O escritor Ron Perlim esteve presente no Centro de Cultura Maria Conceição Nunes, localizado na cidade de Cedro de São João, Sergipe para a noite de lançamento da 2ª reimpressão do livro Chico, o Velho e um bate-papo com o professor de História e pesquisador Eribaldo Vieira de Melo (Badinho).
Marcléa O. R. de Lima
A abertura do evento foi feito pela a esposa do autor, Marcléa O. R. de Lima que leu uma nota biográfica de Ron Perlim, convidando-o para fazer parte do bate-papo e em seguida o professor Badinho.
Ron Perllim e Badinho
O bate-papo iniciou com a pergunta sobre quando o escritor teve gosto pela leitura.
Ron Perlim disse que, por ter quebrado o braço e não poder estar como amigos fazendo travessuras, passa a maior parte do tempo em casaa e por isso, lia bastante; mas o livro que o marcou foi o Caso da Borboleta Atíria, de Lúcia Machado de Almeida.
Depois dessa leitura, não parou mais.
O autor também discorreu sobre outros livros de sua autoria e após o bate-papo houve a sessão de autógrafos.
O escritor Ron Perlim esteve na Bienal do Livro de Alagoas nos dias 19 e 20 de agosto de 2023.
No dia 19 circulou entre os estandes. Era uma explosão de gente, de livros e atrações. A primeira coisa que o encantou foi a árvore do livro. Ela paria fotos e mais fotos. Quase não havia espaço para tirá-las.
No outro outro dia, data marcada para o lançamento de Chico, O Velho; Ron Perlim foi ao estande da Secult (Secretaria Estadual de Cultura de Alagoas/Biblioteca Estadual Graciliano Ramos) e lá aguardou alguns minutos.
Iniciou sua fala agradecendo a importância do evento, a Secult pela oportunidade de está ali.
Em seguida, discorreu sobre seu livro: disse para os ouvintes que Chico, O Velho, narra a história do Rio São Francisco e de Artur, Germano e Alberto. Que a angústia de ver o rio perecer tico a tico era vista neles.
Encerrado a exposição, o autor autografou exemplares, despediu-se e circulou com a sua família pelo Centro de Convenções, reviu amigos escritores e celebrou com eles a alegria do livro.
Denízia estreou na Literatura com seu primeiro
livro de Contos Kariri-Xocó. Um livro que enriquece a causa indígena pela forma
como se conta o cotidiano e o modo de a comunidade Kariri-Xocó entender a vida,
desde a invasão até os dias de hoje.
De lá pra cá, ela continua nessa labuta: divulgar a
cultura dos povos originários e sua luta, usando um dos meios mais agradáveis,
pelo menos para mim, que é o uso da palavra.
Conheço Denízia e vê-la lançar mais um livro sobre
o seu povo, conterrâneo meu, é uma satisfação grande. Também leva o nome de
nossa cidade, Porto Real do Colégio, para outros espaços.
Denízia, além de escritora, é pedagoga, advogada e
uma lutadora pela causa indígena. Há 10 anos compartilha o cotidiano indígena
ao público infarto-juvenil. O lançamento do livro acontecerá nesta
quarta-feira, 10 de maio no Shopping Jardins.
Segundo a Infonet:
“Seu terceiro livro da coleção Kariri Xocó – Contos Indígenas serão
apresentados para o público sergipano. O evento acontecerá às 14 horas,
em frente à Livraria Escariz e, além da presença da autora, contará com
apresentação cultural de cantos indígenas feita por integrantes da comunidade
Fulkaxó, do munícipio sergipano de Pacatuba”.
Ainda segundo esse mesmo portal
o livro é uma coleção que “(...) traz aspectos da educação indígena e da
educação escolar indígena e, de forma simples, seus contos e cantos retratam
aspectos culturais que envolvem os povos Kariri Xocó, Fulni-ô e Fulkaxó. Com
personagens criados pela autora, que representam as pessoas da comunidade, vão
surgindo os relatos da vida desses povos. Questões como o acesso à tecnologia,
o desenvolvimento da consciência e do ativismo político, o processo de cura e
demais temas ligados à cultura vão se revelando, trazendo conhecimento e
desmistificando conceitos arraigados na sociedade não indígena. As obras
proporcionam uma leitura gostosa e sadia a crianças, adolescentes e também a
jovens e adultos, encantando a todos com suas histórias”.
