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O relógio

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O relógio, suspenso na parede, era fiel nas suas longas e largas horasão. De ponteiros abertos, me fazia lembrar os cristãos quando oram ou rezam. Sem saber, media as minhas lembranças que iam surgindo do esquecimento. Pudesse está na parede, na estante ou em qualquer lugar, lá estava eu e ele e algum pensamento perdido, me deixando taciturno e nauseabundo. Não quis ser isso, nem estar com isso. Preferi ouvir da janela o ciciar da cigarra enquanto o céu azul recaia sobre o meu rosto. Ela dizia, não só a mim, mas a todos que estavam por perto que o verão se aproximava. Só que isso lhe custava a própria vida, ou seja, estaria pocada em alguma parte da estrada no outro dia . Fui ate à calçada e tive que abaixar os olhos, evitando os feixes luminosos do sol. Eles me fizeram lembrar de O Quinze e de Vidas Secas . O relógio não me saía da cabeça e as lembranças faziam morada em mim. Vieram soltas, uma a uma. Boas ou ruins, eram coloridas, cheias de vida. Ainda na porta, ve

A pele que habita em mim

O depoimento da professora Diva Guimarães, na Flip, chama a atenção pela emoção alternada enquanto conta parte de sua história e nos diz que aprendeu o significado de racismo, preconceito aos seis anos. Assista, emocione-se, repense suas ideias.

Isso não é um filme americano

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Nesta entrevista, que se encontra no final do livro Isso não é um filme americano , Lourenço Cazarré aborda males da sociedade brasileira que estão bem enraizados e que veio com toda a força nestes últimos dias. Males como a cultura da violência, desemprego, interferência da mídia na vida dos cidadãos e o desejo de vingança. O autor fala um pouco desses temas na entrevista que segue:  A violência, tema do livro, está no centro das discussões sobre o Brasil de hoje. O que você quer dizer com a expressão "cultura da violência"? Numa sociedade em que impera a cultura da violência, as pessoas resolvem seus conflitos aos murros, na facada, à bala. É isso que se vê em muitos filmes norte-americanos. A cultura da violência impera, por exemplo, nos desenhos animados que nossas crianças assistem. Neles, as agressões são ininterruptas e gratuitas; a morte é banalizada, vulgarizada. No Brasil, a violência se expande porque - entre várias outras causas - não temos um bom s

Não sei o que fazer do que vivi

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Clarice Lispector "Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro".  Lispctor, Clarice. Paixão Segundo G.H , Record.

Em que classe de autor você se enquadra?

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Também se pode dizer que há três tipos de autores: em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. Essa classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há os que pensam enquanto escrevem. Eles pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro lugar, há os que pensaram antes de se pôr a escrever. Escrevem apenas porque pensaram. São raros. . SCHONPENHAUER, Artur. A Arte de Escrever. Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 57

Projeto Arte da Palavra

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Oscar Nakasato e Ron Perlim Estive na Uneal (Universadidade Estadual de Alagoas), em Arapiraca. Participei do projeto Arte da Palavra – Rede Sesc de Leituras, Circuito de Autores com  Oscar Nakasato (PR) e Manto Costa (RJ) para uma roda de conversas. Oscar Nakasato trouxe o tema da imigração japonesa em seu livro Nihonjin , premiado pelo Jabuti de 2012. Manto Costa em seu livro de contos Circo de Pulgas, vencedor do Edital da Biblioteca Nacional, trouxe a questão do negro na literatura e a sua invisibilidade. No decorrer da palestra muitas indagações foram feitas, os temas se entrelaçaram por alguns instantes, predominando o papel do negro na sociedade, as várias formas de preconceitos os quais estão submetidos. Manto Costa e Ron Perlim A cultura japonesa, representada por Nakasato ficou de lado, não por preconceito; mas pela intensidade e a presença do debate que a questão afrodescendente suscitou.