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A Carne mais barata do Brasil

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( Pobres e os ossos. Por Duke .) Dormi de barriga vazia  e acordei com fome.  Levantei e fui até a cozinha;  procurei por comida no armário…  estava vazio,  Abri a geladeira, não tinha nada  Só gelo, só gelo.  Decidi sair e fui até o comércio  Saí de mãos vazias,  Igual eu vim ao mundo,  De mãos abanando.  Eu passei pela rua do açougue  e vi escrito em letras grandes  "A carne mais barata do mercado é a carne pobre"  Uma paráfrase, uma paródia?  Não consegui lembrar;  Estava faminto, tremendo  Nervoso, já quase desmaiando.  Mas fiquei surpreso com a fila de gente  Pensei: Esse povo todo pra comprar carne?  Eu estava enganado. Eles não foram comprar,  Foram pedir, assim como eu;  Estavam famintos, passando mal  Estavam envergonhados, constrangidos;  Mas a fome que é obscena  Já dizia um pensador...   Se era pra eu sentir vergonha, não senti;  Diante de tanta gente na mesma desgraça  Eu senti foi medo e quase caí em desespero  E se não sobrar pra mim?  E se não sobrar pra mim?

Barco de Pescador

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Estava às margens do rio, eu e tantos outros. Enquanto a lancha passava com poucos passageiros, a brisa nos tocava. O ambulante, numa galinhota, se aproxima. A castanha de caju estava com uma boa aparência. Degustei uma delas e comprei uma porção. Ele saiu pela beirada do rio e ninguém mais comprou. Homens retiravam orelhas de burro com um gadanho. Elas impediam que os clientes do bar tomassem banho. Chico, o Velho, não descansa. Cheio de dores e hematomas, segue humilhado seu curso; mas se mantém firme. Seus filhos precisam dele. Nisso, um barco com dois jovens se aproxima, atraca na beira do rio. O último, a espiar as garotas, ficou com o leme, e o outro próximo a proa, espiava algo no celular. Uma garotinha saiu correndo do barraco disforme, feito de madeira e palha, foi até a canoa, comprou um pacote de algodão doce e voltou na mesma velocidade. Aquele barco que andou cheio de peixes olhou triste, demorou uns dez minutos e saiu aos poucos pela beirada a procura de clientes mirins p

Aquela professora

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Morria de dor de ouvido. Pálida, inquieta, não teve alguém que soubesse de alguma erva medicinal ou algum fitoterápico. Sem aguentar as dores, correu para os braços do vereador Abreu. Este, quando a viu, fez cara feia. Mesmo assim teve o prazer em ouvi-la dizer: — Abreu, você pode me levar até a unidade de saúde. Tô apulso! Ele, raivoso, olhou para a cara dela. O não chegou até a ponta da língua, recolhendo-se assim que pensou na quantidade de votos da família de Sandra.  A possibilidade de ela ficar lhe devendo favor era muito grande e um motivo para passar na cara, caso precisasse. Abreu foi ao quarto, vestiu uma camisa, balbuciou alguma coisa para a mulher, que não estava de cara boa, e trouxe a professora para a cidade. Ao chegar, deixou-a para ser atendida e saiu insatisfeito. Poderia estar com a sua caçula nesse momento, pensou. Na rua, encontrou com uma conhecida e lhe disse: — Você acredita que eu tive que sair de casa para trazer a professora Sandra para a unidade de