Postagens

Receitas A4

Euforia, paixão, gritos estrídulos moviam-se no calor das passeatas de rua em rua. As bandeiras são verdadeiros estandartes. Os eleitores quando se deparam com pessoas de outro grupo, as recepcionam com vaias e os mais afoitos com gestos obscenos. O líder nada faz, mas demonstra certo sarcasmo. Passada essa fase de comícios e pede-pede de votos, chega a semana da eleição. Os grupos se reúnem para traçar os pontos estratégicos do comércio eleitoral. Os líderes convocam os cabos eleitorais, discutem o que deve ser feito e começam agir, geralmente na calada da noite feito ladrão. Mas são os últimos três dias da eleição que as coisas acontecem e esquenta. As pernas dos eleitores são substituídas pelo frenesi dos pneus. São uns atrás dos outros para “impedir” a compra e troca de votos.   No dia as coisas aparentemente são calmas. A polícia, o MP (quando não escolhem um grupo) ficam na espreita tentando muitas vezes impedir a famosa boca-de-urna. Mas o vício é miserável e muitas vezes difíc

Ao meu corpo que foi de pó

Imagem
Foi a palavra na ponta dos dedos. Foi a briga do peito, a espada das incertezas... Foi o esqueleto na ponta dos pés, as mãos tocando as árvores, a fruta que o intervalo chamou. Foi a serpente de cima de uma árvore, a luz que surgiu, os olhos que se abriram. Uma coisa nova surgiu, na calma e na alma.O céu parou, o livro se abriu, as portas se fecharam e um novo mundo surgiu.

Dia, depois noite

É dia. Levadas pelo vento, elas se mesclam ao anil do céu. O sol, por sua vez, esbanja-se pelas ruas, calçadas. Depois vem a noite, sem nuvem alguma; mas carregada de estrelas. Mas de repente as nuvens mudam de cor, os trovões surgem, os relampagos fazem faltar energia, Mimi foge para debaixo da cama e Zeinha se assusta, dizendo que o coração palpita na boca.

A vela

Imagem
A vela só é vela enquanto não acesa. Depois de acesa, o pavio alimenta a flâmula. Depois, logo depois, o pavio se vira e apaga-se; as trevas recaem como no último fôlego e a chama sai sem pressa numa fumaça. Ela se foi e outra se acendeu.

Um após outro

Imagem
Um dia chama outro, puxa outro, engravida E pari a velhice. Um dia abraça outro, estende a mão para outro Mas se encolhe sem a outra. Um dia beija outro, morre sem o outro Morre sendo dia .

Reeducação política

O problema da política não estar nos políticos, mas no modo de se fazer política, de se pensar a política e de escolha política. Neste país, faz-se política de várias maneiras: pela aparência, pela picuinha, pelos interesses pessoais e egoístas, pelo comércio eleitoral, pela mídia, pela mentira, pela fofoca, pela antipatia etc. Explico: conversava outro dia sobre a eleição presidencial. Ouvi o nome de Dilma ligado ao de Lula, o de Serra ao de FHC. Os simpatizantes do primeiro argumentavam a crise superada, a não dependência do FMI, as não privatizações, os inúmeros concursos públicos etc. e os do segundo diziam que o Plano Real foi criação dos tucanos, o Bolsa Família (Uma mentira, porque o Bolsa Família é a reunião do Vale Gás, Bolsa Escola e Vale Transporte criados no governo de FHC), o não reajuste das aposentadorias (O fator previdenciário foi criado no governo FHC), que o governo Lula já pegou a casa arrumada e outras bobagens. Quando os ânimos se apaziguaram, eu olhei para os meu

Multiplicando os pães

Imagem
A multiplicação dos pães continua, a exemplo de dona Lucádia que divide R$ 510,00 para a farmácia, o mercadinho, à água, o botijão, a energia e os netos.   Isso acontece todo dia cinco de cada mês. Os filhos dela chegam acompanhados dos seus filhos. Ela, dona Lucádia, observa para os rostos pequenos das crianças e se compadece. Afinal de contas, são filhos dos seus filhos. Contrita, ela os acolhe solidariamente com a solidariedade que só às mães possuem. E é assim: em alguma parte deste país a multiplicação dos R$ 510,00 acontece miraculosamente para uma multidão de netos, de filhos, genros, noras; sem rumo, sem remo.