Em que o Comunismo ameaça este sistema (O Capitalismo, grifo meu)? Para uma resposta clara e convincente, podemos nos voltar para um amplo estudo da Fundação Woodrow Wilson e da Associação de Planejamento Nacional intitulado Political Economy of American Foreign Policy, um livro muito importante. Foi compilado por um segmento representativo da minúscula elite que cria grande parte das políticas públicas para quem quer que esteja tecnicamente no poder. Com efeito, é o mais perto que se pode chegar de um manifesto da classe dirigente americana. Ali eles definem a principal ameaça do comunismo com sendo a transformação econômica das potências comunistas "em formas que reduzem sua disposição e capacidade de complementar as economias industrias do Ocidente". Esta é a primeira ameaça do Comunismo. O Comunismo, em resumo, reduz a disposição e a capacidade de países subdesenvolvidos de atuarem na economia capitalista mundial, como fizeram, por exemplo, as Filipinas, que desenvolveram uma economia do tipo clássico depois de 75 anos de tutela e dominação americanas. É esta doutrina que explica por que a economista britânica Joan Robinson descreve a cruzada americana contra o Comunismo com uma cruzada contra o desenvolvimento.
A ideologia de Guerra Fria e a conspiração comunista internacional atuam de forma uma forma importante, essencialmente como um dispositivo de propaganda para mobilizar apoio, em um momento histórico particular, para seu antigo empreendimento imperial. Na verdade, acredito que esta provavelmente seja a função da Guerra Fria: ela serve como mecanismo útil para os administradores da sociedade americana e suas contrapartes na União Soviética controlarem o povo em seus respectivos sistemas imperiais. Acho que a persistência da Guerra Fria pode ser explicada, em parte, por sua utilidade para os administradores dos dois grandes sistemas mundiais.
CHOMSKY, Noam. O governo no futuro. Rio de Janeiro. Record, 2007. pp. 44-45.
Entrega
de uma cópia do meu pronunciamento no fórum estadual solicitada por
Arlen Silva Brito, promotor de justiça da Comarca de Porto Real do
Colégio, Alagoas que proferi no dia 09 de julho de 2019 no Centro
Administrativo em decorrência do fatídico dia 04 do mesmo mês e
ano onde parte do Coreto que se encontra na praça Rosita de Góes
Monteiro foi demolida.
Eis
a íntegra do meu pronunciamento:
Audiência Pública
Porto Real do Colégio, 09 de
julho de 2019. Centro Administrativo (Antigo GrandeHotel)
Boa tarde!
Início a minha fala dizendo
que não sou oposição, nem situação. Me apresento como escritor,
membro do Ceculc (Centro de Cultura Colegiense) e pesquisador da
História de Porto Real do Colégio, assim como Adriano, que é
professor de História e também pesquisador.
Desde que surgiu o burburinho
de que o coreto seria removido da Pça. Rosita de Góes Monteiro, a
indignação se apoderou de parte da sociedade colegiense. E quando a
notícia se espalhou, o sentimento de rejeição foi unânime contra
tal façanha. Esse ato impensado da administração e desprezo pelo
patrimônio histórico e cultural do município resultou no dia 04 de
julho de 2019 com a destruição de parte do coreto. Esse triste
episódio certamente estará nos livros de História de Porto Real do
Colégio.
Para a destruição do coreto,
a administração usou como fundamento a reclamação de alguns
moradores daquela localidade. Segundo essas pessoas, o coreto estava
sendo usado por usuários de droga, servindo de ponto de prostituição
e sanitário. Ora, deveriam essas pessoas reivindicarem do prefeito,
primeiro: a restauração do coreto; segundo: a presença da guarda
municipal para evitar que esses usuários usassem de forma indevida o patrimônio público; terceiro: que o
município, por meio da Secretaria de Cultura (se é que ela existe)
desse uma função social ao imóvel e, não, de forma alguma, pedir
ao prefeito para que destruísse o coreto. Uma atitude impensada
dessas pessoas, uma atitude impensada do prefeito e de sua equipe que
não parou para refletir sobre esta situação. E, por fim, não há
justificativa para destruir um bem público de valor histórico e
cultural baseado em reclamações de pessoas que desconhecem a
importância do coreto que, inclusive, serve de atividade para os
professores e profissão de fé para os católicos. Infelizmente essa
atitude infeliz da administração gerou esse problema e nós estamos
aqui nesse momento para tentarmos, aliás, buscarmos uma solução
para isso. Deveria a administração ter formado o Conselho de
Preservação do Patrimônio
Histórico, Artístico, Paisagístico e Cultural, previsto
no Art.
