17 de out. de 2010

Poeira

A poeira vem vindo, pegando no meu rosto e se tornando um lodo incorrigível. A poeira que cerca os meus pés suados, subindo devagar por meus corações. A poeira que o vento leva nas ruas, junta as folhas…
II
A poeira na face púbere, mal saída da face. A pele guardando-a para uma noite de suor, no meio da noite, entre papelão. A poeira que esconde o sexo e que o expõe escancaradamente na imprensa. Os pelos pubianos, cheios, macios dela.
III
O corpo, meu sem jeito, está indo. Este lodo, este barro juntado em milhões de grãos; não está servindo para as cores. O mundo feito do barro. A poeira está no espaço, com o lixo do espaço. Lixo e vírus, germe. Tudo na poeira.
IV
O barbeador passa; trás em suas lâminas um lama mole, úmida. É o suor. Não, não. É a mesma que vem do Jardim, num dia de sol e vapor d’água. Mas esta nova fase da poeira se revela pouco a pouco e me revela na frente do espelho. Eu pequeno e me vendo, poeira do meu nascimento.
V
Alguém grita. É um gruído. As vozes se misturam e não se fala do vento, menino, maluvido, petequeiro. A poeira, sempre ela, nos meus olhos, fazendo-me chorar, vermelhos sem ninguém.
VI
A poeira não é uma idéia nova.
(LIMA, Ronaldo Pereira de. Meus Cadernos. Colégio, 06. 02. 02).

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