8 de mai. de 2024
Esse óculos foi da política
17 de mai. de 2023
A última dor da existência
Publiquei em meu blogue este artigo de opinião sobre este assunto: Os
especialistas em suicídio. Nele, critico as pessoas insensíveis e tolas que, ao invés de compreender essa condição da existência humana, preferi apedrejar como naquele episódio bíblico.
Bom seria que as pessoas lessem mais sobre este tema. Deixasse todas as amarras, especificamente as de caráter religioso. Entender que a espécie humana é doente e atrasada. Na música Onde Deus possa me ouvir, cantada por Vander Lee, ele diz:
“Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Pra entender por que se agridem
Se empurram pro abismo
Se debatem, se combatem sem saber”.
Então, é preciso sempre procurar se compreender e por em prática o sentimento de empatia.
25 de fev. de 2023
A função social do velho é lembrar e aconselhar
Ecléa Bosi |
A função social do velho é lembrar e aconselhar – memini, moneo – unir o começo e o fim, ligando o que foi e o porvir. Mas a sociedade capitalista impede a lembrança, usa o braço servil do velho e recusa seus conselhos. Sociedade que, diria Espinosa, “não merece o nome de Cidade, mas o de servidão, solidão, barbárie”, a sociedade capitalista desarma o velho mobilizando mecanismos pelos quais oprime a velhice, destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela história oficial celebrativa.
(...)
Como se realiza a opressão da velhice? De múltiplas maneiras, algumas explicitamente brutais, outras tacitamente permitidas. Oprime-se o velho por intermédio de mecanismos institucionais visíveis (a burocracia da aposentadoria e dos asilos), por mecanismos psicológicos sutis e quase invisíveis (a tutelagem, a recusa do diálogo e da reciprocidade que forçam o velho a comportamentos repetitivos e monótonos, a tolerância de má-fé que, na realidade, é banimento e discriminação), por mecanismos técnicos (as prisões e a precariedade existencial daqueles que não podem adquiri-las), por mecanismos científicos (as “pesquisas” que demonstram a incapacidade e a incompetência sociais do velho).
Que é, pois, ser velho na sociedade capitalista? É sobreviver. Sem projeto, impedindo de lembrar e de ensinar, sofrendo as advertências de um corpo que se desagrega à medida que a memória vai-se tornando cada vez mais viva, a velhice, que não existe para si mas somente para o outro. E este outro é um opressor.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. pp. 18 e 19.
Entrevista:
Iniciado em 1994, antecipando-se à promulgação do estatuto do idoso, o Programa Universidade Aberta à Terceira Idade da USP oferece semestralmente milhares de vagas aos idosos em disciplinas regulares da graduação e também em atividades especiais. Após 23 anos e 46 edições, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária presta homenagem à professora Ecléa Bosi, criadora e entusiasta da iniciativa, em nome de todos os alunos que foram beneficiados pela ação. A professora coordenou o programa até o final de 2016, quando transferiu a função para o Dr. Egídio Dorea, que já estava à frente também do programa Envelhecimento Ativo, do Hospital Universitário da USP.
Saiba mais em: http://prceu.usp.br/noticia/terceira-idade-na-usp/
15 de set. de 2022
A princesa de olhos azuis
Anastácia |
RESUMO
A Princesa de Olhos Azuis é uma história curta que conta a vida de Anastácia. Dividida em seis partes, a história nos mostra o sofrimento que a escravidão causava nos negros, como eles eram capturados, os castigos recebidos pelos senhores de engenho, como se deu a mistura das crenças, a cultura que eles trouxeram e que influenciaram a vida do brasileiro até hoje. Propriá, SE. 1997. Vídeo assistido na Escola de 1º e 2º Graus Joana de Freitas Barbosa.
A PRINCESA DE OLHOS AZUIS
ÁFRICA – 1801
Haviam tribos inimigas por todas as partes. Mas, em uma delas, havia uma festa de compromisso, uma festa de casamento. Lá estavam, entre árvores frondosas e rios claros, alegres e contentes; esperando o dia em que Ojú Urum e Ode Eby casariam. Costumes religiosos, tradições, paz e felicidade. Oxum é o padrinho, bem acolhido e glorificado.
Pegos de surpresa por tribos inimigas, a tribo de Ojú Uru é massacrada. O desespero espantava os pássaros, a morte causava dor. Não imaginavam que homens haviam atravessado o Oceano para buscar mercadorias de olhos, orelhas, pernas e mãos. Só paz e alegria reinavam em seus corações, bulia nas danças, nos rituais folclóricos. Homens súbitos, diferentes e cheios de escorbuto; invadem, massacram física e piscamente aquelas nobres pessoas. Carregavam dentro de si o racismo e outras tantas ideias pífias e medievais. Muito sangue, muita morte e destruição. Ode Eby é assassinado, esposo da princesa dos olhos azuis.
