Postagens

O menos pior ou quem dar mais

A paranoia se instala nos assentos. Neles, ela discorre livremente. Às vezes com intensidade e outras com breves intervalos opinando sobre esta ou aquela possível coligação. Os paranoicos tratam do perfil do candidato pondo como elemento essencial e indispensável o dinheiro; instrumento capaz de organizar e manter um grupo político (bases aliadas) para disputar as eleições, sem levar em conta as vidas pregressas dos pré-candidatos muitas vezes citadas de forma amena, aceitável. Assim ficam os montículos de “cientistas políticos de chinelo de dedo” especulando, decidindo o rumo da eleição, tendo certeza que: quem dar mais tem condições de formar um grupo político mais robusto, capaz de disputar e ganhar uma eleição; restando apenas o menos pior , com pouco dinheiro, com esperança que os eleitores enganem o candidato que dar mais e votem contra. E não é só isso que acontece nesses encontros paranoicos. Há os revoltosos que não voltam em ninguém, os que se sentem ofendidos porque este

Na boquinha da garrafa

Imagem
Eram três os que na lancha entraram. O primeiro carregava bolsas plásticas contendo quinquilharias, o segundo trazia na mão esquerda uma garrafa de pinga e o último trazia moedas em uma das mãos. Sentaram-se no banco de madeira. Conversavam algumas coisas, balbuciavam outras, entre risos e irritação. O homem que segurava as moedas se dirigiu para o mais jovem do grupo. Alterado, disse-lhe: —O que você tá dizendo, seu porra? Caralho! — Nada não. Tá doido é? Aquele que segurava a garrafa interferiu, dizendo: — Vamo pará com essa arenga besta. Seus dois bestas! Vamo toma é mé. Pegou a garrafa, tomou um gole, passando-a de mão em mão; retornando as suas conversas com frases e gestos curtos. Somente a garrafa, com sua boca circular e áspera, aceitava aqueles beijos bacanais. O restante dos passageiros deixou as estripulias deles prá lá, voltando-se cada um para seus estados de espírito. Os rostos eram tão diferentes, as histórias psicossociais, os sof

Dualismo

Se não houver uma conscientização coletiva no fazer político Se a contradição da facilidade e das exigências políticas não forem desfeitas Se o voto continuar na balança e a sociedade não se organizar em núcleos de reeducação política Se a expressão “rouba, mas faz” não for excluída Se o convencimento pueril de que a corrupção é um elemento cultural O estardalhaço midiático só venderá As crônicas não chegarão aos mais simples E o poder nunca virá do povo, mas de uma relação comercial

Pegou carona na fama e publicou um livro

Assisti a um vídeo de um determinado indivíduo que se sentia escritor, desses que pegam carona na fama e resolvem publicar alguma coisa, seguindo aquela ideiazinha que uma pessoa só é completa se plantar uma árvore, parir um filho e escrever um livro. Esse “escritor”, com ironia e desdém, criticava outros que; segundo ele, se sentiam especiais, intocáveis, julgando-se acima das pessoas como se semideuses fossem. Até a presente data e nas minhas andanças não encontrei nem um desses escritores descritos com as características mencionadas. A primeira coisa que tenho a dizer a esse tipo de “escritor” é o seguinte: o verdadeiro escritor não se apropria da fama para ser escritor. Ele é apenas escritor. A palavra é o seu instrumento de cultivo diário. O escritor, o verdadeiro escrito é diferente e nunca melhor que as outras pessoas. Sente as mesmas necessidades fisiológicas que elas. E por que é diferente o verdadeiro escritor? Porque capta a emoção do outro, vivendo-a como se

As casas se tornaram éclogas

Imagem
Estava no quintal observando a vida e a sua variada existência. Observava também as coisas inanimadas corroídas pelo tempo que tudo envelhece, que a todos conduz a morte. As nuvens se tornaram plúmbeas, tirando-me de Sofia . Entrei em casa, olhei de soslaio para mamãe que consertava uma toalha de redendê; dirigindo-se à sala de visitas. O céu estremeceu espalhando o medo nas ruas, as pessoas se recolheram para as suas casas, Mimi correu para debaixo da cama, mamãe foi às pressas tirar as roupas do varal, faltou energia e eu fiquei vendo o mundo da janela. Depois de alguns minutos a energia voltou somente em uma das fases. Na quadra em que morava só um poste estava acesso parecendo palco de teatro em meia-luz. Envolto dela, as gotas, os besouros rodopiavam. Estiou. Fui à porta, pus a mão na maçaneta e um vento frio possuiu a minha pele. Pouco a pouco as coisas normalizaram: os narizes apontaram nas soleiras, os assentos nas praças tinham novidades de uma ár

Face dupla

Olhai a cara das palavras e verás que as suas letras pulam, mudam de lugar Penetre no mundo delas dos sonhos e verás a variedade das cores. Mas cuidado porque existem palavras que encolhem e outras esvaziam o coração e outras são pedrinhas de areia na língua. Existe, também, em cada palavra massa.

Deseducação política

Recebi um e-mail de uma amiga. O título que o encabeça é este: A carta , publicada em O Globo . O texto é válido, mas expõe um grito de revolta e de um desespero inútil. O texto aborda o novo referendo pelo desarmamento, acompanhado da opinião do autor pelo não. Para justificá-la, ele opina que os Governos revoguem as leis atuais; seguidas de sugestões como estas: voto facultativo, dois senadores por Estado, redução pela metade dos deputados federais, estaduais e vereadores; férias de apenas 30 dias para todos os políticos, juízes etc. Tudo o que estar escrito nesse texto é possível se houvesse uma reeducação política e os eleitores votassem em propostas. É mais fácil criticar os atos dos profissionais da política que enfrentá-los na prática. E a prática é cruel, mesquinha, vil, hipócrita. Esses textos que só veem a política de cima para baixo deseduca . Ninguém pode criticar, analisar o comportamento do político brasileiro sem antes compreender a forma como ele se elege. Neste país v