152 da Lei
Orgânica do Município
de Porto Real do
Colégio de
1990 para
adotar medidas de defesa e valorização do patrimônio histórico,
artístico e cultural do Município.
Coreto
Os
coretossão
reconhecidos
em todo o Brasil como patrimônio histórico e cultural. O
de Colégio não é diferente dos demais. Construído
no ano de 1949 no governo de Ademário Vieira Dantas,
foi palco de muitos fatos políticos, culturais e recreativos
que marcaram aquele período.
Como disse Vinícius
Pereira “1(…)
Os coretos exerciam dupla função: recreativa, com apresentações
musicais; e políticas, através de discursos e pronunciamentos”.
O coreto de Colégio não é
um simples amontoado de tijolos, cimento e tinta. Não é um depósito
para usuário de drogas, prostituição e cagões, como se alegou de
forma impensada para sua demolição; mas memória. Memória de um
povo que nos últimos governos presenciaram seu patrimônio histórico
e cultural ser dilapidado pelo abandono e pela apropriação indevida
de particulares, políticos e afins como aconteceu com o Dique, parte
da Estação Ferroviária, Grande Hotel, a Pedra do meio e outros.
Poderia relacionar muitos
fatos que se passaram no coreto, mas escolhi apenas dois para
demonstrar como era no passado e como ele é útil no presente.
Vejamos:
No mandato do ex-prefeito
João da Rocha Cruz (1977-1982), Porto Real do Colégio recebeu a
passagem do Fogo Simbólico, ficando a pira na parte superior do
coreto onde as autoridades municipais e os representantes do Fogo
Simbólico acenderam a tocha e em seguida discursaram.
Arquivo pessoal: Neusa Magalhães.
Nos tempos atuais,
anualmente, é realizado a paixão de cristo pela juventude católica
organizada pelo Grupo da Divina Misericórdia
desde o ano de 2010.
Não só a parte superior é
usada, mas o entorno.
Via Sacra
Dias atuais
É preciso conservar o coreto
e restaurá-lo o quanto antes porque é do povo, tem História e
memória e porque está protegido pela Lei Orgânica do Município de
Porto Real do Colégio.
E esta é a proposta do
Ceculc: que o coreto seja um espaço para saraus, encontros,
apresentações musicais, atividades religiosas e outras ligadas ao
mundo cultural e artístico, como prevê os artigos 153 combinado com
o 154 da Lei Orgânica do Município de Porto Real do Colégio.
E,
por último, que se mantenha o busto de Ademário Vieira Dantas,
inaugurado no ano de 1979 já
que esta praça também se encontra em reforma.
A Av. Ademário Vieira Dantas foi uma via importante de fluxo de
caminhões
que transportavam toda a mercadoria vindo das Alagoas,
indo para Sergipe através de balsas e de lá para muitas partes do
Nordeste. O
busto do ex-prefeito é a simbologia daquele período. Ele precisa
apenas de restauração. Só isso, nada mais que isso.
SEÇÃO
II
DA
CULTURA
Art.
152º - O Poder
Público Municipal manterá um Conselho de Preservação do
Patrimônio Histórico, Artístico, Paisagístico e Cultural, órgão
colegiado com a participação de representantes de entidades da
sociedade civil, com a competência de adotar medidas para a defesa e
a valorização do patrimônio histórico, artístico e cultural do
Município.
Art.
153º - O Poder
Público Municipal, promoverá programa de criação e utilização
de equipamentos e espaços culturais de formação de público, e de
estímulo à produção artística, assegurando ampla participação
da comunidade artístico cultural local na gestão e nas decisões
dos projetos e das atividades.
Art.
154º - O Poder
Público Municipal promoverá a preservação da memória municipal e
o apoio à cultura popular, garantindo-lhe o acesso aos recursos
necessários para a livre expressão da criatividade do povo.
Art.
