Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Crônicas

Eu não fiz com o dedo

Imagem
— Amiga, não sei o que fazer. Tô grávida, meus pais não sabem e tô desesperada. Me der uma luz! — Não sei como dar luz a uma grávida. A única coisa que sei é que ela brilhará daqui a nove meses. (risos) — Deixe de brincadeira. Tô falando sério! Não sei o que fazer. — Já falou para ele? — Ainda não! Tô com medo dele me rejeitar e eu ser mais uma mãe solteira. — Amiga, se ligue! Essa criança não é só sua. Se ele não quiser assumir, você vai e denuncia na Justiça e Pronto. Vai deixar de graça, é? — Não amiga! Tôu tão confusa e com medo. Os homens são estranhos. Diz que gosta, quer ficar com a gente e quando acontece isso, eles fogem como diabo da cruz. Ainda dizem que a gente é complicada. — Amiga, deixe de bobagem. Você fez com o dedo, por acaso? — Não! — Então! Tente conversar com ele. Ele não diz que gosta de você. Que sempre estar com você em tudo que é festa? — É! — Então! Vou telefonar para ele agora. — Não sei. — Ligo ou não li

Galrão

Eram sete horas da manhã. Desci a rampa do porto, entrei na lancha e sentei. De onde estava, via o céu nublado e nele um arco-íris enfeitando a manhã. Enquanto folheava a Gramática, uma mulher conversava o tempo todo como se tivesse necessidade de fazer aquilo durante toda a viagem. Com o cigarro entre os dedos e os lábios, chamava a minha atenção. Olhei algumas vezes para ela, para a pose que só os fumantes têm, dei uns sorrisos contidos e retornei para a Gramática, deliciando-me com os verbos de ligação. E porali fiquei alternando de um estado para outro, sem me incomodar com a trepidez da lancha, nem com a tagarelice dela.

A pressa e a prece

Imagem
Olhou para o relógio azul de ponteiros vermelhos e números pretos que estava na parede branca da casa. Quando se deu conta, as horasões contínuas estreitaram seu tempo, fazendo-a apressar o coração, os passos e a ansiedade. — Já vai mulé? Tá cedo! — Tenho que ir. Tenho umas coisas para cuidar. — Obrigado pela visita. Quando vem passar um final de semana com a gente? — Qualquer dia desses. Quando sobrar um tempinho eu apareço. — Minha amiga, não se torne uma xepa. Para que tanta correria. A vida estar passando e é tão curta. Sua correria vale a pena? Pense um pouco nisso. — Não se preocupe. Próximo ano estarei mais aliviada. Se Deus permitir, a gente ainda vai se ver muitas vezes, colocar os assuntos em dia e relembrar as nossas andanças de solteirice.   — Tchau!   — Tchau! E  o relógio simplesmente continuou com o seu tique-taque e Maria fechou a porta pela última vez para a amiga, lembrando-se da pessoa alegre que era, mas sempre apressada, tomando aquele café