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Fundo de quintal

Procurava um amigo e o encontrei numa escola dialogando com colegas de trabalho. Dei bom dia, ofereci amendoim que carrega em uma das mãos, sentando-se em seguida numa dessas cadeiras escolar abandonada. Em silêncio, ouvia quando um deles acusava a Câmara de ter vivido um caso de mancebia na gestão anterior, alegando que: “quando os vereadores são do mesmo grupo político do prefeito, não há administração; mas esculhambação em conluio com a Justiça”. Outro, mais reflexivo falou: “a oposição é muito útil para a democracia”, calando-se. O diálogo entre eles continuava, tornando-se quase conversa. Cada um expunha suas ideias e opiniões sobre o atual sistema político, apontando com os dez dedos das mãos para os políticos; demonstrando uma opinião formada pela mídia. Permanecendo como estava nada dizia; até porque aquele diálogo-conversa me causava angústia, já que os ouvidos nunca se cansam nem se fartam os olhos. Observei o entendimento superficial que alguns deles faziam daquele assunto,

Mensagem para uma inscrição

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Quando você for ao monte contemplar Este mundo triste dos vivos Você seguirá voando pelos penhascos sem Ponte, Com sua asa, sua dor, seu sorriso Toca seu banjo, sua harpa Sua flauta seu flautim seu violão Toca a guitarra seu teclado seu piano Ou qualquer misterioso instrumento de anjo Só não se sinta triste Quando eu tiver chorando você. É porque você existe, E eu morro de vontade de lhe ver de novo, MÃE. Wellingto Liberato dos Santos

A espera de um candidato

Mauro estava de pé. Com o celular abaixo do queixo, fazendo gestos como se estivesse num palanque ou tribuna. Era branco, cabelos lisos e sedosos. Carregava no rosto vestígios da adolescência. Eram espinhas fossilizadas. Calçava tênis e vestia jeans. Falava de promessas e algumas pessoas o rodeavam, enchendo o coração e as cáries de alegria - Um menino passou de lado, catando as latas de refrigerante e cervejas que nós havíamos bebido. O vento fazia pequenos redemoinhos de poeira, fazendo os cílios se encontrarem para proteger às córneas. Zuuuuummm...  Uma carreta passou pela BR e Mauro falava, falava na ponta dos pés, voltando-se para uma plateia magérrima. Alguém passou, pôs a mão no meu ombro. Eu o respondi com um sorriso contido. Biro se aproximou, estendeu aquela mão grande e fria. Demorou um pouco e depois saiu à cachorro.  Saímos.  Dentro do carro Ademir falava com gosto e alegria, contente de coisas pálidas. O rosto dele era redondo, nariz afilado, bojudo e usava óculos. Chegam

João sem São

É tempo de João, de prece e de Gonzaga. É tempo de bomba, chuvinhas, milho assado. É tempo de cavalgada, de rostos pintados, de arrasta-pés. È tempo de fumaça, de olhos ardentes, de poluição. É tempo de cheirar a fumaça, de beijar na fumaça, de beber na fumaça. Esse é um dos tempos no tempo.

Desencontro

A menina não saiu no meio da noite. Ela fugiu com o sonho na boca e não voltou mais. Encheu a boca de orvalho e foi de cara nua… A menina que parecia solta, foi levada pelo encanto de sua sombra ao pé de um poste. A rua, naquela noite, não a quis mais. Amanhã é outro programa.

Receitas A4

Euforia, paixão, gritos estrídulos moviam-se no calor das passeatas de rua em rua. As bandeiras são verdadeiros estandartes. Os eleitores quando se deparam com pessoas de outro grupo, as recepcionam com vaias e os mais afoitos com gestos obscenos. O líder nada faz, mas demonstra certo sarcasmo. Passada essa fase de comícios e pede-pede de votos, chega a semana da eleição. Os grupos se reúnem para traçar os pontos estratégicos do comércio eleitoral. Os líderes convocam os cabos eleitorais, discutem o que deve ser feito e começam agir, geralmente na calada da noite feito ladrão. Mas são os últimos três dias da eleição que as coisas acontecem e esquenta. As pernas dos eleitores são substituídas pelo frenesi dos pneus. São uns atrás dos outros para “impedir” a compra e troca de votos.   No dia as coisas aparentemente são calmas. A polícia, o MP (quando não escolhem um grupo) ficam na espreita tentando muitas vezes impedir a famosa boca-de-urna. Mas o vício é miserável e muitas vezes difíc

Ao meu corpo que foi de pó

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Foi a palavra na ponta dos dedos. Foi a briga do peito, a espada das incertezas... Foi o esqueleto na ponta dos pés, as mãos tocando as árvores, a fruta que o intervalo chamou. Foi a serpente de cima de uma árvore, a luz que surgiu, os olhos que se abriram. Uma coisa nova surgiu, na calma e na alma.O céu parou, o livro se abriu, as portas se fecharam e um novo mundo surgiu.