BRASIL – 1820
Ojú Uru, princesa, foi reduzida a condição de escrava. Seus olhos azuis guardavam aquele filme fétido e barbudo. Uma onda de dúvidas agitavam seu espírito e a lançava para fora em lágrimas. Aprisionada em condições inumanas, foram levados no tumbeiro para o outro lado. Um país enorme e lindo, mas não para eles. O choque das culturas os humilhariam ainda mais.
Chegando ao Brasil, são tratados como animais pretos. Olham seus dentes, dão-lhes o valor necessário. Não tinham alma. Era assim o modo de ver escravista. Em seguida, um certo fazendeiro ficou atraído pela princesa. Tinha uma postura diferente, uma placidez forte nos olhos. Além de uma beleza simples que a punha numa posição de destaque.
O fazendeiro a separou. Pagou a quantia e se foi.
NA FAZENDA
Na fazenda o padre já esperava os pagões. Era preciso batizar conforme a bula afirmativa do papa Inocêncio IV. Por ser o dia de Santo Anastácio, Ojú Uru ficou conhecida como Anastácia. Tudo estranho ia entrando em sua vida: a língua, um nome e a cor que os tornava seres para toda sorte de trabalho forçado que não está nos anais humanos. Esta é a página da História: negra e sem linhas, manchada de sangue que não se apaga jamais.
A maneira dócil de Anastácia e a energia íntima do seu ser levou os negros da senzala crerem que Olorum (deus dos deuses) enviou um princesa de olhos azuis para os confortarem.
Os feitores eram pessoas cruéis, vencidos por uma ideologia paupérrima e religiosa. Eram sem olhos. Não respeitavam a cor branca na barba dos negros, seus cabelos. Eram traços físicos expondo uma metamorfose. Para quê? Eles não entendiam, viam-nos como “animais pretos, sem alma”, segundo o papa Inocêncio IV.
NA SENZALA
Na senzala existia o sinal do catolicismo, comprovando a sua participação na escravidão, impondo uma religião à força, na marra. O objeto era escravizar a consciência negra que chorava pela África. Porém, é um catolicismo camuflado, vencido pelos orixás que governava a vida dos negros.
Um dos feitores, tendo um atrito com um negro, leva-o para o tronco. Grandemente ferido e com os lábios queimados, é levado para a senzala. Anastácia cura-o, causando espanto e murmúrio. Sua vida de santa negra surge na vida de todos. O pavor, a reverência domina-os. Aí teve início o primeiro milagre.
Intenso era o sofrimento. Muitos morriam comendo areia entre os pés de cafezais, aos pés dos seus senhores. Tal era o pesar que os conduziam a África em delírios fortes e agonizantes. Sonham, sonham...
ANASTÁCIA LIBERTA OS ESCRAVOS
Decorridos alguns dias, Anastácia é assediada pelo seu dono. Como havia falado: Anastácia não só possuía beleza íntima, mas física, despertando qualquer faísca de fogo sob a carne. Ela recusa e o feri. Sai correndo e liberta os escravos, ficando na Casa Grande. No outro dia os libertos são caçados por capitães-do-mato e Anastácia ganha uma mordaça.
Capturada as presas, Anastácia vive e se comunica por telepatia, fortalecendo-os. Na senzala, os deuses africanos foram quebrados e os deuses católicos são retirados. Neste intervalo de tempo ocorre um fenômeno que atemoriza os feitores e ao senhor de engenho. Depois, Anastácia realiza várias curas. Anastácia é afrontada por um padreco que procurava no exorcismo a fé medíocre. Ele condena-a, com toda sorte de praga; considerando-a uma bruxa. Só a morte era digna dela.
ANASTÁCIA CURA O FILHO DO SEU SENHOR
Os dias se iam. A mordaça no pescoço causou uma hedionda ferida e Anastácia ia indo embora, carregando a dor na cor na pele. Durante este intervalo de dias, o filho do seu senhor adoece do pulmão, sem cura. A senhora entra em desespero, aliás, o desespero entrou na senhora e o amor ao filho vence a fé que aprendera, o racismo e humilha-se diante de Anastácia, a quem tanto aborreceu. A raça superior encurva-se, humilha-se com clemência e perdão, pedindo que seu filho fosse salvo.
Anastácia não recuou. Curou o menino pondo suas mãos escuras sobre um corpo branco; mesclando assim as cores da gente. A mordaça é retirada e os escravos soltos. Para ele só os quilombos sobravam. Não havia espaço para eles nas cidades.
Anastácia faleceu. Primeira negra santa não popular. É considerada e respeitada em toda a Bahia. Faleceu por liberdade, vida e justiça. Os seus contemporâneos e descendente acreditam que Da Oi Vê tá no céu