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Dualismo entre as vassouras

Esses dias, por meio das redes sociais, parte da sociedade se mobilizou para protestar contra a corrupção. Essa mobilização ficou conhecida como a manifestação anticorrupção. Toda e qualquer tipo de manifestação dessa natureza é válida, mas imatura porque vivemos um dualismo eleitoral . Não se pode fazer reivindicações de valores e de direitos quando no seio delas há contradições. Explico: recentemente a pesquisa da Fecomércio – RJ revelou que as classes que mais consomem produtos piratas são as A e B . Ao invés dessa sociedade se organizar e exigir que os impostos dos produtos originais sejam diminuídos, prefere praticar conscientemente o ilícito. Essas mesmas pessoas enchem a boca para criticarem com veemência os atos de corrupção. Tanto a pirataria como o comércio eleitoral é uma prática visível e presente em todas as classes sociais deste país. Se formos fazer uma lista do dualismo eleitoral praticado pelos eleitores, principalmente no período eleitoral e pós, não caberia nesta p

Na boquinha da garrafa

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Eram três os que na lancha entraram. O primeiro carregava bolsas plásticas contendo quinquilharias, o segundo trazia na mão esquerda uma garrafa de pinga e o último trazia moedas em uma das mãos. Sentaram-se no banco de madeira. Conversavam algumas coisas, balbuciavam outras, entre risos e irritação. O homem que segurava as moedas se dirigiu para o mais jovem do grupo. Alterado, disse-lhe: —O que você tá dizendo, seu porra? Caralho! — Nada não. Tá doido é? Aquele que segurava a garrafa interferiu, dizendo: — Vamo pará com essa arenga besta. Seus dois bestas! Vamo toma é mé. Pegou a garrafa, tomou um gole, passando-a de mão em mão; retornando as suas conversas com frases e gestos curtos. Somente a garrafa, com sua boca circular e áspera, aceitava aqueles beijos bacanais. O restante dos passageiros deixou as estripulias deles prá lá, voltando-se cada um para seus estados de espírito. Os rostos eram tão diferentes, as histórias psicossociais, os sof

As casas se tornaram éclogas

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Estava no quintal observando a vida e a sua variada existência. Observava também as coisas inanimadas corroídas pelo tempo que tudo envelhece, que a todos conduz a morte. As nuvens se tornaram plúmbeas, tirando-me de Sofia . Entrei em casa, olhei de soslaio para mamãe que consertava uma toalha de redendê; dirigindo-se à sala de visitas. O céu estremeceu espalhando o medo nas ruas, as pessoas se recolheram para as suas casas, Mimi correu para debaixo da cama, mamãe foi às pressas tirar as roupas do varal, faltou energia e eu fiquei vendo o mundo da janela. Depois de alguns minutos a energia voltou somente em uma das fases. Na quadra em que morava só um poste estava acesso parecendo palco de teatro em meia-luz. Envolto dela, as gotas, os besouros rodopiavam. Estiou. Fui à porta, pus a mão na maçaneta e um vento frio possuiu a minha pele. Pouco a pouco as coisas normalizaram: os narizes apontaram nas soleiras, os assentos nas praças tinham novidades de uma ár