(…) Em 1922, em pleno coração da aventura modernista, um grupo de
católicos renovadores chefiados no Rio pelo sergipano Jackson de
Figueiredo funda o Centro Dom Vital, entidade que tem como eminência
parda o arcebispo do Rio de Janeiro, d. Sebastião Leme Cintra, e que
expressa suas teses nas páginas da rabugenta 1A
ordem, revista mensal que se
torna uma espécie de bíblia na nova igreja. O grupo se opõe a
Oswald de Andrade, Mário de Andrade e sua trupe de modernistas,
lançados por ele no balaio comum e insensato dos “esquerdistas
disfarçados de vanguardistas”. E não esconde suas flagrantes
simpatias pelo nascimento do fascismo (…).
(…)
Jackson de Figueiredo
Martins, rapaz agitado e furioso nascido em1891, em Aracaju, morreu
precocemente aos 37 anos, em 1928, e foi o mais virulento e dramático
pensador católico do país no início do século. Influenciado pelas
ideias de Blaise Pascoal – filósofo cujas ideias digeriu do modo
que bem entendeu, usando seus textos mais como tábuas de um
mandamento que como estímulo a reflexão –, Jackson de Figueiredo
se converte ao catolicismo em 1918. Logo começa a escrever
compulsivamente. Seus artigos pregam, em essência, o primado da vida
sobre a ortodoxia cristã.
O que a princípio pode parecer uma ideia estimulante, a primazia da
vida em detrimento da rigidez espiritual, na mente de Jackson de
Figueiredo se transforma numa construção ortodoxa ainda mais cruel.
Jackson de Figueiredo pensa que a religião deve deixar de ser apenas
um dogma a ser adotado e praticado nos rituais de fé, para se tornar
antes de tudo “uma maneira de viver”. Deve ser introjetada como
um conjunto de normas impiedosas que regem cada ato do indivíduo.
Jackson de Figueiredo quer integrar natural e sobrenatural. Acredita
no poder da razão para promover esse casamento, bastando para isso
que o homem use raciocínios de ferro para dominar os instintos
baixos da carne e a miséria da condição humana. Torna-se um homem
severo, que preza a rigidez hierárquica, defende o respeito
meticuloso à ordem e à tradição e chega a exercer o posto de
“censor de imprensa” durante o governo Artur Bernardes.
CASTELLO,
José. Vinícius de
Moraes: o poeta da paixão.Uma biografia.
São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p.71;75.
1A
Ordem, revista católica
fundada pelo pensador sergipano Jackson de Figueiredo (nota de
rodapé).
A função social do velho é lembrar e aconselhar – memini, moneo – unir o começo e o fim,
ligando o que foi e o porvir. Mas a sociedade capitalista impede a lembrança,
usa o braço servil do velho e recusa seus conselhos. Sociedade que, diria
Espinosa, “não merece o nome de Cidade, mas o de servidão, solidão, barbárie”,
a sociedade capitalista desarma o velho mobilizando mecanismos pelos quais
oprime a velhice, destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela
história oficial celebrativa.
(...)
Como se realiza a opressão da velhice? De múltiplas
maneiras, algumas explicitamente brutais, outras tacitamente permitidas.
Oprime-se o velho por intermédio de mecanismos institucionais visíveis (a
burocracia da aposentadoria e dos asilos), por mecanismos psicológicos sutis e
quase invisíveis (a tutelagem, a recusa do diálogo e da reciprocidade que
forçam o velho a comportamentos repetitivos e monótonos, a tolerância de má-fé
que, na realidade, é banimento e discriminação), por mecanismos técnicos (as
prisões e a precariedade existencial daqueles que não podem adquiri-las), por
mecanismos científicos (as “pesquisas” que demonstram a incapacidade e a
incompetência sociais do velho).
Que é, pois, ser velho na sociedade capitalista? É sobreviver.
Sem projeto, impedindo de lembrar e de ensinar, sofrendo as advertências de um
corpo que se desagrega à medida que a memória vai-se tornando cada vez mais
viva, a velhice, que não existe para si mas somente para o outro. E este outro
é um opressor.
BOSI, Ecléa. Memória
e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. pp.
18 e 19.