155º - O Poder
Público Municipal estimulará o desenvolvimento das ciências, das
letras e das artes, incentivará a pesquisa e o ensino científico e
tecnológico, amparará a cultura e protegerá de modo especial os
documentos, as obras e os locais de valor histórico ou artístico os
movimentos e as paisagens naturais notáveis.
Art.
156º - Lei
Complementar disporá sobre a proteção do patrimônio histórico,
artístico, cultural e paisagístico do povo de Porto Real do
Colégio, estabelecendo as condições de uso e de desfrute dos bens
que o integram, bem como instituindo mecanismos de controle quanto ao
tombamento, preservação e à guarda.
Art.
157º - Observado o
que dispuser a Legislação Federal e Estadual, serão punidos todos
os danos e ameaças ao patrimônio cultural da comunidade.
Em um de seus livros, Plínio de Arruda Sampaio disse que [1]há dois tipos de corrupção, a grande e a pequena; mas que as duas são igualmente perniciosas e imorais, mas que não podem ser combatidas da mesma maneira.
A grande corrupção, mencionada por Plínio, é a que aparece no estardalhaço midiático envolvendo governos federal, municipal, estadual, distrital, políticos, servidores, particulares e heróis que não são de gibis, mas dos que somente enxergam a corrupção do outro.
Não é objeto deste artigo destaca-la, pois, a grande mídia se encarrega de fazê-la; utilizando-se da opressão publicitária, mexendo com os sentimentos alheios, fazendo muita gente acreditar em meias verdades. Foi assim com Lula, a prisão coercitiva e agora com a pirotecnia do powerpoint de Dallagnol.
Irei, no entanto, me ocupar da pequena corrupção, especificamente aquela que está entrelaçada ao contexto eleitoral, seja em campanhas ou em mandatos. Ela é ignorada pela grande mídia, pelo Judiciário e pelas instituições. Ignorada porque nada se faz de forma efetiva e eficaz para combatê-la.
Eu costumo chamar a pequena corrupção de comércio eleitoral. Ela é a espinha dorsal da grande corrupção, isto é, o que se pratica nos municípios do nosso país, de forma intensa ou não. Ele é caracterizado pela troca de voto por bens tangíveis (espécie de escambo), intangíveis (favores) e pela compra de voto (quando o eleitor prefere em espécie). Em minha escrita costumeiramente denomino esse conjunto de comércio eleitoral. Muitos justificam essa prática alegando que “o erro já vem de Brasília”, esquecendo-se que os que estão em Brasília não são eleitos por si.
É necessário que aqueles que queiram mudança procurem compreender o funcionamento do sistema, deixando de lado as ácidas críticas que para nada servem, e servem: para distanciar cada vez mais o cidadão de exercer os seus direitos políticos e dar espaço para coisas que acontecerem este ano, por exemplo, o dia 17 de abril.
Precisa o eleitor brasileiro fazer uma releitura da forma como o político é eleito. E essa releitura deve ser feita partindo do comércio eleitoral de base. Não é revoltando-se, esquivando-se que a coisa vai mudar. Não é discriminalizar a política, partidos, pessoas que as coisas serão resolvidas.
Precisa acabar com essa mania de enxergar a Política a partir das tribunas, das matérias de jornais, revistas, blogs e outros meios; fazendo dela inimiga da sociedade. É necessário conhecê-la na prática para que não se dê espaço para regimes ditatoriais e fascistas.
A mudança tem que vir da base e a base são os municípios, matrizes de todos os candidatos. E o que é que precisa ser mudado? As pessoas. Estas precisam mudar a forma de escolher. Enquanto essa mudança não acontece, as páginas impressas e online sempre trarão a prática da corrupção para as nossas vidas, expondo como muitos dos eleitos tratam-na com naturalidade e o povo com desdém.
É preciso espalhar uma maneira nova de pensar a política, não a partir do que nos oferece a grande mídia e os seus interesses escusos, mas a partir da realidade de cada município. Enquanto isso não acontece, é ilusão achar que “Todo poder emana do povo”.
Tenho lido com certo desconforto “especialistas” que aparecem nas redes criticando de forma agressiva e desumana pessoas que cometeram suicídio ou estão depressivas.
Pessoas que se comportam dessa forma são insensíveis, tolas, prepotentes. Não desenvolveram a empatia, nem fizeram leituras aprofundadas dessa melancólica condição humana.
