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Pegou carona na fama e publicou um livro

Assisti a um vídeo de um determinado indivíduo que se sentia escritor, desses que pegam carona na fama e resolvem publicar alguma coisa, seguindo aquela ideiazinha que uma pessoa só é completa se plantar uma árvore, parir um filho e escrever um livro. Esse “escritor”, com ironia e desdém, criticava outros que; segundo ele, se sentiam especiais, intocáveis, julgando-se acima das pessoas como se semideuses fossem. Até a presente data e nas minhas andanças não encontrei nem um desses escritores descritos com as características mencionadas. A primeira coisa que tenho a dizer a esse tipo de “escritor” é o seguinte: o verdadeiro escritor não se apropria da fama para ser escritor. Ele é apenas escritor. A palavra é o seu instrumento de cultivo diário. O escritor, o verdadeiro escrito é diferente e nunca melhor que as outras pessoas. Sente as mesmas necessidades fisiológicas que elas. E por que é diferente o verdadeiro escritor? Porque capta a emoção do outro, vivendo-a como se

As casas se tornaram éclogas

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Estava no quintal observando a vida e a sua variada existência. Observava também as coisas inanimadas corroídas pelo tempo que tudo envelhece, que a todos conduz a morte. As nuvens se tornaram plúmbeas, tirando-me de Sofia . Entrei em casa, olhei de soslaio para mamãe que consertava uma toalha de redendê; dirigindo-se à sala de visitas. O céu estremeceu espalhando o medo nas ruas, as pessoas se recolheram para as suas casas, Mimi correu para debaixo da cama, mamãe foi às pressas tirar as roupas do varal, faltou energia e eu fiquei vendo o mundo da janela. Depois de alguns minutos a energia voltou somente em uma das fases. Na quadra em que morava só um poste estava acesso parecendo palco de teatro em meia-luz. Envolto dela, as gotas, os besouros rodopiavam. Estiou. Fui à porta, pus a mão na maçaneta e um vento frio possuiu a minha pele. Pouco a pouco as coisas normalizaram: os narizes apontaram nas soleiras, os assentos nas praças tinham novidades de uma ár

Face dupla

Olhai a cara das palavras e verás que as suas letras pulam, mudam de lugar Penetre no mundo delas dos sonhos e verás a variedade das cores. Mas cuidado porque existem palavras que encolhem e outras esvaziam o coração e outras são pedrinhas de areia na língua. Existe, também, em cada palavra massa.

Deseducação política

Recebi um e-mail de uma amiga. O título que o encabeça é este: A carta , publicada em O Globo . O texto é válido, mas expõe um grito de revolta e de um desespero inútil. O texto aborda o novo referendo pelo desarmamento, acompanhado da opinião do autor pelo não. Para justificá-la, ele opina que os Governos revoguem as leis atuais; seguidas de sugestões como estas: voto facultativo, dois senadores por Estado, redução pela metade dos deputados federais, estaduais e vereadores; férias de apenas 30 dias para todos os políticos, juízes etc. Tudo o que estar escrito nesse texto é possível se houvesse uma reeducação política e os eleitores votassem em propostas. É mais fácil criticar os atos dos profissionais da política que enfrentá-los na prática. E a prática é cruel, mesquinha, vil, hipócrita. Esses textos que só veem a política de cima para baixo deseduca . Ninguém pode criticar, analisar o comportamento do político brasileiro sem antes compreender a forma como ele se elege. Neste país v

O sorriso de Nizinho

O pré-púbere o acompanhava. Ao perceber, adiantou o par de tênis e a ansiedade acelerou no peito. Olhava de um lado e de outro, tendo a impressão que aquela criança se aproximava. A criança insistia em persegui-lo, dizendo: — Por que o senhor tá em silêncio e tão apressado? Eu preciso falar com o senhor. De hoje que chamo você. Ah! O senhor não quer falar com eu, né ? Então, pare agora; se não eu atiro! O homem parou ofegante, as pernas tremiam, o suor e a palidez apoderou-se de sua face. Volveu-se para a criança e foi recebido com um riso. Sem pestanejar, disse-lhe: — Quando o senhor saiu da padaria deixou cair isso. Aí eu vim as pressas para devolver ao senhor. O homem ficou pasmo, permanecendo em silêncio.

Largue o meu pé

Érico não costumava ouvir a mãe. Preferia a língua dos assentos das praças. Só que aquele jeito levado dele irritava a sua mãe que todos os dias chamava-o para ir à escola. Era assim: — Ô Érico, meu filho, não vai hoje prá escola não? Só que tá nais bancada. Vá tomá banho, vá. Já tá na hora de ir prá escola, menino! Ele deixou os colegas no assento, entrou irritado, volveu-se ela e disse:: — Como é que a senhora fala desse jeito comigo, na frente de meus amigos. Ficaram tudo mangando de mim.Tá bom deu não ir prá escola nenhuma. Ela o olhou cuidadosamente e disse: — Se você não tem o que querer. Enquanto você viver debaixo da minha vista, terá que me obedecer. Se não, arrume as suas coisas e vá embora. Você já tá bem crescidinho. A vida é quem ensina. E deu-lhe as costas, indo à cozinha.Ele nada disse. Pegou a bolsa e foi à escola, não por vontade livre, mas pela imposição da mãe. As ruas, naquele dia, estavam pálidas e tudo o que nelas haviam. Somente a

Os prefeitos, a folha paralela e os cognatas

Nas cidadezinhas, os prefeitos quando estão em apuro financeiro (nunca deixam de estar) costumam dizer que “não tem dinheiro”, que “os repasses diminuíram” e vão empurrando a administração com a barriga, digo: com a língua e remendos. E assim vivem eles: um tapinha nas costas num dia, óculos escuro noutro, notas frias ali, vereadores passando no bolso por aqui. Mas as cidadezinhas continuam as mesmas: prestando serviços públicos devagar, faltando-lhes as bananeiras e os burros de Drummond. Essa falta de dinheiro que a maioria dos prefeitos dizem que “não tem” é justificada por vários motivos. Um deles é tão comum, tão familiarizado que todos praticam-no: é a folha paralela . A folha paralela é uma folha política, a parte; ajeitada por causa dos compromissos eleitorais. Para mantê-la, eles negam reajustes salariais a servidores e prestam serviços públicos sem qualidade. Assim estar distribuída: para os cabos eleitorais, polícia, parentes, amigos, financiadores de campanha (agiotas, com