Entrevista:
Iniciado em 1994, antecipando-se à promulgação do
estatuto do idoso, o Programa Universidade Aberta à Terceira Idade da USP
oferece semestralmente milhares de vagas aos idosos em disciplinas regulares da
graduação e também em atividades especiais. Após 23 anos e 46 edições, a
Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária presta homenagem à professora
Ecléa Bosi, criadora e entusiasta da iniciativa, em nome de todos os alunos que
foram beneficiados pela ação. A professora coordenou o programa até o final de
2016, quando transferiu a função para o Dr. Egídio Dorea, que já estava à
frente também do programa Envelhecimento Ativo, do Hospital Universitário da
USP.
Iniciaremos a nossa palestra compreendendo o
conceito de Baixo São Francisco, não na divisão do CBHSF (Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio São Francisco), mas na administrativa dos estados de Alagoas e Sergipe,
pois, esta divisão leva em conta características políticas, geográficas e
culturais.
Nascer e se criar numa região desta, onde há
predomínio da pobreza não é fácil, muito menos em pensar na publicação de
livros e na venda deles, mesmo diante de tanta tecnologia e facilidade. Quando
iniciei a minha escrita, ouvia muitas coisas: “coisa de pobre”, “quer ser
intelectual”, “também tenho coisas escritas”, “foi você mesmo que escreveu?” e
por aí vai. A maioria vinha com desestímulo, mas foram coisas que nunca me
abateram, muito menos me fez desistir.
Tem gente que escreve para doar os livros para amigos e parentes que,
muitas das vezes nem leem. Eu nunca escrevi um livro com esse objetivo, mas com
a intenção de venda. Não é pelo valor, não é por mesquinhez; é pela
valorização, trabalho e também em protesto a uma ideia tola que o escritor
ribeirinho tem que doar seus livros em detrimento dos outros. Também porque ser
escritor é uma profissão, como outra qualquer (CBO 2615-15).
Aqui, lembro-me que certa vez fui oferecer um livro
de prosa poética, que se chama Agonia Urbana para uma professora e ela me
respondeu, dizendo: “Eu leio Drummond, Cecília, Mário Quintana e outros que há
na escola”, desdenhando. É claro que não era obrigada a mim comprar o livro,
mas veja como se deu o caso. Eu olhei para ela, ri e sai. Nesse mesmo ano,
ganho o prêmio Alina Paim; promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de
Sergipe. Aquela professora, ao me ver, ficou descabreada; pois sabia da
premiação.
Nem por isso eu desisti de vender os meus livros,
nem de escrever, nem de oferecê-los. Segui meu caminho literário.
Publicar em nossa região não é fácil. Geralmente a
baixa autoestima desestimula e muitos desistem, alegando múltiplas razões, as
mais conhecidas são: desvalorização e a falta de tempo. Além disso, não
há na região; por parte do setor público o interesse em promover esse tipo de
atividade tão nobre, transformadora quando bem compreendido porque não mais se
acredita nos jovens e crianças.
Ser escritor no Baixo São Francisco, dependendo do
que se escreve, não é somente encantamento e orgulho para os seus; pode se
tornar desagradável. E para isso irei citar como exemplo três livros, de minha
autoria, que deixou pessoas incomodadas: Laura,
que é uma novela infanto-juvenil que recria os contos da região, incomodou uma
ex-professora minha que ao lê-lo e me encontrar na rua disse: “Não tem vergonha
de escrever uma coisa daquelas sobre a igreja”, aí ela se referiu à lenda da
Mula-sem-cabeça; o segundo foi o livro Viu
o home? Onde abordo a dinâmica eleitoral que acontece todos os dias com ou
sem eleição. Teve gente que riu, teve gente que criticou; não uma crítica
literária, mas porque se viu em muitas das personagens já que o livro trata da
compra e venda de votos.
O escritor no Baixo São Francisco para ser publicado
na maioria das vezes paga do seu próprio bolso, de forma independente ou
através de editora prestadora de serviços. Raramente se vê o governo municipal
ou a iniciativa privada fazer isso. Conheço um cordelista de uma cidade próxima
que, na noite de lançamento dos seus cordéis, se viu obrigado a doar seus
livretos porque os seus convidados ele estava a doar. Por isso, não se deve
manter o ato de doar seu trabalho. Quando se faz isso, mantém-se o vício, o
desestímulo e a vaidade de muitos que querem apenas a pecha de “intelectuais”,
estarem em alguma academia e aparecer.