O Rio de assoreamentos

Muitos foram os textos publicados. Alguns técnicos outros não. Há, também, os textos inéditos, baços nos olhos e na língua do povo simples que vive do Velho Chico e dele depende.
 
Não serei mais um a escrever um texto contendo dados de uma instituição ou baseando-se em algum estudioso. Não há muita necessidade de conhecimento científico para compreender que o Chico, com a sua pouca água, estar se tornando um miserável nacional; agravando mais ainda a vida dos ribeirinhos.
 
Este texto possui a melancolia, o pesar e a dor de todos os cidadãos ribeirinhos e aqueles que possuem consciência ambiental. No entanto, darei ênfase no trajeto  da cidade de São Brás até a divisa do estado de Alagoas com Sergipe por meio da ponte rodoferroviária. Nesse trecho, nota-se com bastante amargura que a Transposição sem revitalização é uma insanidade política e grosseira. Um feito megalomaníaco, típico de pessoas sem escrúpulo e que fazem de tudo para saciar os seus umbigos.
 
Todas às vezes que vou a cidade de Propriá, seja de lancha ou de automóvel, os meus olhos se enchem de melancolia. Diante das minhas íris percebo ilhas que não fazem parte da minha infância e outras que surgem no corpo do rio como o câncer. Sinto um aperto dentro de mim e imagino que posso alcançar os mais pobres suplicando um copo d'água, os canalhas da política tirando proveito de uma situação miserável e o caos da dor.
 
É lamentável presenciarmos a grande, enorme croa que se formou sob a ponte Propriá-Colégio sem que a indignação tomasse posse de nossas almas. Quantas vezes não ouço dos pescadores quando estes se referem ao passado de muitos peixes, da fartura e que; nos dias presentes, lhes faltam a esperança porque a força do Rio está fraca. Também fazem lembrar das grandes enchentes que inundavam as ruas da minha pequena Colégio.
 
Os tempos para o velho Chico mudaram para pior. Como a maioria dos idosos, o Chico esta sendo violentado pela ganância e estupidez de homens tolos e insensatos que não medem esforços para realizar seus projetos pessoais, políticos e financeiros. Esses míseros que só se importam consigo.
 
Visitar o trecho de São Brás a ponte Propriá- Colégio, o visitante entenderá com maior clareza o que essas palavras querem dizer; até porque será visto em várias partes desse trecho enormes coroas e a formação de outras, dividindo o que antes era indivisível.
 
O assoreamento, esta maldita doença fluvial, pouco a pouco sepulta o Velho Chico e com ele as carrancas, os nêgos e mães d´água, os peixes e os seus pescadores, os banhos e os banhistas, as lanchas e os lancheiros. Levará para  a sepultura as várias e muitas estórias dos seus amantes e frequentadores, ficando apenas as lembranças de suas enchentes, do banho suave e gostoso de verão que só o ribeirinho sabe saborear, desfrutar e valorizar.
 
Se os ribeirinhos tem orgulho de dizer que o Chico é o “Rio da Unidade Nacional”, eles têm agora pesar em lhe chamar de “Rio dos Assoreamentos” porque eles (os assoreamentos) surgem como o câncer.
Texto publicado na Tribuna da Praia em 18/03/2008.

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