19 de abr. de 2022

A merenda que não estar nas escolas


Quando não há merenda nas escolas ou são oferecidos biscoitos com suco artificial, as tribunas se calam.

Quando este comportamento passivo chega às ruas e algum cidadão reclama, indigna-se; há quem costuma dizer:
— O que você tem com isso? A gente tem que arrumar um jeito de comer também!
Indignar é o verbo ignorado pelos vendidos, pelos que comem. Dessa forma a prática da corrupção recebe apoio de parte da população eleitoral. E pasme! Ela é dita “culta”, “esclarecida” e alegram-se com as artimanhas políticas.
Por isso a maioria dos vereadores e gestores não cumpre com os seus deveres. Estes tem a obrigação de fiscalizar, mas colocam o rabo no ventre, no egoísmo, na facilidade, na “naturalidade da corrupção” entregando-se ao regozijo da impiedade e aqueles a de fazer, mas omitem-se, violentando todo tipo de Lei.
E o dinheiro da merenda, que deveria ser escolar, vai para as bebidas, as farras, os conchavos políticos, as construções e reformas de casas, descem pela garganta e terminam no bolso; alegrando os corações desses larápios.
E os olhos das nossas crianças são ignorados pelos que presenciam e se calam. Pelo convencimento vil e mesquinho sem que nada se faça.
E os olhos desfalecidos das crianças vão até as cantinas e de lá retornam com as forma geométricas na face que só a fome sabe aplicar.
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17 de abr. de 2022

O Jesuíta de Possível Origem Negra Que Defendia a Escravidão Africana

Pe. Antônio Vieira

(…) Vieira chegou ao Brasil em 1614, aos 6 anos. Seu pai conseguira um emprego como escrivão na capital da Colônia, Salvador. Ao lado de Pernambuco, a capitania onde o menino cresceu era a mais rica (em 1612, havia cinquenta engenhos de cana-de-açúcar). Para manter essa economia funcionando, Portugal escravizava mão de obra africana. De acordo com o historiador Stuart Schwartz, entre 1595 e 1840, 147 mil negros africanos foram trazidos ao Brasil para trabalhar na lavoura. Só na Bahia, na década de 1620, entravam cerca de 2.500 a 3 mil escravos por ano.

Durante a infância e adolescência de Vieira, a escravidão africana serviu para Portugal manter o desenvolvimento econômico e explorar novas terras. Foi também um período em que a igreja se banhava em filosofias medievais para defender que, do ponto de vista de Deus, não havia pecado algum na escravização; pelo contrário, a prática era necessária para os negros encontrarem o caminho dos céus.

Para a igreja, o regime escravocrata era fundamental à manutenção da ordem do mundo. São Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, resumiu tudo na máxima de que uns nascem para mandar e outros para obedecer. Era com base nessa filosofia que a Companhia de Jesus justificava a prática. Para os negros, a situação piorou quando, no século XVI, difundiu-se a tese de que os africanos eram descendentes de Cam, o filho amaldiçoado de Noé, e que estavam condenados ao cativeiro. A escravidão, portanto, era o caminho para suas almas serem perdoados.

Educado conforme os preceitos dessa época, padre Antônio Vieira acabou incorporando esse pensamento em sua fala e textos literários. Em 1633, o religioso recebeu o bizarro convite para pregar um sermão para os negros. Sua missão era convencê-los, em uma espécie de catequese, da importância de eles serem escravizados e de como essa condição os ajudaria na salvação de suas almas. Vieira, que estudara os textos da Companhia de Jesus de ponta a ponta, escreveu os sermões para os africanos baseados na ideia da suposta ascendência maldita. Disse-lhes que, para se livrarem do pecado de serem da estirpe de Cam e alcançarem a redenção, deveriam aceitar a cruz cristã, trabalhar na senzala e não se rebelar. Vainfas explica que pouco se sabe sobre as circunstâncias do episódio, embora afirme que a prática foi apoiada pelo Estado e pela Igreja e, provavelmente, dirigida a africanos que já entendiam o português.

