niemayer, Antônio Januário, Antônio Jorge Maia e Flauberto Soares. A disposição das obras chamava a atenção de quem logo entrava na sala. Para homenageá-lo, expuseram seus livros numa mesa e transcreveram o poema A menina que passa . A aluna Anita  era quem falava da biografia de Ron. Na parte lateral esquerda da sala fizeram um painel grande com a frase que Ron Perlim mais gosta: “Se eu não sonhar os

Correios FM - Entrevista

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Ron Perlim e Edy Almeida No dia 22 de setembro de 2017 o escritor Ron Perlim esteve no estúdio da Correio FM em Porto Real do Colégio - AL. Naquela ocasião foi entrevistado por Edy Almeida sobre os livros  O povo das águas  e Foi só um olhar. Na entrevista discorreu sobre a importância da revitalização do Rio São Francisco e a desgraça do assoreamento que pouco a pouco mata nosso Velho Chico. A revitalização e o assoreamento é tema do livro O povo das águas, onde os mitos e as lendas deliberam num conselho a solução para esses problemas. Em seguida, o autor discorreu sobre o livro Foi só o olhar, cujo tema é a violência e as suas muitas maneiras de se manifestar, maneiras estas que nem sempre estão tipificadas no Código Penal. O bate-papo foi agradável e proveitoso.

Cinderela das cinzas

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Como naquela época não havia eletricidade, a menina vivia no fogão à lenha e na lareira, dia e noite, limpando as cinzas deixadas pelo fogo. É por isso que foi apelidada de Cinderela, nome que remete a cinzas. Outro apelido era Gata Borralheira, porque ela parecia uma gata, se metendo nos cantos da casa, fazendo limpeza, borrada de cinzas.  CANTON, Katia. Era uma vez Perrault . 1ª ed. São Paulo: DCL, 2005. p . 63.