Ninguém é suicida de um dia para o outro. Tudo tem uma origem, um meio e um fim. As causas que levam uma pessoa ao suicídio são complexas, envolvem muitos aspectos da história psicossocial dela.
Quando você ouvir ou ler coisas negativas tratando desse assunto, não seja um ventríloquo, nem dê importância para elas. O melhor caminho é compreender. E só se compreende estudando, perguntando a quem de fato se dedica ao tema.
Eu, que não sou especialista, nem me atrevo a ser nas redes; li a Inteligência Multifocal do Dr. Augusto Cury e ampliei o meu entendimento sobre o suicida. As pessoas que se acham, que se sentem uma fortaleza, que vociferam sobre isso; deveriam pousar suas línguas, seus pensamentos. Refletir sempre é bom para a alma e o corpo.
Desde jovem, ouço críticas ácidas sobre os políticos. Essas críticas, com o passar dos anos, suscitou sentimentos de aversão e até ódio sobre aqueles que praticavam e viviam na política. Elas viam de cima para baixo e como a maioria dos brasileiros, estava cansado, revoltado e com sede de justiça.
Eu fui um jovem que sempre busquei compreender as coisas e Sofia me ajudou bastante nisso. Então, me debrucei sobre os livros. Queria respostas para as minhas dúvidas, os meus sentimentos; mas eles não me satisfizeram. Era preciso participar da política para saber como ela funcionava. E compreender, principalmente, por que políticos com vida pregressa maculada se perpetuam no poder
Nessa busca, compreendi que o nosso sistema político é um sistema de cumplicidade. É cúmplice o eleitor quando mercadeja o voto. É cúmplice o político quando aceita essa condição ou a impõe. O voto, nesse sistema, não cumpre sua função social, não elege políticos. Não passa de uma simples mercadoria. Nele, não dar para indigitar culpados, nem inocentes se levarmos em conta o modo como foram educados, a origem de cada um.
No cotidiano politico, defino esse sistema de comércio eleitoral, que nada mais é que mercadejar o voto. Pouco se fala nele, seja por ignorância ou má-fé. Ele pode ser dividido em compra e venda de voto; favores e financiamento. A sua prática é comum e visível em todos os municípios deste país. O Congresso é apenas a dimensão de tudo isso em situações muito mais complexas.
O sistema é péssimo, pois, abriu e abre espaço para que todo tipo de gente chegue ao poder. Ele facilita e pari a corrupção. Nesse sistema, o político acusa o eleitor de vender o voto e o eleitor acusa o político de não fazer nada por ele. E nisso, nosso país vive procriando políticos de toda espécie. Exemplo disso é o que estamos vivenciando em nossos dias.
Sei que, enquanto só se apontam os erros das tribunas e não se buscam mecanismos efetivos que sirvam de contraponto na reeducação política de nossas crianças, é tolo quem acredita em mudanças significantes nesta república ou que operações como a Lava Jato passará o país a limpo. Tudo bobagem! Tudo engodo!
É preciso entender uma coisa: políticos não são eleitos por si. É isso que se deve discutir. É isso que crianças, adolescentes e jovens devem compreender. Sem essa compreensão, o sistema permanecerá como se acha, camuflando-se de democracia.
Em vez de empaturrarem as redes de picuinhas, links e discursos fascistas ou se tornando papagaios midiáticos para descriminalizar a política e demonizar pessoas, deveriam abrir espaço para a discussão do sistema de cumplicidade. É ele que precisa ser combatido com veemência. No dia que a sociedade passar a discuti-lo e criar mecanismos de enfrentamento contra esse sistema, muita coisa mudará neste país.
Por falta dessa discussão, o que se ver é o saudosismo militar, a extrema direita tomando folego, os partidos atolados em escândalos, os movimentos sociais lutando para que as conquistas sociais não sejam retiradas. Mas nenhum desses discutem o sistema de cumplicidade, não propõe o combate a corrupção de base, matriz de todas as outras corrupções. Preferem a passividade. Preferem ser ventríloquo, preferem enxergar a corrupção do outro. Ilude-se quem acha que o problema da corrupção do nosso país seja exclusivo de políticos ou de partidos.
E concluo com esta questão: se os candidatos, que não são eleitos por si, fossem eleitos sem a prática do comércio eleitoral, a maioria dos nossos políticos seriam honestos e qualificados? Acredito que sim.