Consciente ou não, Vieira passava adiante não apenas um texto religioso e literário, mas um discurso político favorável à manutenção das estruturas sociais da época. Ao fazer isso, o jesuíta demonstrava conivência com a exploração dos negros. E parecia se esquecer de condenava justamente aqueles que saíram do mesmo continente de onde, talvez, tenham vindo seus antepassados; de que o sangue que corria nas veias daqueles negros talvez fosse o mesmo que corria nas suas; de que, no topo de sua árvore genealógica, também poderia estar Cam, o filho amaldiçoado de Noé.


VERRUMO, Marcel. História Bizarra da Literatura Brasileira. São Paulo: Planeta, 2017. pp. 51 a 53.

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30 de mar. de 2022

Professores e educadores

A maioria dos profissionais da educação quando ocupam cargos de confiança ou de comissão, tornam-se algozes de seus próprios colegas com práticas mesquinhas. Isso acontece de um governo para outro. 

A prática desses infelizes constitui em negar direitos adquiridos, suprimem leis, dão o famoso “gelo” e outros atos vis acompanhados de desculpadas descabidas e esfarrapadas. Quando contrariados, esbravejam prepotência e estultícia. 

Enquanto esse tipo de assédio estiver nas secretarias de educação, diretorias, coordenadorias; a educação do nosso país será sempre capenga porque o problema dela não se resume especificamente ao piso salarial; mas a vícios políticos, a picuinhas, a falta de compromisso, a má gestão de pessoal e do dinheiro público. 

Esse tipo de comportamento é típico de professores e não de educadores. Estes priorizam a educação, são profissionais e lutam todos os dias por vencimentos justos; enquanto aqueles se preocupam com o estômago, são desqualificados, bajulam políticos para ocupar cargos, reclamam todos os dias dos vencimentos, dos alunos, dos colegas e não cumprem com o seu dever; tornando-se capachos do sistema. 

Isso acontece graças a politicanagem. Ela não prioriza qualidade, nem capacidade; mas pessoas desqualificadas que estão prontas para atrapalharem a vida de seus colegas de trabalho com atos ilícitos e medíocres.
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Eleições e a troca de voto na República Velha


 
"(...), a questão da pobreza e da desigualdade no Brasil se mostra como algo gerado por um déficit histórico de cidadania em um país que viveu sob regime escravo por quatro séculos, no qual direitos civis e políticos existiam apenas no papel. Um bom exemplo são as eleições brasileiras, tanto no período do império quanto na república velha - a chamada república dos coronéis. As eleições eram escrutínios caracterizados pela fraude e truculência, onde os eleitores eram ameaçados por capangas ou trocavam seu voto por qualquer utensílio ou objeto".

Referência:

DANTAS, Humberto & Júnior, José Paulo Martins et al. Introdução à política Brasileira. São Paulo: Paulus, 2007. p.216
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O poder de manipular

Paulo Henrique Amorim, o PHA, do Conversa Afiada nos deixou em julho de 2019. Era jornalista e escritor. Com suas críticas bem humoradas, sarcásticas, deixou a sua contribuição para a democracia capenga do nosso país.

Ele, que sempre nos alertou sobre o Pig, que não é porco (a), mas Partido da Imprensa Golpista. Compreender a mídia, seu funcionamento é dever de todo cidadão para evitar a manipulação; até porque ela também curti um fake news.

De forma concisa, Paulo Henrique Amorim em sua imensa experiência, nos mostra o funcionamento dessa instituição, considerada o quarto poder
 
Manteve por muitos anos o blogue Conversa Afiada. E  a luta continua. A vida segue e as pessoas simplesmente morrem.



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26 de fev. de 2022

Molhando a mão


M.J. bordava redendê na sala de estar quando a vereadora Alícia surgiu sorridente. Pediu licença, entrou e disse:
Recebi seu recado.
Obrigado por ter vindo. Sente aqui, apontando para o sofá. Quer uma aguinha, um cafezinho?
Não. Obrigado
Sem firulas, M.J. foi direto ao assunto:
Sabe o que é, mulé; minha menina se operou e tá precisando de medicamentos aí. Já fui no posto de saúde e você sabe como é: nunca tem nada. Por isso, recorro a você. O que você pode fazer por mim?
A senhora tá com a receita?
Tô!
Vá pegar pra eu dar uma olhada.
E ela foi num pé e voltou n’outro. Alícia pegou a receita das mãos dela, olhou, olhou novamente, coçou a cabeça com a caneta e disse:
Vou vê o que posso fazer. Saiu entrou no carro sem olhar para trás.
Só que o “vou vê” nunca mais deu as caras.
Por sorte, M.J. guardou uma fotocópia da receita, entregue a outro parlamentar que levou o casso para o prefeito. Este se prontificou esolucionar o problema, ganhando o afeto e a fidelidade eleitoral dela.
As eleições se aproximaram e com elas os jingle, o pede pede .Alícia iniciou sua campanha. Bate palmas numa casa, n’outra até chegar na de M.J. Esta a reconheceu de longe.
Alícia queria abraçá-la, mas M.J. esquivou-se, pegou o balde d’água que estava no canto e deu-lhe um banho, tendo o prazer de estragar o vestido novo e a maquiagem.
Mesmo banhada, Alícia não perdeu a pompa. E ouviu silente as duras críticas que lhe eram proferidas. Quando percebeu que ela se acalmara, pediu perdão, abraçou-a e improvisou uma desculpa esfarrapada, molhando em seguida a mão dela.
Feito isso, saiu às pressas. Precisava se recompor.
M.J. ficou na porta achando graça de sua façanha. Olhou para a filha e disse:
Vô muito votar nessa galega falsa. Só porque encheu o rosto de botox, acha que tá com tudo. Tá pensando o quê? Que me esqueci do que ela fez com a gente? Tá muito enganada!
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30 de jan. de 2022

Chico, O Velho

Depois de percorrer os inúmeros caminhos que os diversos gêneros textuais oferecem, Ronaldo Pereira de Lima, o Ron Perlim, se inscreve, definitivamente, como um nome a ser firmado no cenário da Literatura voltada para o público juvenil com poemas e contos reconhecidamente premiados.

Agora, a proposta é nos apresentar personagens ricos em sentimentos, em filosofias sociais contemporâneas, em contradições existenciais, traçando o perfil de seu povo, de seu lugar, da linguagem que comunica (mesmo quando não fala), que critica (mesmo quando elogia), que se mostra (mesmo quando se esconde), que vive vida real (mesmo que na ficção).

Ronaldo traz em mais um de seus surpreendentes livros a mostra do que é a vida simples de um povo às margens do rio que há muito não é mais um rio, e sim um filete de esperança de um dia voltar a ser grande e abundante.

Dilma M. Carvalho

Chico, personificação do Rio São Francisco, sofre e deixa transparecer nas angústias de seus frequentadores, nas agonias das cidades que o margeia, a dor da escassez, o medo de não ter o amanhã, a tristeza das incertezas e força da esperança nordestina.

O livro é mais uma excelente obra de ficção que retrata o mundo simples, a gente simples, ao tempo em que faz uma denúncia e um alerta à reflexão sobre os aspectos sociais que a degradação do Rio São Francisco provoca nos moradores ribeirinhos.

E é através de uma literatura engajada, que pensa e reflete a sociedade pelo viés do imaginário, que nosso jovem público leitor vai viajar no rio e na vida ficcional dele emanada para a comunhão deste livro.

É isso que encontraremos na tranquila e reflexiva leitura de Chico, o Velho.

DILMA MARINHO DE CARVALHO, professora especialista em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal de Alagoas, ministrante de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Redação para o Ensino Médio na rede pública de Alagoas.


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